História da Matemática

520 a.C. – O matemático grego Eudoxo de Cnido (400?-350? a.C.) cria
uma definição para os números irracionais. São frações que não podem ser
escritas na forma usual, como quatro quintos (quatro dividido por cinco) ou
três quartos. Um exemplo é a raiz quadrada de 2; não existem dois números que,
divididos um pelo outro, deem esse resultado. Para escrever esse número é
preciso usar infinitos algarismos. De maneira aproximada, ele vale 1,4142135.
Os gregos e o infinito – Antes de Eudoxo, o filósofo Pitágoras (580
a.C.-500 a.C.), também um matemático brilhante além de líder religioso, tentou
banir o estudo dos números irracionais porque não aceitava que eles tivessem de
ser escritos com infinitos algarismos. Apesar de seu esforço, os irracionais
foram aceitos, como se aceitaram, também, as somas infinitas. Uma delas manda somar
1 mais meio mais a metade de meio, que é um quarto, mais a metade de um quarto
(um oitavo) mais a metade disso (um dezesseis avos), e assim por diante,
indefinidamente. Mas, se a soma possui infinitas parcelas, como pode ser
somada? Pois os gregos arranjaram um meio de fazer a conta, descobrindo que o
resultado é simplesmente 2.
300 a.C. – A geometria da Antiguidade chega ao ápice com o grego
Euclides. Vivendo em Alexandria, ele sistematiza todos os conhecimentos
acumulados até então por seu povo nos dois séculos anteriores, além de diversos
teoremas que ele mesmo demonstra. O resultado é o livro Elementos.
250 – Fugindo da tradição grega, que era centrada na geometria,
Diofante (século III) inicia um estudo rigoroso de diversos problemas numa área
da matemática hoje chamada de álgebra. Uma questão típica algébrica (muito
simples): se um homem tem certa idade e seu filho, de 10 anos, a metade dessa
idade menos cinco anos, quantos anos tem o pai? Em forma matemática, essa
pergunta se escreveria: 10 = x/2 - 5.
500 – O algarismo zero até essa época sempre fica subentendido ao
escrever um número que precise dele (como o 10, no sistema atual). Um indiano,
cujo nome se perdeu na história, cria um símbolo para o zero. Os árabes começam
a usá-lo por volta do ano 700. Em 810, ele aparece explicitamente num texto do
sábio Muhammad ibn Al-Khwarizmi (780-850).
1202 – O matemático italiano Leonardo Fibonacci (1170?-1240) é o
primeiro europeu a usar os algarismos arábicos, que são empregados atualmente
para escrever os números. Até então, os europeus utilizavam os algarismos
romanos, como o I (que vale 1), o V (5) e o X (10). Fibonacci também adota o
zero, que os europeus já conheciam, mas, na prática, não empregavam.
1535 – Encontra-se um método para resolver as equações algébricas
de terceiro grau. São aquelas em que a incógnita aparece elevada ao cubo, como
na equação x³ + 1 = 0. A autoria da fórmula é disputada por dois italianos:
Niccolò Tartaglia (1499-1557) e Geronimo Cardano (1501-1576).
1545 – Primeira sugestão de que certas contas podem ter como
resultado um número negativo. A proposta causa espanto porque, na época, parece
absurdo algo ser menor que nada, ou seja, zero. O italiano Geronimo Cardano, no
entanto, usa os novos números para resolver problemas como o de alguém que
gastou mais do que possui no banco, tendo então saldo negativo. Assim, ele
resolve equações que até então ficavam sem resposta.
1551 – Surge a trigonometria, que facilita muito os cálculos,
especialmente os celestes, em que é preciso somar, diminuir ou multiplicar
valores de ângulos. A trigonometria estabelece regras que transformam os
ângulos em números comuns. Exemplo: em vez de um ângulo de 30º, pode-se falar
no seno de 30, que vale 0,5. O criador do novo cálculo é o alemão Georg Joachim
Iserin von Lauchen (1514-1576), conhecido como Rético, aluno do astrônomo
polonês Nicolau Copérnico .
Complicar para simplificar – Diversas novidades na matemática são
criadas para evitar o trabalho que dá efetuar contas muito extensas e em grande
quantidade. É assim que surgem tanto a trigonometria como o logaritmo, duas
ferramentas de uso bastante sofisticado. Mas quem precisa fazer cálculos muito
trabalhosos percebe vantagens numa complicação aparentemente desnecessária. A
ciência e a tecnologia não se teriam desenvolvido sem esses instrumentos
essenciais.
1591 – O francês François Viète (1540-1603) abandona a prática de
escrever matemática por meio de palavras. Até então, as equações, os números e
as incógnitas eram apresentados por extenso, de maneira trabalhosa e confusa.
