Câncer, Medicina e Evolução no Combate ao Câncer

Câncer, Medicina e Evolução no Combate ao Câncer

Câncer, Medicina e Evolução no Combate ao Câncer

Câncer é uma enfermidade que se caracteriza pelo  crescimento autônomo e desordenado de células e  tecidos por motivos ainda desconhecidos. Atinge indivíduos de qualquer idade, sendo, porém, mais comum em pessoas adultas. Muitas das hipóteses levantadas sobre as causas do câncer caíram no descrédito da ciência; outras são ainda discutidas. O certo é que, se a doença incipiente for cedo combatida, a sobrevida de um indivíduo canceroso poderá ser bem mais longa, e em certos casos poderá até levar à cura.

Designação genérica de qualquer tumor maligno, o câncer não é uma doença recente nem exclusiva do homem. Ataca todos os seres vivos e sua origem remonta às primeiras formas de vida na Terra.

O mecanismo que leva uma célula sã a se transformar em cancerosa denomina-se carcinogênese. As células cancerosas, uma vez formadas, não se detêm em sua multiplicação. Invadem os tecidos adjacentes por via circulatória ou linfática, destruindo-os. O tecido neoplásico (canceroso) apresenta uma estrutura diferente da dos tecidos e órgãos de que se originou, com uma rápida e ilimitada capacidade de se reproduzir, perturbando o funcionamento normal dos órgãos. Daí serem essas formações neoplásicas chamadas de tumores malignos. Amiúde aparecem focos cancerosos secundários em pontos do corpo distantes do núcleo original: são as metástases.

Desde a formação da primeira célula cancerosa até a ocorrência de metástase, a evolução do quadro clínico costuma ser lenta. Dependendo da parte do corpo atingida, pode durar anos até sobrevir a morte. Sob todos os aspectos, os tumores malignos se contrapõem aos benignos: estes não são perigosos, crescem com mais lentidão do que aqueles e em geral não perturbam o bem-estar da pessoa nem acarretam a morte.

Certos tipos de câncer, como os gliomas do olho, neuroblastomas e adenossarcomas embrionários são mais frequentes em crianças do que em qualquer outro grupo etário, embora seja reduzida a incidência de tumores malignos na faixa de idade que vai de 5 a 14 anos. O câncer do testículo aparece mais em adultos jovens, em geral abaixo dos trinta anos de idade. Os carcinomas (cânceres de estrutura epitelial) do útero e da mama incidem mais em mulheres entre 45 e 65 anos de idade. Os sarcomas (tumores de tecido conjuntivo) ocorrem com igual frequência em todas as décadas da vida.

EtiologiaOncologia ou cancerologia é a parte da medicina que estuda o câncer, ou seja, as neoplasias malignas, do ponto de vista de sua origem, quadro clínico, evolução e cura. Não foi possível ainda determinar o fator inicial que leva ao crescimento anômalo de células aparentemente normais. Há diversos tipos de neoplasias e cada uma delas não apresenta necessariamente a mesma etiologia. Dentre os agentes descritos como cancerígenos, os mais importantes são os agentes físicos, os virais, os químicos, os hereditários, os imunológicos e as chamadas doenças pré-cancerosas.

Agentes físicosNa gênese de vários tipos de tumores existem agentes físicos importantes. Assim, por exemplo, no desencadeamento dos osteossarcomas (tumores ósseos), há fortes indícios quanto à influência direta de um fator físico, como é o trauma. É clássico surgir em atletas um osteossarcoma de membro inferior após uma fratura, como ocorre com jogadores de futebol.

São importantes ainda as radiações ionizantes (raios X, beta, alfa, gama) e ultravioletas. A ação cancerígena deve-se à liberação da energia, que atravessa os tecidos e altera a estrutura celular, provocando mutações nas células. Os tumores desencadeados por efeito da radiação solar guardam nítida relação com carcinomas de pele. Devido à presença de agentes carcinógenos, fatores ambientais também podem provocar diferentes tipos de câncer. Um agente cancerígeno importante é a poluição atmosférica, produzida pela combustão de hidrocarbonetos.

