Loucura em Psiquiatria
Sob intenso processo de reavaliação em todos os países civilizados, a loucura, no século XX, despertou interesse crescente não só dos especialistas em suas manifestações emocionais e mentais, como dos estudiosos de suas conseqüências para a imaginação e a criação estética.
Loucura em psiquiatria. Quando, em psiquiatria, se emprega o adjetivo louco, ou o substantivo loucura, sua significação é bastante precisa, pois designa certas formas complexas de neurose, de psicopatia ou determinadas características da conduta do paranóico. Assim, costuma-se falar, nesse sentido, dos loucos racionais, isto é, de doentes que raciocinam perfeitamente quando o tema apresentado é alheio ao complexo temático que lhes desperta as idéias ou motivos de delírio.
Do ponto de vista crítico, o tema da loucura também foi abordado pelos autores que integraram o movimento antipsiquiátrico, fundamentalmente para tentar eliminar o caráter marginalizante do tratamento das demências e pôr em evidência que estas derivam da impossibilidade de aceitar uma ordem social severa, incapaz de assimilar os desejos profundos das pessoas e de tornar-se projeção desses desejos.
Aspectos culturais da loucura. A valorização e avaliação social da loucura dependeram historicamente, em grande parte, de fatores que tinham pouco ou nada a ver com seu estudo científico. Em muitas das culturas antigas, o louco era tido como possuído pela divindade e, por isso, digno de todo respeito (em alguns casos, sucedia o mesmo com os retardados). Na Idade Média, enquanto a razão ainda não predominara, a loucura era aceita como fato normal da vida cotidiana e também podia ser vista como manifestação benéfica ou maléfica do além. Foi a partir do Renascimento que se iniciou a marginalização da loucura, como algo contrário à ordenação equilibrada e progressiva da vida social e econômica.
Modernamente, alguns movimentos culturais, como o surrealismo, reivindicaram a necessidade de preservar a atividade criativa do artista exatamente como a de um "louco", capaz de propiciar expressões que ultrapassem os limites do razoável e permitam assim a livre manifestação do talento criador.
O filósofo e historiador francês Michel Foucault revelou, em obras como Histoire de la folie à l'âge classique (1961; História da loucura na idade clássica), a raiz antropológica e lingüística da atitude pela qual se classifica um indivíduo como louco ou demente, e procurou evidenciar o caráter normalizador do discurso psiquiátrico, que teria por propósito principal marginalizar e desqualificar todos os comportamentos que se afastassem do proposto como válido e universal por determinada sociedade.