Schopenhauser | Thomas Mann

Autor: Thomas Mann
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No caráter mau exprime-se uma vontade imperiosa, que ultrapassa a afirmação de seu próprio corpo, mas, sobretudo, uma profunda impotência do conhecimento para se libertar das aparências assim como do princípio de individuação, a ponto de se manter duro como o ferro na diferença que este princípio estabelece entre sua própria pessoa e todas as outras; é precisamente porque considera a essência das outras inteiramente estranha à sua, separada dela por um abismo, e porque nelas não vê, no sentido literal da palavra, mais que máscaras vazias,' atribuindo-se, com a mais profunda convicção, a única realidade que exista. A bondade é positiva. Faz obra de amor. Age, assim, por uma razão que sente profundamente: se não o fizesse, julgar-se-ia semelhante a um homem que jejuasse hoje a fim de ter amanhã mais do que pode consumir. É exatamente assim que pensaria o "homem de bem", se deixasse os outros na indigência, enquanto ele próprio vivesse na abastança. Para ele, o véu de Maia tornou-se transparente; desapareceu a grande ilusão que dá à vontade dispersa nos fenômenos a aparência de gozar aqui e sofrer ali, quando é sempre a mesma vontade e o mesmo tormento que ela causa e sofre ao mesmo tempo. 0 amor e a bondade são compaixão, nascida do conhecimento do "Tat twan asi ", do "Isto, és tu", do gesto que levanta o véu de Maia. Já o dissera Spinoza : "Benevolentia nihil aliud est, quam cupiditas ex commiseratio orta", "a bondade não é mais que o amor nascido da compaixão". Mas daí resulta claramente que, se a justiça se ergue até à vontade, pode esta por sua vez se alçar ainda, não somente até ao amor mais desinteressado e ao mais generoso sacrifício, mas na verdade, até à santidade. Porque, quando um homem chegou a tal conhecimento do amor, considera o sofrimento de tudo que vive como o seu e se apropria da dor do mundo inteiro.
Vê o Todo. a vida, contradição interna da vontade e sofrimento que não cessa. a humanidade sofredora, a animalidade sofredora, e o conhecimento da coisa em si torna-se para êle um alívio do querer. Nele, a vontade se desviara da vida, porque, já que a sua compaixão refletida o obriga a negá-la, como poderia aprovar ainda. compreendendo aí a si próprio, o querer viver, de que a vida é a obra, a expressão e o espelho? A resolução que. chegado a tal compreensão, toma um homem é a da renúncia, da resignação, da suprema impassibilidade. Nele se realiza a passagem da virtude para o nobre paradoxo da ascese, um grande paradoxo, na verdade; porque acontece então que uma individuação da vontade renega o ser que nela aparece e que se exprime por seu corpo, que seus atos desmentem sua aparência e entram em luta aberta com ela. 0 asceta recusa-se a satisfazer o sexo: sua castidade é o signo de que, com a vida desse corpo, a vontade, de que ele é a manifestação, igualmente se anula. Como definir o santo? Aquele que não faz nada de tudo que deseja e faz tudo que não deseja. Ora, a castidade ascética, tornada regra geral, acarretaria o fim da espécie humana. Mas, dada a estreita ligação de todas as manifestações da vontade, a mais alta de todas, o homem, em sua queda, arrastará também seu débil reflexo, a animalidade, e, como assim todo conhecimento se suprimiria, o mundo inteiro - pois sem sujeito não há objeto - por si mesmo cairia no Nada. 0 homem é, em potência, o salvador da natureza. É por isso que Angelus Silesius, o místico, exclama Homem! Todas as coisas te amam e correm para ti: Tudo corre para ti para chegar a Deus.
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Vê o Todo. a vida, contradição interna da vontade e sofrimento que não cessa. a humanidade sofredora, a animalidade sofredora, e o conhecimento da coisa em si torna-se para êle um alívio do querer. Nele, a vontade se desviara da vida, porque, já que a sua compaixão refletida o obriga a negá-la, como poderia aprovar ainda. compreendendo aí a si próprio, o querer viver, de que a vida é a obra, a expressão e o espelho? A resolução que. chegado a tal compreensão, toma um homem é a da renúncia, da resignação, da suprema impassibilidade. Nele se realiza a passagem da virtude para o nobre paradoxo da ascese, um grande paradoxo, na verdade; porque acontece então que uma individuação da vontade renega o ser que nela aparece e que se exprime por seu corpo, que seus atos desmentem sua aparência e entram em luta aberta com ela. 0 asceta recusa-se a satisfazer o sexo: sua castidade é o signo de que, com a vida desse corpo, a vontade, de que ele é a manifestação, igualmente se anula. Como definir o santo? Aquele que não faz nada de tudo que deseja e faz tudo que não deseja. Ora, a castidade ascética, tornada regra geral, acarretaria o fim da espécie humana. Mas, dada a estreita ligação de todas as manifestações da vontade, a mais alta de todas, o homem, em sua queda, arrastará também seu débil reflexo, a animalidade, e, como assim todo conhecimento se suprimiria, o mundo inteiro - pois sem sujeito não há objeto - por si mesmo cairia no Nada. 0 homem é, em potência, o salvador da natureza. É por isso que Angelus Silesius, o místico, exclama Homem! Todas as coisas te amam e correm para ti: Tudo corre para ti para chegar a Deus.
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