A Mão e a Luva | Machado de Assis

Guiomar confessou ao marido que naquela ocasião lhe conhecera todo o poder de sua vontade. - Vi que você era homem resoluto, disse a moça a Luis Alves, que assentado, a escutava. - Resoluto e ambicioso, ampliou Luiz Alves sorrindo: você deve ter percebido que sou uma e outra cousa. - A ambição não é defeito. - Pelo contrário, é virtude; eu sinto que a tenho, e que hei de fazê-la vingar. Não me fio só na mocidade e na força moral: fio-me também em você, que há de ser para mim uma força nova. - Oh! Sim! Exclamou Guiomar. E com um modo gracioso continuou: - Mas que me dá você em paga? Um lugar na câmara? Uma pasta de ministro? - O lustre do meu nome, respondeu ela. Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido , e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.
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