Tetragrama | τετραγράμματον

Tetragrama | τετραγράμματον

Tetragrama | τετραγράμματον
Tetragrama, (do grego Tetragrammaton: τετραγράμματον palavra de quatro letras), é a expressão escrita constituída de quatro letras ou sinais gráficos, destinada a representar uma palavra, acrônimo, abreviatura, sigla e também a pauta musical de quatro linhas do canto-chão.

Este artigo aborda especialmente o Tetragrama hebraico (YHWH, JHVH, JHWH, YHVH) que designa o nome pessoal e distintivo do Deus de Israel, como foi originalmente escrito em hebraico e aparece na Torah; yod י heh ה vav ו heh ה ou יהוה (YHWH). O tetragrama , segundo algumas obras de referência, aparece mais de 6.000 (seis mil) vezes (sozinho ou em conjunção com outro "nome" divino) no chamado Antigo Testamento (AT), escrito em sua maioria em hebraico com partes em aramaico. Os nomes Jeová, Iehovah, Javé, Iavé, ou ainda Yahweh, são transliterações para a língua portuguesa do Tetragrama.

O Tetragrama grafado na Torah e no Septuaginta
A antiguidade e legitimidade do Tetragrama como nome de Deus para os judeus pode ser comprovada na conceituada versão em grego da Torah, chamada Septuaginta (ou "Dos Setenta"; abreviação: LXX), em que o Tetragrama aparece grafado em hebraico arcaico (paleo-hebraico) sendo que, em pelo menos um caso, foram encontrados fragmentos da Septuaginta (Levítico capítulo 3, verso 12 e capítulo 4, verso 27) com o Tetragrama representado em letras gregas, onde aparece como "IAO" (o mesmo nome dado pelos gregos ao seu deus Baco) e não "Kyrios" (manuscrito 4Q LXXLevb, caverna nº 4 de Qumran, datado como sendo do século I AEC). Frise-se, entretanto, que cópias da Septuaginta datadas do final do século I EC em diante começaram a substituir o Tetragrama pelo termo grego "Kyrios" ("Senhor").

Os nomes de Deus na tradição Abraamica
Interessante observar que o nome de Deus no Islamismo, "Alah" (que significa "deus" em árabe), guarda relações com a palavra hebraica "Eloah" ou "Eloh" (o primeiro termo é o mais comum nas obras de referência) e a aramaica "Elah", ambas significando "Deus". O plural de Eloah/Eloh é "Elohim" - nome pelo qual Deus se apresenta nos primeiros capítulos do Gênesis, para apresentar-se como YHWH Elohim (pronunciado "Adonai Elohim") nos seguintes. O plural de Elah é "Elahin", que significa literalmente "deuses", ao contrário da língua hebraica, que admite o plural majestático, ou seja, embora o termo "Elohim" esteja morfologicamente no plural é tratado como singular. Hoje é quase ponto pacífico entre os estudiosos que os termos hebraico (Eloah/Eloh/Elohim) e aramaico (Elah) têm origem comum no termo "el", palavra utilizada pelos semitas para designar tanto o Deus Supremo do panteão cananeu (quando é grafado em português com inicial maiúscula, "El") como também qualquer "divindade" ou "deus" (quando é grafado com inicial minúscula, "el"). Ressalte-se, entretanto, que os judeus, quando utilizavam o termo "El", geralmente acompanhado de um designativo como, p. ex., "El-Eljon" (O Altíssimo), "El-Olam" (O Eterno), "El-Roj" (Aquele que aparece) e "El-Shadday" (O Todo-poderoso), suas invocações dirigiam-se a YHWH e não a "El" (como deus dos cananeus). Curiosamente, a ocorrência dos termos "Elohim", "Eloah" e "El", somadas, chegam à metade das do Tetragrama: Elohim é encontrado 2.570 (duas mil quinhentas e setenta) vezes; Eloah, 57 (cinqüenta e sete) vezes (a maioria no livro de Jó); e El, 226 (duzentas e vinte e seis) vezes.

Quando a Bíblia foi traduzida para outras línguas, o Tetragrama foi transliterado como "Jeová" pelas versões da Bíblia que haviam adotado os sons vocálicos de Adonai propostos pelos massoretas. A "American Standard Version" (conhecida pela sigla "ASV") notabilizou-se como uma das traduções que popularizaram sobremaneira o uso do nome "Jeová". Na língua portuguesa, a maioria das traduções verte o Tetragrama por "SENHOR" (assim mesmo, com letras maiúsculas). Outras, seguindo o critério do tradutor, vertem-no de várias maneiras (como já indicado): Jeová (Tradução Brasileira e Tradução do Novo Mundo), Iahweh (Bíblia de Jerusalém), Javé (Bíblia Pastoral).

