Chatô, O Rei do Brasil | Fernando Morais

O epitáfio do marechal Castelo Branco deve ser curto. Aliás, sendo o defunto grosso e feio, o tamanho deveria mesmo ser pequeno.
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O novo governo recebe o país da mão do outro, que exauriu o mercado interno e pôs em fuga o externo, um governo que infligiu à sua gente os piores vexames sem contudo defender a moeda, cada vez mais aviltada. O saldo que se apresenta é este: ele é um soldado bisonho, que parte com sua turma de coveiros. O alto sexagenário poderá ficar resumido num singelo título, mais ou menos assim: administrador de cemitérios .
Josué Montello registra em um de seus livros de memórias que a primeira aparição pública de Castelo depois de deixar a Presidência foi em uma reunião na casa do acadêmico Silva Mello, o velho amigo de Chateaubriand. Em meio ao jantar, o anfitrião começa a "falar de corda em casa de enforcado", anotou Montello, ao discorrer com calorosos elogios sobre os artigos do dono dos Associados. Castelo ouvia, esfarelando migalhas de pão entre os dedos, e, quando Silva Mello fez uma pausa, o ex-presidente comentou:
– Eu o leio sempre. Principalmente quando me agride e injuria. Prefiro lê-lo à noite, antes de dormir. É uma boa hora para ler as descomposturas. Leio-as, recorto-as e durmo. Durmo até de manhã."
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