Agentes virais e hormonais O avanço das técnicas de investigação biomédica permitiram descobrir a estreita relação entre certos vírus e alguns tipos de câncer em vários animais. Alguns vírus da família herpes, por exemplo, estão relacionados ao desenvolvimento de leucemias crônicas. Alguns tumores parecem guardar relação de causa e efeito com determinados vírus. O linfoma de Burkitt, muito comum na África, revelou nítida ligação com uma virose, sugerindo que o câncer poderia ser originário de um vírus.

Agentes químicosO câncer de pulmão tem evidente relação com irritantes químicos derivados do alcatrão da hulha (contidos no cigarro), os quais são muito utilizados, em cancerologia experimental, na produção de câncer de pele. Seu papel cancerígeno está comprovado. O tabaco ou os produtos de combustão do cigarro tendem, entre outros efeitos graves, a paralisar o movimento dos cílios que forram a mucosa dos brônquios. Com o tempo, a mucosa brônquica perde esse mecanismo protetor e suas células ficam expostas a agressões diretas, sofrendo transformações que podem chegar ao câncer brônquico ou carcinoma broncogênico.

Outros agentes químicos já mostraram sua estreita relação com o desencadeamento de tumores, como certos medicamentos e substâncias químicas. Alguns sais biliares que existem no organismo humano, quando isolados, concentrados e aplicados em animais, mostram-se também cancerígenos.

É interessante observar que o câncer no colo do útero parece ter incidência bastante rara entre as mulheres judias. O fato é possivelmente reflexo da circuncisão do homem judeu, segundo pesquisa feita. Explica-se pela influência do esmegma (secreção peniana, das glândulas bálamo-prepuciais), normalmente presente nos indivíduos não circuncidados, que possui em sua composição um hidrocarboneto cancerígeno, o esaqualeno.

Ainda entre os fatores químicos cancerígenos, há a influência dos hormônios. Assim, o câncer de colo do útero incide com frequência muito maior em mulheres com ciclo estrógeno-progesterônico presente, isto é, antes da menopausa. Já o de corpo de útero é mais comum após a menopausa. No homem, o câncer de próstata é favorecido pela presença de testosterona (hormônio sexual masculino), razão pela qual sua terapêutica deve incluir a remoção cirúrgica dos testículos ou o bloqueio medicamentoso da testosterona.

Fatores hereditáriosAinda não foi cientificamente comprovada a hereditariedade como fator etiológico do câncer. Nas discussões em torno desse problema, predomina a corrente que defende a existência de um fator hereditário condicionando um fator predisponente, em indivíduos de determinada família. Há inúmeras famílias com maior incidência da doença que na população geral. Sabe-se, além disso, que o fator hereditário não predispõe ao desenvolvimento do câncer no mesmo órgão em todos os indivíduos da família. A importância da hereditariedade, porém, não justifica alarme quando surge um caso de câncer em um membro da família. O fator hereditário, ao que tudo indica, está ligado às condições imunológicas de cada organismo.

Fatores imunológicosO organismo humano dispõe de um sistema imunológico capaz de reconhecer, através de um "código" molecular, tudo que faz parte do organismo e tudo que é estranho ao mesmo. Esse sistema tem por finalidade mobilizar as defesas do organismo, no sentido de eliminar os fatores estranhos, considerados agressores. Pelas células do sangue (glóbulos brancos) ou de elementos humorais (anticorpos), o organismo combate e neutraliza os agentes estranhos -- vírus, bactérias, proteínas e células estranhas, não reconhecidos pelo sistema imunológico como constituintes normais do organismo. O câncer, porém, não é combatido por esse sistema.

Estudos relacionados principalmente com os transplantes de órgãos revelaram que talvez a implantação de um câncer num organismo pudesse estar relacionada a uma falha na codificação do sistema imunológico. Já se descreveram casos de indivíduos portadores de câncer desenvolvido por imunossupressores, que são medicamentos usados em pacientes com órgãos transplantados ou com doenças de auto-agressão.

