Os Miseráveis | Victor Hugo

Os Miseráveis | Victor Hugo

Os miseráveis | Victor Hugo"João Valjean achava-se pois no esgoto de Paris.

Outra semelhança de Paris com o mar. Como no oceano, o mergulhador pode nele desaparecer.


A transição era inaudita. João Valjean saíra da cidade mesmo no meio dela e, num abrir e fechar de olhos, no tempo de levantar e abaixar uma tampa, passara da luz do dia para a completa escuridão, do meio-dia para a meia-noite, do tumulto para o silêncio, do turbilhão dos trovões para a estagnação do túmulo; e, por uma peripécia muito mais prodigiosa ainda do que a da rua de Polonceau, do extremo perigo para a segurança absoluta.


Permaneceu alguns segundos como atordoado, estupefato. A bondade celeste tinha-o, de certo modo, surpreendido por traição.


Adoráveis emboscadas da Providência!


Mas o ferido não fazia o mínimo movimento, e João Valjean não sabia se o que então levava às costas era Mário ou um cadáver.


A sua primeira sensação foi a cegueira. Repentinamente, deixou de ver. Pareceu-lhe que num minuto ensurdecera. Não ouvir já coisa alguma. A frenética e homicida tempestade que se desencadeava alguns metros acima dele não lhe chegava, como já dissemos, ao ouvido, senão muito confusamente, e como um rumor saído de uma profundidade graças à espessura de terra que o separava dela.


Adiantou com precaução um pé, temendo que se lhe deparasse um buraco, desaguadouro ou um abismo; e convenceu-se de que o lajedo se prolongava. Contudo, podia-se penetrar naquela muralha de nevoeiro, e forçoso era fazê-lo. João Valjean lembrou-se de que a grade, descoberta por ele debaixo das pedras, podia-o ser também pelos soldados e que tudo dependia de um tal acaso. Podiam também descer ao cano e revistá-lo. Não havia um minuto a perder. Depusera Mário no chão, tornou a pô-lo às costas e meteu-se ao caminho. Entrou resolutamente naquela escuridão."


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