O Príncipe de Nassau | Paulo Setúbal

Autor: Paulo Setúbal
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"(...)- . naquela tarde, com o coração pálpite, Maurício partiu, entre toques e rufos, para o passeio de costume.
Atravessou o vasto parque de Friburgo, onde frondejavam setecentas palmeiras. Meteu-se pela Cidade Maurícia. Cortou a Praça dos Coqueiros. Desembocou na Ponte do Recife.
Os moradores de Maurícia eram holandeses e judeus. Ao ouvirem o pateado dos cavalos, aqueles homens de língua estranha, muito ruivos, vestidos com gibões de saragoça, corriam atarantados às portas das casas, desbarreteando-se à passagem do séquito.
Ao pé da ponte, junto à correnteza do Capiberibe, ficava a taberna do velho Snider. Um magote de flamengos, com o taberneiro à frente, vermelhos e desordenados, copos na mão, saiu à rua tumultosamente, a bradar com efusão:
-Viva o nosso Príncipe!
(...) , num trote manso, os cavaleiros atravessaram a ponte. Entraram em Recife, a cidade velha. Tudo aí eram portugueses e mamelucos . A essa hora, nesse afogueado cair da tarde, os escravos do senhorio rico, uns chatos negrões de Angola, dentro de suas pantalonas de tela de Flandres, passavam aos bandos, carregando água doce, gotejantes, com enormes cacimbas à cabeça. Índios mansos, tapuias e potiguaras, voltavam dos engenhos e das lavouras, as foices roçadeiras ao ombro, o ar suarento de cansaço.
O Príncipe tocou pela cidadezinha. Cortou-a de ponta a ponta. Depois, sem dizer palavra, enveredou rumo da praia. Pôs-se a trotar vagarosamente pela areia branca. Todos seguiam-no, calados. De repente num cômoro Maurício de Nassau estacou o ginete. Aí, diante dos seus olhos, estendia-se, largo e belo, um panorama surpreendente. (...) E fora aqui, diante dos seus olhos, nas águas crespas do Arrecife, que aportara enfim, garbosamente, por entre os roncos do canhoneio, a armada triunfadora de Loncq: fora aqui desembarcaram, nas suas pinaças bojudas, os soldados que ganharam para a Holanda a terra nova.
(...) A política do Príncipe, desde o início do governo fora a política de conciliação. Era de ver-se os frutos dela! Que prodígio!
Lá em baixo, na ilha de Antônio Vaz, florescia, nova, os telhados ainda vermelhos, aquela famosa Cidade Maurícia, o assombro da época, com seu belo Palácio deFriburgo, com as pontes de rijo tabuado, as grossas fortalezas, roqueiras, as ruelas pitorescamente ensombradas de árvores e regadas de águas cantantes. Depois, em frente dela, o Recife ; aquele Recife antigo, tradicional, onde os velhos homens da terra tinham as suas moradas alterosas de boa taipa, os tratantes judeus as suas escuras lojas de moeda e de mercancia.
Lá estava, à sombra dos falcões de bronze dos fortes, a casa de pedra de João Blaar, o sangrento general de Holanda. Rente dela, com as portas de rótula, a casinha de Frei Manuel do Salvador, o cura jeitoso e politicão, reinol de muitas letras e de muitas lábias. Além, toda de madeira pintada, como em Flandres, a chácara de Gilberto Van Dirth, flamengo apelintrado, um dos três do Conselho Político. Depois, entre coqueiros, o casarão de Gaspar Dias Ferreira, tremendo velhaco, rabulejador e patoteiro, o mais querido dos amigos do Príncipe. Enão era só. Lá se viam pela cidade , chatas, nuas de enfeites, as moradas de todos os principais do país: a de João Fernandes Vieira, altíssimo personagem da terra, mercante afortunado e rico ; a de Antônio Bezerra, velho moedor de canas, pessoa de grandes teres e de grande vida; a de Antônio Cavalcanti, sombrio inimigo de João Fernandes, homem emproado, imensamente ensoberbecido do seu sangue e da sua linguagem; a de Sebastião de Carvalho, lavrador de pau-de-tinta, sujeito estranho, de poucas falas, devotado parceiro dos holandeses...
Maurício, da praia, contemplava, orgulhoso, o panorama soberbo. Com um sorriso, o coração inflamado, não pode reprimir-se:
_Como isto é belo, Carlos Tourlon! Como é formosa esta terra! É a mais formosa terra do mundo ...