Em outros casos descritos, em que doadores de órgãos tinham câncer, os receptores, na vigência do tratamento com imunossupressores, desenvolveram o mesmo câncer, só cessando o processo com a suspensão da droga, o que ocasionou também a rejeição do órgão transplantado. Tentou-se então relacionar o fator hereditário com uma herança de um defeito no sistema imunológico. Nada há, porém, de definitivamente provado nesse setor. Existe ainda referência à possibilidade de que outros agentes, como os vírus, modifiquem o código imunológico e permitam, com isso, o aparecimento de uma neoplasia maligna.

Doenças pré-cancerosasEntre os fatores etiológicos do câncer, citam-se, ainda, as doenças pré-cancerosas, como a gastrite atrófica, considerada precursora do câncer de estômago; a úlcera do estômago, passível de malignizar-se; a polipose gástrica e intestinal; e a pancreatite crônica, associada, com certa frequência, a um câncer do pâncreas. Os tumores de fígado (hepatomas), por sua vez, incidem mais frequentemente em indivíduos com cirrose do fígado.

Certos tumores benignos constituem também lesões pré-cancerosas em variados graus. Estão entre eles os adenomas benignos da tireoide, os papilomas da bexiga e os "sinais" pigmentados da pele. A dermatite de radiação (resultante da queimadura crônica por ação dos raios X) representa uma lesão pré-cancerosa, pois dela pode sobrevir um câncer até muitos anos depois. As verrugas que crescem na pele, sobretudo de pessoas idosas, podem degenerar em epiteliomas ou cânceres da pele. Muitas cicatrizes (o tecido cicatricial não tem elementos protetores contra a irritação crônica) podem degenerar em câncer.

Conclusão Em relação à etiologia do câncer, tudo parece ocorrer como se houvesse um terreno predisponente, que se torna real de acordo com a presença dos fatores desencadeantes (agentes químicos, físicos e biológicos). Esse terreno predisponente poderia ser, segundo alguns, a herança do defeito imunitário, e, segundo outros, a herança de células cancerosas, que ficariam inativas até o momento em que os fatores desencadeantes agissem, quando então o processo eclodiria. Há ainda a possibilidade de que fatores exógenos condicionassem um defeito no sistema imunológico, e que células mutantes não fossem combatidas por esse sistema, o que levaria ao aparecimento do câncer.

Classificação e distribuição Há muitos tipos de câncer e em cada tecido podem-se originar diversas classes de manifestações oncológicas. A classificação dos processos tumorais se estabelece em função do tecido de que procedem. Didaticamente, as neoplasias dividem-se em dois grandes grupos, conforme a origem embriológica: os carcinomas e os sarcomas. Carcinomas são os tumores de tecidos derivados do ectoderma do embrião, que dá origem à pele, glândulas e tecido nervoso; sarcomas, os derivados do mesoderma do embrião, origem do tecido conjuntivo, ossos, serosas e músculos.

Tanto carcinomas quanto sarcomas são subclassificados conforme o tipo de estrutura que  "imitam". Assim, os adenocarcinomas imitam uma glândula; os osteossarcomas, ossos; os osteocondromas, articulações; os linfossarcomas, gânglios linfáticos; os reticulossarcomas, células reticulares etc.

Existem ainda tumores mistos, ou que não se classificam em nenhum dos dois tipos. As leucemias são também neoplasias, mas devem ser consideradas à parte. Classificam-se em: mieloides, linfoides, eosinofílicas e monocíticas, conforme o tipo de célula sanguínea afetada. Quando o tipo de célula não é totalmente diferenciado, trata-se de leucemia indiferenciada. As leucemias podem ser ainda agudas ou crônicas, conforme o quadro clínico e a evolução.

Outras classificações dividem os cânceres em: tumores do tecido epitelial (carcinomas), tumores do tecido conjuntivo (sarcomas), tumores do tecido hematopoético (leucemias, linfomas, mielomas), tumores do tecido nervoso (gliomas etc.), tumores mistos (carcinossarcomas e teratomas malignos) e tumores especiais (melanoma, seminoma, timoma etc).

