A Vida é Sonho | Pedro Calderón de la Barca


A Vida é Sonho | Pedro Calderón de la Barca

A Vida é Sonho | Pedro Calderón de la Barca
"Cenas da corte da Polônia, numa fortaleza pouco distante, e no campo.

PRIMEIRA JORNADA

(De um lado um áspero monte; de outro, uma torre, cuja parte térrea serve de prisão a Segismundo. A porta que dá frente para o espectador está entreaberta. A ação principia ao anoitecer. Rosaura, vestida de homem, aparece no alto do monte pedregoso, e desce;
Clarin a acompanha.)

ROSAURA:
ah, centauro violento
que correste parelhas com vento!
já que por estas penhas
te enfureces, arrastas e despenhas
fica-te neste monte
que eu seguirei sem ti e minha sorte!
Mal, Polônia, recebes
a um estrangeiro, pois com sangue escreves
sua entrada em tuas pedras
e aterras a quem chega em tuas terras!
Bem minha sorte o diz.
Mas quando achou piedade um infeliz?

CLARIM: Um só? Diz dois! Por que me esqueces? Fomos dois a sair em busca de aventuras, dois os que entre desditas e loucuras viemos parar aqui... Dois caídos na montanha, sem cavalos, perdidos... Isso não é bastante pra unir nossos pesares? Ah, senhora, e agora? A pé, sozinhos e perdidos a esta hora?

(Ouvem-se ruidos de corrente)

CLARIM: Céus! Que ouço?
ROSAURA: Deus! Que é isso?
CLARIM: Correntes? Deve ser um calabouço!
SEGISMUNDO (dentro): Ai, mísero de mim! Ai, infeliz!
ROSAURA: Que triste voz! Que triste esse rumor!
CLARIM: A mim me dá pavor!
ROSAURA: Clarim...
CLARIM: Senhora...
ROSAURA: Fujamos dos perigos desta torre encantada...
CLARIM: Ânimo pra fugir é que me falta...

ROSAURA:
Se fugir não podemos
ao menos suas desditas escutemos...

(Abre-se a porta e aparece Segismundo, acorrentado e vestido de peles. Há luz na torre.)

SEGISMUNDO:
Ai mísero de mim! Ai, infeliz!
Descobrir, oh Deus, pretendo,
já que me tratas assim
que delito cometi
fatal, contra ti, nascendo.
Mas eu nasci, e compreendo que o crime foi cometido
pois o delito maior
do homem é ter nascido.
Só quereria saber
se em algo mais te ofendi
pra me castigares mais.
Não nasceram os demais?
Então, se os outros nasceram
que privilégio tiveram
que eu não tive jamais?
Nasce o pássaro dourado,
jóia de tanta beleza
e é flor de pluma e riqueza
ou bem ramalhete alado
quando o céu desanuviado
corta com velocidade
negando-se à piedade"

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