Estrela Solitária | Ruy Castro

O Brasil faria apenas mais um gol, também de Vavá, aos 31 minutos do segundo tempo. Mas parecia a maior goleada da história das Copas do Mundo. Em nenhum momento a URSS ameaçara — Gilmar fez somente uma defesa no jogo. Do outro lado, no entanto, Iashin evitou uma catástrofe numérica. O Brasil atacou 36 vezes, dezoito das quais com perigo e ainda disparou aquelas duas bolas na trave. Garrincha nascia ali, não apenas para o mundo, mas para o próprio Brasil.
A partir daquele dia, deixaram de existir botafoguenses, tricolores, rubro-negros, gremistas ou corintianos puros. Todos passariam a ser Garrincha, mesmo quando ele jogasse contra seus clubes. No vestiário, depois do jogo contra a URSS, Garrincha não sabia quem o havia marcado. E por que deveria saber? Não tinha sido marcado por um, mas por muitos, e todos tinham aqueles nomes terminados em ev ou ov. De que lhe interessava?
Sua única frase, que resumia tudo o que sentia, era: ‘Eu tava com fome de bola.’"
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