O câncer se distribui em todo o reino animal e vegetal, mas a incidência de um ou outro de seus tipos é maior em determinadas espécies. Entre os animais, os ratos apresentam alta predisposição ao câncer, razão pela qual são muito usados na cancerologia experimental. O câncer da mama é comum nos cães; o melanoma do ânus, em determinadas raças de cavalos; e o epitelioma de pálpebra, em gatos.

Influências raciaisNa espécie humana é extremamente difícil explicar as influências raciais sobre o câncer. É fato que alguns povos, talvez por seu caráter antropológico, por fatores ecológicos, ou por fatores alimentares, são mais predispostos a determinados tipos de câncer do que outros.

Entre os chineses o câncer de nasofaringe é mais comum que outros, e o mesmo ocorre com o câncer do fígado entre os bantos e os malásios. O sarcoma não-AIDS hemorrágico de Kaposi (da pele dos membros) é mais comum nos povos do Mediterrâneo, nos judeus, nos italianos e nos chineses. O câncer de mama é raro entre os povos primitivos. O melanoma não é comum entre os negros. Já o câncer de estômago é duas vezes mais frequente entre os japoneses que entre os europeus.

Frequência em relação ao sexo. Em relação ao sexo, na raça humana em geral, a frequência do câncer é maior entre as mulheres que entre os homens, devido à grande incidência do câncer de útero e de mama. Além disso, há certa predominância de um ou outro tipo de câncer conforme o sexo, o que é também difícil de explicar. Assim, o câncer de estômago é mais frequente no homem, numa relação de 3:2. O sarcoma não-AIDS hemorrágico de Kaposi ocorre praticamente só em homens, assim como o câncer de mama é quase exclusivo da mulher.

Frequência em relação à idade. O câncer é uma doença que costuma ocorrer após os quarenta anos, mas pode incidir em qualquer idade. Sua frequência em relação à faixa etária varia também conforme o tipo de câncer. Algumas formas incidem em crianças, outras em jovens e outras quase somente em velhos.

Do nascimento até o sexto ano de vida, os gliomas dos olhos, os neuroblastomas e os adenossarcomas dos rins ocupam lugar importante na relação das causas de mortalidade infantil. Dos 6 aos 16 anos, há uma estranha pausa na incidência do câncer; apenas as leucemias agudas costumam ocorrer nesse período.

Nos adultos jovens (antes dos trinta anos), há certa incidência do câncer de testículos e dos sarcomas (cânceres derivados da linhagem mesenquimal). Os carcinomas (linhagem epitelial) são raros nas crianças, jovens e adultos, enquanto os sarcomas incidem em qualquer idade, com a mesma frequência.

Epidemiologia - Vários fatores entram em jogo nos estudos que relatam a distribuição e incidência do câncer na raça humana: fatores climáticos, ecológicos, alimentares, genéticos e raciais. Todavia, há grande dificuldade para a obtenção desses dados, que, na maioria dos países, não são fidedignos. A falta de um censo nacional, a falta de registros de óbitos de um sem-número de casos e o mau preenchimento dos atestados de óbito, como ocorre na grande maioria dos países subdesenvolvidos, não permitem conclusões e estudos definitivos a respeito.

Diagnóstico No levantamento da história clínica do paciente (anamnese), impõe-se pesquisar todos os sintomas mencionados, inclusive os que eventualmente pareçam sem importância. Essa conduta visa a um diagnóstico precoce, uma vez que, tratando-se de câncer, quanto mais cedo for detectado, maior a probabilidade de cura.

Entre as numerosas técnicas de detecção precoce recomenda-se o auto-exame de mamas e os exames médicos preventivos, como o de Papanicolau, para a detecção do câncer de colo de útero, e a mamografia, para o câncer de mama. Os raios X ajudam muito no diagnóstico de câncer do pulmão.

Na anamnese devem ser incluídas queixas sobre lesões na pele, emagrecimento, febre de causa não esclarecida, inapetência, manifestações ganglionares, lesões de boca e deglutição difícil. Devem também ser consideradas as alterações dispépticas (má digestão, azia, arrotos, estufamento abdominal etc.), das funções intestinais ou urinárias, da mama e do ciclo menstrual; presença de sangue nas fezes, na urina, em vômitos e no esperma; aparecimento de tosse seca, falta de ar, icterícia, diabetes, prurido sem causa aparente, anemias, sinais hemorrágicos de pele, fraturas aparentemente sem explicações, dores em qualquer parte do corpo, alterações na voz etc.

