O Missionário | Inglês de Souza

O Missionário | Inglês de Souza

O Missionário | Inglês de SouzaTítulo: O Missionário
Autor: Inglês de Souza
Gênero: Romance
Categoria: Literatura Brasileira
Arquivo: PDF
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Padre Antônio de Morais devia chegar a Silves naquela esplêndida manhã de fevereiro.

A carta que escrevera ao Macário sacristão anunciava o dia da partida, designando o paquete, e pedia uma casa modesta e mobiliada simplesmente. Macário fizera o cômputo do tempo necessário à viagem, rio acima até Silves, e espalhara por toda a vila, havia exatamente quinze dias, a notícia da próxima vinda do vigário enviado pelo Sr. D. Antônio "na solicitude paterna de pastor que não descura a salvação das suas mais obscuras ovelhas", conforme lera o professor Aníbal na Boa nova da última semana. A casa não fora difícil de arranjar, bem perto da Matriz, na melhor situação, olhando para o lago. Era pequena, mas muito arejada e estava caiadinha de novo.

Cedera-a por seis mil-réis mensais o presidente da Câmara, que a mandara preparar para si, com umas veleidades de deixar o sítio ao rio Urubus e vir morar para a vila; mas a força do hábito o fizera desistir do projeto, e depois... a D. Eulália... coitada! não queria ouvir falar em tal mudança, por causa dos seus queridos xerimbabos. Assim o Neves Barriga preferira alugar a casinha, branca e asseada, e resignara-se a continuar enterrado naquele sertão do Urubus, matando carapanãs e fazendo farinha de mandioca. O Antônio Capina, por muito empenho, só pudera fornecer uma mesa de pinho, envernizada e decente e a marquesa de palhinha que fora do último juiz municipal, reformada para servir a "algum desses esquisitos lá de fora que não gostam de dormir em rede". As cadeiras, a mesa de jantar, o lavatório, a bacia de banho, tinha-os o Macário pedido emprestado ao capitão Mendes da Fonseca, que, em toda a vila, possuía as melhores coisas desse gênero. Para ornar a parede do fundo da sala, o professor Aníbal emprestara uma grande gravura, representando a batalha de Solferino, e retratos de Pio IX, de Antonelli, de Cavour, da princesa Estefânia e do conselheiro Paranhos. A louça, tanto a de mesa como a de cozinha, compunha-se do que o Macário pudera arrancar à cobiça da Chiquinha do Lago, restos do espólio do finado padre José, e do que comprara na casa do Costa e Silva. Estava tudo decente.

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