O Processo | Franz Kafka

O Processo | Franz Kafka

O Processo | Franz Kafka"K. transferiu-se em seguida à casa do pintor, que vivia em um subúrbio da cidade situado em um lugar completamente oposto àquele em que estavam as secretarias dos tribunais. O bairro era ainda mais pobre do que aquele, as casas ainda mais sombrias, as ruas cheias de sujeira, que lentamente era levada daqui para lá pela neve derretida. Na casa em que vivia o pintor, apenas uma das folhas do grande portal estava aberta; na parede que correspondia à outra se tinha feito um buraco do qual, exatamente no momento em que K. se aproximava, minou um líquido repugnante, amarelento, fumegante, que fez com que algumas ratazanas assustadas fugissem para o regato próximo. Ao pé da escada estava deitado com a boca para baixo um menino que chorava aos gritos, mas mal se podia ouvi-lo devido ao ruído ensurdecedor que provinha de uma oficina de funilaria situada no outro lado do corredor da entrada. 

A porta da oficina estava aberta; três operários de pé e dispostos em semicírculo trabalhavam em alguma peça que não cessavam de golpear fortemente com seus martelos. Uma grande chapa de folha de lata pendurada da parede atirava uma luz pálida através do espaço que ficava entre os corpos dos operários aos quais lhes iluminava o rosto e os aventais de trabalho. K. concedeu a todo este quadro uma rápida olhada; queria ficar livre o mais depressa possível, falar tão-somente umas poucas palavras com o pintor para voltar logo ao banco. Por mais insignificante que fosse o êxito que alcançassem suas gestões com o pintor, isso bastaria para influir sobre a disposição com que voltaria a realizar o seu trabalho no banco. Ao chegar ao terceiro andar teve que diminuir o passo. Era-lhe muito difícil respirar; a escada era muito empinada, os andares desmedidamente altos, e o pintor devia viver certamente na água-furtada da casa."

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