Ainda na anamnese, devem ser pesquisadas as atividades profissionais do indivíduo, de vez que existem cânceres estreitamente relacionados a esse fator. Assim, o manuseio com raios X e radioisótopos tem sua importância comprovada no desencadeamento do câncer. Dentistas, radiologistas, cirurgiões ortopedistas, técnicos de raios X etc. devem ser alertados e orientados nesse sentido.

Pacientes que lidam com anilina, benzidina ou betanaftilina podem desenvolver câncer de bexiga. Indivíduos que trabalham com sais de cromo, pó de asbesto e níquel, estão mais sujeitos a câncer no trato respiratório (nariz, laringe, brônquios e pulmão); enquanto os que manipulam benzol estão mais expostos à leucemia.

A investigação dos antecedentes pessoais, incluindo as doenças pregressas, permite pesquisar condições pré-cancerosas. Calculose da vesícula, leucoplasias (placa branca mucosa, frequente na boca, língua, vagina etc.), sífilis (devido à relação entre sífilis na língua e câncer nessa região), cervicites (no colo uterino), traumas (fraturas, pancadas), queimaduras, tumores benignos, úlcera de pele, úlcera no aparelho digestivo, cirrose, pancreatite, radiodermites, polipos, nevos (pintas ou sinais).

Os hábitos do paciente também se revestem de importância no diagnóstico do câncer. O fumo, por exemplo, é potencialmente cancerígeno. Sabe-se que o fumante de cigarros tem maior propensão para a doença que o de charutos ou de cachimbo, em comparação com os não fumantes. Os fumantes de cachimbo apresentam maior incidência de câncer de língua e lábio. O álcool, pelo fato de, em certo número de casos, desencadear cirrose hepática, pancreatite, gastrite ou esofagite -- condições eventualmente pré-cancerosas -- também deve ser lembrado nesse interrogatório.

A procedência do indivíduo deve ser levada em conta, tendo em vista certas peculiaridades regionais na distribuição do câncer. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há uma incidência maior de câncer do esôfago, fato relacionado com a ingestão do chimarrão extremamente quente, que provocaria queimaduras do esôfago, com a consequente possibilidade de surgir um câncer a partir daí.

Os antecedentes familiares também fazem parte do interrogatório. A pesquisa de indivíduos cancerosos na família pode, em alguns casos, ajudar no diagnóstico, ou pelo menos na orientação propedêutica do paciente. Um exame clínico acurado, a seguir, deve descartar aproximadamente cinquenta por cento da possibilidade de haver câncer. Na metade dos casos o câncer pode ser visto ou apalpado pelo médico. Assim, tumores de pele, boca, fígado, faringe, mama, ânus, pênis, escroto, útero, ovário, gânglios etc., podem ser perfeitamente perceptíveis ao exame clínico.

Os exames complementares são de grande valia, inclusive na pesquisa de tumores ocultos. Os exames de sangue, como o hemograma (na pesquisa da leucemia), eletroforese de proteínas, dosagem de  mucoproteínas, dosagem de fosfatases ácidas (na pesquisa de câncer de próstata), dosagem de fosfatases alcalinas (na pesquisa de tumores ósseos e hepáticos), dosagem de alfa-fetoglobulina (na pesquisa de tumor no fígado), hemossedimentação etc., constituem importantes recursos auxiliares para o diagnóstico.

A endoscopia (laringoscopia, broncoscopia, cistoscopia, esofagoscopia, gastroscopia, gastrofotografia, duodenoscopia, retossigmoidoscopia, colonoscopia etc.) faz parte do arsenal propedêutico, proporcionando ao médico possibilidades diagnósticas precoces no campo do câncer.
Além da endoscopia, a medicina conta com o recurso da radiologia geral e da radiologia especializada. A tomografia computadorizada e a ultra-sonografia, assim como a radiografia do crânio, ossos, mama (mamografia e ductulografia), tórax, brônquios (broncografia), esôfago, estômago, duodeno, intestino delgado, intestino grosso (enema baritado), artérias (arteriografia), gânglios (linfografia), genitais femininos (ginecografia e histerossalpingografia) e rins (urografia excretora e pielografia ascendente) auxiliam sobremaneira o médico em seu caminho para o diagnóstico.