Viète passa a representar suas equações utilizando como símbolos as letras do
alfabeto. Uma soma, por exemplo, fica assim: x+y = z. Isso torna a resolução de
problemas extremamente mais fácil.
1614 – Publica-se a primeira tábua de logaritmos. Seu autor é o
escocês John Napier (1550-1617). O logaritmo simplifica cálculos muito
trabalhosos por meio do uso de expoentes, como 2³, que significa 2 x 2 x 2. Ou
seja, 8.
1637 – Surge a geometria analítica, desenvolvida pelo filósofo,
físico e matemático francês René Descartes (1596-1650). A nova disciplina é uma
espécie de mistura entre a álgebra e a geometria, pois Descartes ensina a
transformar pontos, retas e circunferências em números. Depois mostra como
fazer contas com as figuras geométricas. Na geometria analítica, um ponto pode
ser escrito como um par de números na forma (1, 2). Uma reta pode ser uma
equação como x + y = b.
O método científico – No mesmo livro em que desenvolve a geometria
analítica, Discurso sobre o Método, Descartes também estabelece os fundamentos
da ciência da maneira como é entendida até hoje. Para ele, não basta empregar o
raciocínio e a lógica para entender a natureza e o mundo. Observar e
interpretar os fatos, como faziam os antigos, é importante, mas as
interpretações devem ser, em seguida, submetidas à experimentação. Numa
palavra, é preciso testar aquilo que se pensa estar acontecendo. Muitos outros
sábios, como o italiano Galileu Galilei e o inglês Francis Bacon (1561-1626),
escrevem e falam sobre o método científico. Mas é com Descartes que ele ganha
aceitação completa.
1654 – O cálculo das probabilidades é criado pelos matemáticos
franceses Pierre de Fermat (1601-1665) e Blaise Pascal (1623-1662), que também
era físico. Curiosamente, eles desenvolvem esse novo ramo da matemática quase
como uma diversão, com base em um problema levado a eles por um jogador de
dados, Chevalier de Mere. De Mere pergunta se é possível prever os resultados
de um jogo. Os matemáticos dizem que sim - pelo menos em certas circunstâncias
e até certo ponto.
1669 – O físico inglês Isaac Newton (1642-1727) inventa o cálculo
diferencial e integral. Com ele, torna-se possível calcular a área ou o volume
de qualquer figura geométrica, não importa sua forma. Até então, para cada
figura era preciso criar uma fórmula diferente.
Revolução matemática – O cálculo diferencial e integral, que Newton
desenvolve ao mesmo tempo que o alemão Wilheim Leibniz (1646-1716), revoluciona
a matemática. Para saber a área de um círculo, utilizando a nova ferramenta,
basta dividir esse círculo em quadrados iguais, bem pequenos. Em seguida,
calcula-se a área de um quadrado e multiplica-se pelo número total de
quadrados. Com isso, acha-se a área (ou o volume, se for o caso) de qualquer
figura. Os quadrados têm de ser infinitamente pequenos para encher toda a borda
do círculo, e o número de quadrados precisa ser infinito. Portanto, a área
total será uma soma de infinitos termos, tipo de soma que os gregos já sabiam
fazer havia mais de 2 mil anos.
1685 – Criação dos chamados números imaginários. Eles aparecem
quase como um complemento dos números negativos. Durante muito tempo, ninguém
sabe dizer qual seria a raiz quadrada de -1 (menos um). Essa conta não dá -1,
pois -1 é raiz de 1 (porque -1 vezes -1 é 1). Ela também não dá 1, que também é
raiz de 1. O inglês John Wallis (1616-1703) resolveu a questão criando um
número, chamado i, que é a raiz quadrada de -1. Quer dizer que i vezes i dá -1.
O i é o mais simples dos números imaginários, que, apesar do nome, são tão
verdadeiros quanto os outros números.
1744 – A família de números transcendentais entra para o mundo da
matemática encontrada pelo suíço Leonard Euler (1707-1783). Euler estuda as
chamadas equações algébricas, que possuem, por exemplo, a forma x²+x+1= 0.
Percebe que elas têm todos os tipos de solução: números inteiros, imaginários,
irracionais, frações etc. Mas nenhuma equação dessa categoria jamais dá, por
exemplo, uma resposta igual a p (3,1416...). Hoje se sabe que existem infinitos
números que nunca podem ser solução de uma equação algébrica. São os chamados
transcendentais.
1822 – O desenvolvimento da geometria projetiva abre caminho para a
geometria moderna. Esse novo ramo de estudo analisa as formas geométricas de
vários ângulos. Assim, uma pirâmide vista de cima aparece como um quadrado;
vista de lado, torna-se um triângulo. Seu criador é o francês Jean Victor
Poncelet (1788-1867).
