Angústia | Graciliano Ramos

Angústia | Graciliano Ramos

Angústia | Graciliano RamosA obra de Graciliano Ramos é composta por alguns ingredientes básicos. São observações colhidas de sua vivência pessoal, marcada pela paisagem nordestina, pela rudeza com que enfrenta a arte de escrever e pela severa disciplina que ele próprio se impõe; são os registros da paixão com que analisa os aspectos interiores dos homens e mais, é o equilíbrio profundo que se instaura entre a investigação psicológica e a situação social dos personagens. Ao tematizar o homem e sua desestruturação acaba por trazer uma espécie primitiva, muitas vezes indiferente aos acontecimentos que o cercam, quase um autômato a viver grotescamente como animal.

É nessa linha de análise que podemos inserir o segundo dos principais romances do escritor alagoano. Angústia contrapõe o homem irracional, direcionado pelos instintos, ao homem social em busca e na defesa incessante de valores pequeno- burgueses; por fim, resta a consciência que o homem tem de que a realidade é bastante diferente do que ele pretendia. Narrado em primeira pessoa, Luís da Silva, o protagonista, vive mediocremente, engaveta escritos, não progride nem em sua vida profissional, carregando o fardo de ser um reles funcionário público, nem em sua vida afetiva, mantendo um noivado prolongado pela falta de condições para a efetivação do casamento. Marina, a noiva, acaba se envolvendo com Julião Tavares, verme escorregadio, rico, gordo, vermelho e suado. Ao perceber os fatos que o rodeiam, Luís da Silva vive um clima de pesadelo. Impossibilitado de conviver com sua rotina sem novidades e desmotivada, passa a conviver com um crescente ciúme que cada vez mais o impele ao crime. Nesse clima de angústia, registrado magistralmente pela pena de Graciliano, coincidem prisões interiores, marcadas pela vivência pessoal do personagem narrador e o mal-estar de sobreviver em uma sociedade da qual se sente expelido. Oprimido pelos acontecimentos, Luís da Silva persegue seu rival, que andava às voltas com nova amante. Gradativamente amplia-se seu drama interior, sente-se metade, diminuído diante da prepotência de Julião Tavares e, enquanto a angústia o alucina, não tem condições de raciocinar claramente, mas percebe que não há outra saída a não ser o crime. Nas últimas páginas do romance, após ter cometido o crime, Luís da Silva imerge em uma angustiante crise psicológica que o comprime e faz dele um ser alucinado e preso a um mundo em que as portas se fecham e não existem saídas.

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