(...) Os cavaleiros marchavam em silêncio. Entraram de novo pelas ruas do Recife. Atravessaram a ponte. De súbito, ao penetrar na Cidade Mauricia, a comitiva topou de chofre com Frei Manuel Salvador "
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Atravessou o vasto parque de Friburgo, onde frondejavam setecentas palmeiras. Meteu-se pela Cidade Maurícia. Cortou a Praça dos Coqueiros. Desembocou na Ponte do Recife.
Os moradores de Maurícia eram holandeses e judeus. Ao ouvirem o pateado dos cavalos, aqueles homens de língua estranha, muito ruivos, vestidos com gibões de saragoça, corriam atarantados às portas das casas, desbarreteando-se à passagem do séquito.
Ao pé da ponte, junto à correnteza do Capiberibe, ficava a taberna do velho Snider. Um magote de flamengos, com o taberneiro à frente, vermelhos e desordenados, copos na mão, saiu à rua tumultosamente, a bradar com efusão:
-Viva o nosso Príncipe!
(...) , num trote manso, os cavaleiros atravessaram a ponte. Entraram em Recife, a cidade velha. Tudo aí eram portugueses e mamelucos . A essa hora, nesse afogueado cair da tarde, os escravos do senhorio rico, uns chatos negrões de Angola, dentro de suas pantalonas de tela de Flandres, passavam aos bandos, carregando água doce, gotejantes, com enormes cacimbas à cabeça. Índios mansos, tapuias e potiguaras, voltavam dos engenhos e das lavouras, as foices roçadeiras ao ombro, o ar suarento de cansaço.
O Príncipe tocou pela cidadezinha. Cortou-a de ponta a ponta. Depois, sem dizer palavra, enveredou rumo da praia. Pôs-se a trotar vagarosamente pela areia branca. Todos seguiam-no, calados. De repente num cômoro Maurício de Nassau estacou o ginete. Aí, diante dos seus olhos, estendia-se, largo e belo, um panorama surpreendente. (...) E fora aqui, diante dos seus olhos, nas águas crespas do Arrecife, que aportara enfim, garbosamente, por entre os roncos do canhoneio, a armada triunfadora de Loncq: fora aqui desembarcaram, nas suas pinaças bojudas, os soldados que ganharam para a Holanda a terra nova.
(...) A política do Príncipe, desde o início do governo fora a política de conciliação. Era de ver-se os frutos dela! Que prodígio!
Lá em baixo, na ilha de Antônio Vaz, florescia, nova, os telhados ainda vermelhos, aquela famosa Cidade Maurícia, o assombro da época, com seu belo Palácio deFriburgo, com as pontes de rijo tabuado, as grossas fortalezas, roqueiras, as ruelas pitorescamente ensombradas de árvores e regadas de águas cantantes. Depois, em frente dela, o Recife ; aquele Recife antigo, tradicional, onde os velhos homens da terra tinham as suas moradas alterosas de boa taipa, os tratantes judeus as suas escuras lojas de moeda e de mercancia.
Lá estava, à sombra dos falcões de bronze dos fortes, a casa de pedra de João Blaar, o sangrento general de Holanda. Rente dela, com as portas de rótula, a casinha de Frei Manuel do Salvador, o cura jeitoso e politicão, reinol de muitas letras e de muitas lábias. Além, toda de madeira pintada, como em Flandres, a chácara de Gilberto Van Dirth, flamengo apelintrado, um dos três do Conselho Político. Depois, entre coqueiros, o casarão de Gaspar Dias Ferreira, tremendo velhaco, rabulejador e patoteiro, o mais querido dos amigos do Príncipe. Enão era só. Lá se viam pela cidade , chatas, nuas de enfeites, as moradas de todos os principais do país: a de João Fernandes Vieira, altíssimo personagem da terra, mercante afortunado e rico ; a de Antônio Bezerra, velho moedor de canas, pessoa de grandes teres e de grande vida; a de Antônio Cavalcanti, sombrio inimigo de João Fernandes, homem emproado, imensamente ensoberbecido do seu sangue e da sua linguagem; a de Sebastião de Carvalho, lavrador de pau-de-tinta, sujeito estranho, de poucas falas, devotado parceiro dos holandeses...
Maurício, da praia, contemplava, orgulhoso, o panorama soberbo. Com um sorriso, o coração inflamado, não pode reprimir-se:
_Como isto é belo, Carlos Tourlon! Como é formosa esta terra! É a mais formosa terra do mundo ...
(...) Os cavaleiros marchavam em silêncio. Entraram de novo pelas ruas do Recife. Atravessaram a ponte. De súbito, ao penetrar na Cidade Mauricia, a comitiva topou de chofre com Frei Manuel Salvador "
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