O Cancioneiro | Francesco Petrarca

"Lastimo ainda não haver louvado,
Dona, tua beleza em nobre rima.
Para encontrar a canto que te exprima,
Recordo o tempo em que te vi pasmado.
Mas a meu braço o encargo é tão pesado,
Este lavor não é de minha lima,
Por isso o engenho que sua força estima
Sente que o seu afã é mui baldado.
Quantas vezes em vão tentei louvar-te;
Pois permanece a voz dentro da peito.
Que voz pudera ter tão alto efeito?
É vão a meu esforço, vã minha arte;
O plectro rude e o pouco nobre engenho
Coem vencidos ao primeiro empenho.
A alma minha gentil que agora parte
Tão cedo deste mundo à outra vida,
Terá certo no céu grata acolhida,
Indo habitar sua mais beata parte.
Ficando entre o terceiro lume e Marte,
Será a vista do sol escurecida,
Virá depois, muita alma ao céu subida,
Vê-la – portento de natural e arte.
E se pousasse entre Mercúrio e Luz,
Brilhara mais do que eles nossa bela,
Como só se espalhara a fama sua.
A Marte certo não chegara ela.
Mas se mais alto o seu vulto flutua,
Vencera Jove e qualquer outra estrela."
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