Nos últimos anos, vimos crescer uma onda de interesse por produtos naturais, orgânicos e dietas veganas, muitas vezes vendidos como a solução para uma alimentação mais saudável e sustentável. Mas será que essa “consciência alimentar” é realmente profunda e transformadora, ou apenas um modismo passageiro?
O lado do modismo
O marketing e a mídia desempenham um papel crucial na popularização desses produtos. Marcas e influenciadores utilizam termos como “natural”, “orgânico” e “vegano” para atrair consumidores dispostos a pagar mais, muitas vezes sem um compromisso real com a sustentabilidade ou a saúde pública. O consumo torna-se uma expressão de estilo de vida ou status social, mais do que uma escolha informada.
Além disso, os preços elevados — muitas vezes de 4 a 6 vezes mais caros que produtos convencionais similares — restringem o acesso a uma parcela pequena da população, reforçando desigualdades e elitizando o consumo “consciente”. A falta de educação alimentar genuína faz com que muitos comprem produtos pela “vibe” da embalagem, sem compreender seu real impacto ambiental ou nutricional.
O desafio da sustentabilidade real
Enquanto isso, os grandes problemas da fome global, do desperdício de alimentos e das desigualdades no acesso permanecem praticamente intocados. A produção naturalista enfrenta desafios técnicos e econômicos que limitam sua escala e produtividade, tornando difícil uma transição rápida e ampla para sistemas mais sustentáveis.
O que realmente importa?
É urgente que a discussão vá além do modismo e foque em soluções estruturais:
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Educação alimentar ampla e inclusiva, que alcance todas as classes sociais;
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Políticas públicas que incentivem a agricultura sustentável e o apoio à agricultura familiar;
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Combate ao desperdício e melhora na distribuição de alimentos;
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Valorização da diversidade cultural e das realidades locais na produção e consumo.