Os Dez Mandamentos
Os Dez Mandamentos são o documento revelado por Deus a Moisés no monte Sinai, conforme a tradição judaico-cristã. Pela aliança que se estabeleceu então entre Deus e os judeus, estes se comprometeram a observar os mandamentos e, como recompensa, seriam conduzidos à terra prometida. Os dez mandamentos - cujo texto se encontra, com variações mínimas, nos livros bíblicos do Êxodo e Deuteronômio - estavam inscritos em duas tábuas: deveres para com Deus e deveres para com o próximo, que guardam, no entanto, um equilíbrio entre o religioso e o social na conduta humana. Deus assume como ofensa a ele dirigida a injustiça cometida contra o próximo.

Moisés, ao formular os dez mandamentos, foi sem dúvida influenciado por uma sabedoria humana já existente nas religiões do Oriente Médio antigo, principalmente no Egito de seu tempo. O Livro dos mortos, por exemplo, que orientava os egípcios em sua viagem para o além, interrogava o defunto sobre deveres semelhantes aos que aparecem no decálogo. Ao conduzir Israel à liberdade, Moisés teve uma experiência religiosa singular, em consonância com a fé dos patriarcas. Como Abraão, sentiu a exigência religiosa e moral como um convite íntimo de Deus para a felicidade pessoal e coletiva, pelos caminhos da vontade divina. Para os profetas, esse convite dirigido a um povo é virtualmente universal (Is 2:1-5) e será sentido em cada coração humano (Jr 31:31-34).
O livro do Êxodo indica, em várias ocasiões, o número dez para os mandamentos do Sinai. Judeus, católicos, ortodoxos e protestantes conservam esse número e aceitam o conteúdo do texto bíblico, mas resumem-no e enumeram-no de forma diferente. Para os judeus, o prólogo "Eu sou Iavé, teu Deus..." constitui o primeiro mandamento; o segundo encerra a proibição de adorar outros deuses e de idolatria. Católicos e luteranos aceitam os dois anteriores como um só e dividem como nono e décimo a cobiça da mulher e dos bens alheios. Os ortodoxos e protestantes de tradição calvinista aproximam-se da versão judaica: o prólogo e a proibição de adorar a outros deuses é um mandamento e a condenação da idolatria outro.
Embora censurasse o legalismo autossuficiente dos fariseus, Jesus assumiu a lei antiga: "Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los mas dar-lhes pleno cumprimento." (Mt 5:17). A plenitude da Lei e dos Profetas é o amor de Deus e do próximo (Mt 22:35-40), que é o dom de Deus por excelência (Rm 5:5). Nas igrejas cristãs, o decálogo, núcleo da lei antiga, tem sido usado como instrumento pedagógico na formação da consciência religiosa e moral. Santo Agostinho introduziu o decálogo nos ensinamentos para o batismo. No século XIV, o decálogo foi compilado nos manuais para a confissão. Protestantes e católicos incluem-no nos catecismos para a juventude; e os anglicanos, no serviço da comunhão.