Diva | José de Alencar

Diva | José de Alencar

Diva | José de AlencarTítulo: Diva
Autor: José de Alencar
Gênero: Romance
Categoria: Literatura Brasileira
Arquivo: PDF
Tamanho: 233 KB

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Envio-lhe outro perfil de mulher, tirado ao vivo, como o primeiro. Deste, a senhora pode sem escrúpulo permitir a leitura à sua neta.

É natural que deseje conhecer a origem deste livro; previno pois sua pergunta.

Foi em março de 1856. Havia dois meses que eu tinha perdido a minha Lúcia; ela enchera tanto a vida para mim, que partindo-se deixou-me isolado neste mundo indiferente. Senti a necessidade de dar ao calor da família uma nova têmpera à minha alma usada pela dor.

Parti para o Recife. A bordo encontrei o Dr. Amaral, que vira algumas vezes nas melhores salas da corte. Formado em medicina, havia um ano apenas, com uma vocação decidida e um talento superior para essa nobre ciência, ele ia a Paris fazer na capital da Europa, que é também o primeiro hospital do mundo, o estádio quase obrigatório dos jovens médicos brasileiros.

Amaral, moço de vinte e três anos, era uma natureza crioula de sangue europeu, plácida e serena, mas não fria; porque sentia-se em torno dela o doce e calmo calor das paixões em repouso. Minha alma magoada devia pois achar, nesse contato brando e suave, a delícia do corpo alquebrado, recostando-se em leito macio e fresco.

Quanto a mim, Lúcia desenvolvera com tanto vigor em meu coração as potências do amor, que cercava-me uma como atmosfera amante, uma evaporação do sentimento que exuberava. Havia em meu coração tal riqueza de afeto que chegava para distribuir a tudo quanto eu via, e sobejava-me ainda.

Essa virtude amante, que eu tinha em toda a minha pessoa, exerceu sobre meu companheiro de viagem influência igual à que produzira em mim sua grande serenidade. Ele fora um repouso para minha alma; eu fui um estímulo para a sua.

Sucedeu o que era natural. Desde a primeira noite passada a bordo, fomos amigos. Essa amizade nascera na véspera, mas já era velha no dia seguinte. As confidências a impregnaram logo de um aroma de nossa mútua infância.

Separamo-nos em Pernambuco, apesar das instâncias de Amaral para que eu o acompanhasse à Europa. Durante dois anos, nos carteamos com uma pontualidade e abundância de coração dignas de namorados. Em sua volta esteve comigo no Recife; escrevi-lhe ainda para o Rio; mas pouco tempo depois minhas cartas ficaram sem resposta, e nossa correspondência foi interrompida.

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