Alguns poemas | Caio Valério Catulo


Vivamos, Lesbia minha, e amemos,
e às maledicencias dos velhos alcoviteiros
demos-lhes menos importância que a um cêntimo.
Os astros podem morrer e nascer;
mas nós, depois que se extinga a nossa fugaz luz,
dormiremos uma última noite eterna.
Dá-me pois, mil beijos, a seguir cem mil;
e a seguir outros mil, e ainda outros cem mil;
imediatamente a seguir outros mil, e por fim mais cem mil.
Despois, feitos já muitíssimos males aos nossos corações,
guardemo-los bem guardados, para que fiquem só entre nós,
e nenhum invejoso possa vê-los com maus olhos,
quando saiba quantos beijos nós demos.

Perguntas-me, quantos beijos teus,
Lesbia, me seriam suficientes,
Se tantos como os grãos de areia do deserto da Libia
que jazem em Cirene, na imensidão das dunas,
entre o oráculo do ardente Júpiter
e o túmulo do ancião Bato;
Ou quantos astros, ao caír da noite,
vêm os amores ocultos dos homens;
Pois eu te digo:
Só esses teus beijos todos satisfarão
o louco Catulo o suficiente,
tantos... que nem posssam contá-los,
nem ridicularizá-los com as suas más línguas,
os curiosos.
Postagem Anterior Próxima Postagem