Desidéria | Alberto Moravia

Desidéria | Alberto Moravia

Desidéria: O meu nome é Desidéria. E ouvi uma Voz.

Eu: Uma Voz? Que Voz?

Desidéria: Responderei com o trecho de um livro

Eu: Que livro?

Desidéria: A vida de Joana d'Arc. Ela também ouvia uma Voz. O trecho é o seguinte: "Essa Voz chegou perto do meio-dia, num dia de verão, na hora do meu pai. Eu havia jejuado na véspera. Raramente a escutava sem ver uma claridade no lugar de onde vinha. Na primeira vez que ouvi a Voz, ofereci minha virgindade para agradar a Deus."

Eu: Por que Joana d'Arc? O que tem Joana d'Arc a ver com você?

Desidéria: Nessa passagem fala-se de duas coisas que tive em comum com Joana d'Arc: a Voz e a virgindade. Durante alguns anos, uma Voz me falou, me guiou, me orientou. E, ao mesmo tempo, eu desejei, como Joana d'Arc, oferecer minha castidade para que não ocorresse certo acontecimento. Em resumo, da mesma forma que em Joana d'Arc, a Voz e a virgindade estavam interligadas dentro de mim, uma justificativa a outra, uma existia por causa da outra.
Eu: Mas você não ofereceu a virgindade a Deus?

Desidéria: Não, ofereci-a a outra coisa diferente que, atualmente, para muitos também é uma espécie de divindade.

Eu: E o que é isso?

Desidéria: Prefiro não dizer. Ficará claro com o desenrolar da minha estória.

Eu: Você ainda é virgem?

Desidéria: Não, não sou mais.

Eu: Então, aquela coisa a que você ofereceu a virgindade acabou acontecendo.

Desidéria: Não, não aconteceu.

Eu: E a Voz?

Desidéria: A Voz foi-se embora.

Eu: Então você não é mais virgem e não tem mais a Voz?

Desidéria: Sim. Vou contar-lhe exatamente como perdi ao mesmo tempo a virgindade e a Voz."

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