São úteis ainda o exame de urina, com pesquisa de sangue e de proteínas (no mieloma), o mielograma (exame citológico da medula óssea), o exame citológico do escarro, o exame do líquido de ascite (derrame líquido intraperitonial) e o exame do líquido pleural (derrame líquido na pleura). O médico pode também lançar mão da gamagrafia (utilização de raios-gama, em lugar dos raios X), da ecografia (utilização de ondas sonoras e sua propagação) e da radioisotopia (que utiliza radioisótopos marcando substâncias que são incorporadas pelos órgãos a serem estudados) que enriqueceram ainda mais a pesquisa diagnóstica.

A radioisotopia, particularmente, é de uso rotineiro na pesquisa do tumor hepático (hepatoma), através do hepatograma; na pesquisa do tumor de rim (nefrograma ou mapa renal); no tumor de pâncreas (mapeamento pancreático) e na pesquisa do tumor de tireoide (mapeamento de tireoide).

Entre os exames complementares incluem-se, finalmente, os exames citológicos e anatomopatológicos, que consistem no estudo citológico e histológico do material obtido por punção de líquidos, punção de tumores e gânglios, ou ainda, por biópsias realizadas nos vários órgãos (fígado, gânglios, pele, baço etc.). Esse material pode ser obtido por meio de cirurgia ou de exames especializados, como a peritonioscopia (exame instrumental da cavidade abdominal), a colposcopia (exame do colo uterino), a broncoscopia, a gastroscopia, a esofagoscopia etc.

Alguns sintomas da doençaO câncer do esôfago causa dificuldade progressiva de engolir, sobretudo alimentos sólidos. A doença começa insidiosamente, sendo difícil identificá-la no início, por ausência de sintomas específicos. O aparecimento de fenômenos dispépticos (dificuldades digestivas) numa pessoa até então sadia, com sintomas sugestivos de úlcera gastroduodenal, associados com emagrecimento, anemia e inapetência inexplicáveis, pode estar vinculado a um câncer gástrico. O câncer do pâncreas raramente apresenta sintomas precoces. Uma dor abdominal profunda acompanhada de dor lombar, diarreia e icterícia (na ausência de cálculos da vesícula), pode gerar suspeita de câncer pancreático. Os cânceres do reto muitas vezes são diagnosticados erroneamente como hemorroidas em suas fases iniciais, em virtude da eliminação repetida de pequenas quantidades de sangue no ato da defecação.

O câncer de mama se inicia como um pequeno nódulo, indolor, mas de crescimento progressivo. Depois, torna-se aderente à pele, repuxando-a, e esta se ulcera; o mamilo frequentemente se inverte. Todo nódulo que aparece na mama deve ser suspeito de câncer até prova em contrário. O câncer de colo do útero muitas vezes se anuncia por excessiva hemorragia durante a menstruação ou no intervalo das menstruações. Os cânceres da bexiga e dos rins causam inicialmente hematúria (perda de sangue na urina), micção frequente e dolorosa. O câncer da próstata em geral não apresenta sintomas, mas pode provocar dificuldade na micção. Às vezes, o primeiro sintoma é uma dor lombar provocada por metástases para a coluna ou para os ossos pélvicos. O câncer ósseo não raro se anuncia por dor local e aumento de volume da área afetada.

O câncer da língua se apresenta como fissura, ou úlcera crônica ou porção endurecida, sobretudo no bordo posterior e lateral, sendo dos poucos cânceres que se mostram dolorosos desde o início. O câncer de laringe causa precocemente rouquidão e alterações da voz. O estridor e a dispneia constituem sintomas de fase avançada da doença. O câncer do pescoço em geral é secundário a uma neoplasia maligna primitiva da boca, da faringe, da laringe, do tórax ou do abdômen. O câncer do pulmão vem aumentando sua incidência. Exterioriza-se por tosse contínua e rebelde aos medicamentos comuns; outras vezes por dor torácica, dispneia ou hemoptises. Muitas vezes nenhum sintoma se manifesta, embora a radiografia já mostre, no tecido pulmonar, a imagem do câncer.

