A Virtude de Vitrine: O Ambientalismo de Likes e o Teatro da Consciência

 A Virtude de Vitrine: O Ambientalismo de Likes e o Teatro da Consciência

A Virtude de Vitrine

O que mais se vê hoje nas redes sociais, no cinema e nas rodas de conversa dos grandes centros urbanos é a figura do “consciente ambiental”. Aquela pessoa que se declara preocupada com o planeta, que compartilha posts alarmistas sobre a destruição da Terra, que repete frases como “o homem está destruindo o planeta” com tom de superioridade moral — mas que, na prática, continua vivendo exatamente como qualquer outro consumidor comum. Ou pior: vive mergulhada no sistema que tanto critica.

Essa suposta “virtude” virou performance. O discurso virou produto. Basta abrir qualquer rede social e está lá: selfies com árvores, frases prontas sobre sustentabilidade, uso calculado de palavras como “ecológico”, “vegano”, “natural” e “verde”. Mas o que essa pessoa realmente faz pelo meio ambiente? De verdade? Nada que implique renúncia. Nada que comprometa o próprio conforto.

Mora num grande centro urbano, onde tudo vem pronto para o consumo, embalado em plástico, entregue por motoboys, produzido com energia suja e trabalho explorado. Viaja de avião três vezes por ano, renova o celular a cada lançamento, vive de fast fashion e de alimentos ultraprocessados. Mas se acha no direito de apontar o dedo para os “destruidores do planeta” — que, na prática, são exatamente como ela.

Esse comportamento tem nome: virtude performática.
É quando a preocupação com causas sociais ou ambientais serve mais para mostrar quem você é do que para mudar algo de fato. Um marketing pessoal de consciência. Um verniz ético que não resiste à menor análise.

A verdadeira virtude, a que realmente tem valor, exige ação concreta. E toda ação real vem acompanhada de sacrifício. Optar por uma vida mais sustentável é caro, trabalhoso e, muitas vezes, desconfortável. É abrir mão do excesso. É repensar a própria rotina. É contrariar a lógica da cidade que nunca dorme e nunca para de consumir.

Mas esse tipo de mudança não dá curtidas. Não rende stories bonitos. Não se encaixa no algoritmo.

Por isso, seguimos assistindo a esse teatro da consciência — onde os protagonistas falam bonito, agem pouco e aplaudem uns aos outros por discursos vazios. Enquanto isso, o planeta continua sendo explorado, não só por grandes corporações, mas também por cada cidadão que consome sem pensar, que critica sem mudar, que finge se importar, mas só até a próxima promoção do mês.

A virtude, se ainda existe, não está onde gritam mais alto.
Está em silêncio, nos atos discretos, nas escolhas difíceis.
E, infelizmente, está cada vez mais rara.

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