1824 – O norueguês Niels Henrik Abel (1802-1829) descobre que é
impossível resolver as equações de quinto grau. Durante anos, os matemáticos
haviam procurado uma fórmula para chegar a um resultado. São equações em que a
incógnita vem elevada à quinta potência, na forma x5+x4+x³+x²+x+1 = 0.
1826 – A geometria não euclidiana é criada pelo russo Nicolai
Ivanovich Lobachevsky (1792-1856). Segundo ele, para que os teoremas de
Euclides sejam válidos é desnecessário supor que só dá para construir uma
paralela a uma reta passando por um ponto fora dessa reta. Esse conceito vinha
sendo um dos alicerces da geometria desde cerca de 300 a.C. Com base na ideia
oposta, de que é possível construir infinitas paralelas a uma reta passando por
um ponto fora dessa reta, Lobachevsky elabora a nova geometria.
1874 – Demonstra-se que existem números maiores que o infinito.
Eles são chamados pelo alemão Georg Cantor (1845-1918) de transfinitos. Na
série dos números inteiros, que vai de 1, 2, 3 até o infinito, há infinitos
números. Em outra sequência, além do 1, 2, 3 até o infinito, entram também
todas as suas frações (como o 1,0001, por exemplo). Dá para provar que essa
sequência é maior que a primeira série. Então, como essa é infinita, a
quantidade de números da segunda sequência é maior que o infinito.
1899 – A geometria passa pela reforma mais profunda desde sua criação,
mais de dois milênios atrás. O autor é o alemão David Hilbert (1862-1943), que
analisa todas as novidades incorporadas à matemática nos séculos anteriores e a
geometria é reescrita.
1931 – O alemão Kurt Gödel (1906-1978) demonstra que, dentro de qualquer
sistema matemático, como a álgebra ou a geometria, sempre existem teoremas que
não podem ser provados nem desmentidos.
1977 – A Teoria do Caos começa a se tornar uma disciplina bem
estruturada. Diversos pesquisadores trabalham para aprimorá-la, especialmente o
norte-americano Robert Stetson Shaw (1945-). Essa teoria surge do estudo de
certas figuras geométricas especiais. Uma árvore cujo tronco se divide em dois
galhos principais, e cada um deles, por sua vez, reparte-se em dois ramos
menores, e assim por diante, contém cópias de si mesma dentro dela e recebe o
nome de fractal. Muita coisa na natureza se comporta como um fractal - como os
redemoinhos, que contêm redemoinhos menores dentro deles. A Teoria do Caos
ensina que todos os fenômenos desse tipo parecem caóticos, mas podem ser
colocados em fórmulas matemáticas.
1993 – O matemático inglês Andrew Wiles (1952-) consegue provar o
último teorema de Fermat. Esse teorema lida com expressões do tipo 3²+4² = 5²
(9+16 = 25) em que o 3, o 4 e o 5 estão elevados ao expoente 2. Fermat afirma,
em 1637, que esse tipo de igualdade só dá certo quando o expoente é 2. Ele diz
ter a prova dessa descoberta, mas não a apresenta. Até hoje há dúvida sobre a
declaração do francês.
1998 – Thomas Hales, da Universidade de Michigan, consegue
demonstrar que há uma maneira ideal de agrupar esferas num certo volume. Essa
ideia havia sido sugerida pela primeira vez há 387 anos pelo astrônomo alemão
Johannes Kepler. Por exemplo: como é possível organizar bolas numa caixa para
fazer caber o maior número delas lá dentro? Segundo Kepler, a resposta é a
disposição mais simples possível: uma bola do lado da outra, em filas
horizontais, e uma exatamente sobre a outra. Provar essa afirmação não é tão
fácil quanto parece, e ela tem importância em diversas áreas da ciência,
inclusive para a Teoria da Comunicação.
2001 – O matemático Michael Rabin, da Universidade Harvard, nos
Estados Unidos, desenvolve um código matematicamente indecifrável, com o qual
será possível, no futuro, criar "chaves" eletrônicas para enviar e
receber mensagens pela internet. Apenas o remetente e o destinatário, de posse
do código, conseguirão saber o seu conteúdo. A descoberta, no entanto, ainda
não foi demonstrada publicamente. A ideia consiste, primeiro, em quebrar uma
mensagem em uma infinidade de trechos bem pequenos. Depois, esses trechos
seriam inseridos em uma imensa sequência de informações sem sentido e enviada
em alta velocidade pela internet. O remetente e o destinatário combinam,
previamente, em quais pontos da sequência serão inseridos os trechos
significativos, que, na chegada da mensagem, serão separados pelo destinatário
da enxurrada de bits sem nexo. A velocidade do fluxo não permitiria que um
estranho tivesse tempo de fazer a separação. Além disso, a massa de informações
que esconde a mensagem seria tão grande que nenhum computador poderia
armazená-la para que alguém pudesse decifrá-la depois.
www.klimanaturali.org
www.klimanaturali.org