Tratamento As armas terapêuticas disponíveis para o tratamento do câncer são fundamentalmente três: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Dependendo do tipo histológico do câncer e de sua sensibilidade, o tratamento poderá incluir uma, duas ou mesmo as três armas simultaneamente.

A eficácia do tratamento cirúrgico, aconselhável em grande número de cânceres, depende da fase em que se encontre a doença no momento em que foi indicado o tratamento. A cirurgia é adotada amiúde nos casos de câncer de pele, ossos, gânglios, estômago, boca, laringe, pulmão, esôfago, intestinos, rins, bexiga, mucosas, brônquios, fígado (quando localizado), tireoide (alguns tipos), língua, lábios, ânus, reto, mama, útero etc.

Boa parte dos tumores, após extirpados, exige tratamento acessório quimioterápico ou radioterápico. O tratamento cirúrgico é por excelência mutilante, e muitas vezes, dependendo da extensão do câncer ou do número de órgãos atingidos, sua excisão poderá levar o paciente à morte. Acredita-se que, com o evoluir da ciência, talvez venha a ser possível a exclusão da cirurgia do esquema terapêutico do câncer.

O tratamento quimioterápico inclui a hormonioterapia e os antiblásticos. Alguns tumores respondem temporariamente à administração de hormônios, como é o caso do câncer de mama e de próstata; daí a razão do uso de hormônios na terapêutica.

Os antiblásticos são substâncias químicas que intervêm no metabolismo das células jovens, impedindo seu crescimento e reprodução. Como as células cancerosas obedecem a tal padrão, alguns tipos de câncer respondem a essas drogas e sustam seu desenvolvimento. Os antiblásticos, largamente usados, consideram-se de escolha no tratamento das leucemias e dos linfomas. Servem, além disso, como terapia acessória nos casos de cirurgia.

A radioterapia utiliza radiações emitidas por um "tubo" que contém rádio e cobalto, ou ainda radiações emitidas por substâncias marcadas com radioisótopos para inibir o crescimento de tumores. É largamente usada como complementação do tratamento cirúrgico e como acessória ao tratamento quimioterápico.

Alguns tipos de câncer são altamente sensíveis às radiações, como os linfomas, a leucemia mieloide crônica, alguns cânceres de pele, o câncer de pulmão, o câncer de esôfago e alguns cânceres de tireoide, além de outros, razão pela qual a radioterapia é bastante usada nesses casos. Pode-se também usar a radioatividade para tratamento de alguns órgãos, mediante administração de substâncias radioativas.

Prognóstico O prognóstico do câncer é extremamente variável e difícil de avaliar. Não se pode negar, porém, que quando o diagnóstico é precoce há mais possibilidade de cura. Quando o diagnóstico é tardio, o  prognóstico é quase sempre péssimo. No Japão, devido à alta incidência de câncer de estômago, iniciaram-se levantamentos de massa (mass survey) com gastrocâmara (fotografia gástrica), conseguindo-se surpreender inúmeros casos incipientes de câncer gástrico, ainda assintomáticos. Esses casos foram operados e tiveram cura total. Já nos países ocidentais, o câncer de estômago é diagnosticado geralmente tarde e a porcentagem de cura é muito baixa.

Há também variação do prognóstico quanto ao tipo de tumor. Na pele, o melanoma não tem bom prognóstico; já os carcinomas baso-celulares e espino-celulares têm boas possibilidades terapêuticas. Na tireoide, os carcinomas papilíferos têm um ótimo prognóstico.

Diante de cada caso, não é fácil estabelecer-se prognóstico sobre o tempo de vida: espera-se às vezes, péssima evolução, e obtém-se resultado contrário, e vice-versa. Casos de involução (cura espontânea do câncer), ainda que extremamente raros, podem registrar-se.

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