A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá | Florestan Fernandes

Mesmo a regulamentação social do comportamento dos guerreiros e dos outros componentes dos bandos armados se processava por meios de rituais. Contudo, restringi-me, nesta parte do estudo, à reconstrução dos ritos relativos à determinação da guerra, dos ritos preparatórios das ações guerreiras, dos ritos propiciatórios, observados durante as incursões guerreiras, e dos ritos de tratamento do 'estranho', isto é, do inimigo. Os motivos que me convenceram a adotar semelhante sistematização dos materiais são simples, mas ponderáveis. Em primeiro lugar, os ritos ligados à definição das obrigações dos componentes dos bandos guerreiros suscitam problemas particularíssimos, cujo exame depende da discussão de questões especiais, como 'princípio de formação', 'horizonte militar', 'disciplina militar', 'liderança guerreira' etc.
É evidente a conveniência de tratá-los separadamente, pois este método, além de favorecer a análise, permite compreendê-los como peças de sistema 'militar' tribal. Em segundo lugar, o sacrifício ritual, a antropofagia cerimonial e os rituais de renomação, quando investigados em termos da função por eles desempenhada na organização tribal, implicam problemas de outra natureza, que os ritos a serem descritos agora. Tais ritos garantiam a conservação do equilíbrio social e não tinham nenhuma conexão imediata com o sistema tecnológico tupinambá. Ao contrário portanto dos ritos discriminados no parágrafo anterior, que apesar de 'não tratarem a guerra como uma matéria prática', tinham por finalidade ou assegurar o êxito das expedições guerreiras dos Tupinambá, ou desenvolver entre os contendores certos liames específicos, sem os quais não poderiam manter relações duradouras, se isto se tornasse necessário."
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