O Amante | Marguerite Duras
"Ela não sabe quanto tempo depois da partida da moça branca ele executou a ordem do pai, casando-se, como o pai mandava, com a moça escolhida pelas famílias há dez anos, também ela coberta de ouro, brilhantes e jade. Uma chinesa também do Norte, da cidade de Fu-Chuen, que estava na colônia acompanhada pela família.
Ele deve ter passado muito tempo sem poder dormir com a mulher, sem dar-lhe o herdeiro das fortunas. A lembrança da menina branca devia estar lá, deitada, o corpo atravessado na cama. Deve ter sido por muito tempo a soberana do seu desejo, a referência pessoal de sua emoção, da imensidade da ternura, da sombria e terrível profundeza da carne. Depois chegou um dia em que afinal isso deve ter sido possível. O dia em que o desejo da menina branca foi talvez tão forte, a tal ponto intolerável, que ele conseguiu encontrar outra vez sua imagem inteira, como numa enorme e intensa febre e penetrar a outra mulher com todo esse desejo, o desejo da menina branca. Deve ter-se reencontrado pela mentira dentro daquela mulher e, pela mentira, deve ter feito o que as famílias, o Céu, os ancestrais do Norte esperavam dele, ou seja, um herdeiro do nome."
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