Razões para a mudança na grafia do nome
O argumento apresentado por longo tempo era o de que os escritores inspirados das Escrituras Gregas Cristãs citaram as Escrituras Hebraicas à base da Septuaginta, e que, visto que esta versão substituíra o Tetragrama por Ký·ri·os ou The·ós, esses escritores não empregaram o nome Jeová. Como se tem demonstrado, este argumento já não é mais válido. Comentando que os fragmentos mais antigos da Septuaginta grega deveras contêm o nome divino em sua forma hebraica, o Dr. P. Kahle diz: “Sabemos agora que o texto grego da Bíblia [a Septuaginta], no que tange a ter sido escrito por judeus para judeus, não traduziu o nome divino por kyrios, mas o Tetragrama escrito com letras hebraicas ou gregas foi retido em tais MSS [manuscritos]. Foram os cristãos que substituíram o Tetragrama por kyrios, quando o nome divino em letras hebraicas não era mais entendido.” (The Cairo Geniza [A Genizá do Cairo], Oxford, 1959, p. 222) Quando é que ocorreu esta mudança nas traduções gregas das Escrituras Hebraicas?

Evidentemente ocorreu nos séculos que se seguiram à morte de Jesus e de seus apóstolos. Na versão grega de Áquila, que data do segundo século EC, o Tetragrama ainda aparecia em caracteres hebraicos. Por volta de 245 EC, o famoso perito Orígenes produziu sua Hexapla, uma reprodução em seis colunas das inspiradas Escrituras Hebraicas: (1) no hebraico e aramaico original, acompanhado por (2) uma transliteração para o grego, e pelas versões gregas (3) de Áquila, (4) de Símaco, (5) da Septuaginta e (6) de Teodócio. À base da evidência das cópias fragmentárias agora conhecidas, o professor W. G. Waddell diz: “Na Hexapla de Orígenes . . . as versões gregas de Áquila, de Símaco, da LXX [Septuaginta], todas representaram JHVH [IHVH] por ????; na segunda coluna da Hexapla, o Tetragrama foi escrito em caracteres hebraicos.” (The Journal of Theological Studies [A Revista de Estudos Teológicos], Oxford, Vol. XLV, 1944, pp. 158, 159) Outros crêem que o texto original da Hexapla de Orígenes usava caracteres hebraicos para o Tetragrama em todas as suas colunas. O próprio Orígenes declarou que “nos manuscritos mais fiéis, O NOME está escrito em caracteres hebraicos, contudo, não nos [caracteres] hebraicos atuais, mas nos mais antigos”.

Ainda no quarto século EC, Jerônimo, o tradutor da Vulgata latina, diz no seu prólogo dos livros de Samuel e de Reis: “E encontramos o nome de Deus, o Tetragrama [i.e., ????], em certos volumes gregos mesmo hoje, expresso em letras antigas.” Numa carta escrita em Roma, em 384 EC, Jerônimo declara: “O nono [nome de Deus] é o Tetragrama, que eles consideravam [a·nek·fó·ne·ton], isto é, inefável, e se encontra escrito nestas letras: Iode, Hê, Vau, Hê. Certos ignorantes, devido à similaridade dos caracteres quando as encontravam nos livros gregos, estavam acostumados a ler ???? [letras gregas que correspondiam às romanas PIPI].” — Papyrus Grecs Bibliques (Papiros Bíblicos Gregos), de F. Dunand, Cairo, 1966, p. 47, n. 4.

Portanto, os chamados “cristãos” que “substituíram o Tetragrama por kyrios” nas cópias da Septuaginta não foram os primitivos discípulos de Jesus. Foram pessoas de séculos posteriores, quando a predita apostasia já estava bem desenvolvida e havia corrompido a pureza dos ensinos cristãos. — 2Te 2:3; 1Ti 4:1.

Usado por Jesus e seus discípulos. Assim, nos dias de Jesus e de seus discípulos, o nome divino, definitivamente, aparecia em cópias das Escrituras, tanto em manuscritos hebraicos como em manuscritos gregos. Será que Jesus e seus discípulos empregavam o nome divino ao falarem ou escreverem? Em vista da condenação, por parte de Jesus, das tradições dos fariseus (Mt 15:1-9), seria muitíssimo desarrazoado concluir que Jesus e seus discípulos permitissem que as idéias farisaicas (tais como as registradas na Míxena) os governassem neste assunto. O próprio nome de Jesus significa “Jeová É Salvação”. Ele declarou: “Vim em nome de meu Pai” (Jo 5:43); ensinou seus seguidores a orar: “Nosso Pai nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6:9); suas obras, disse ele, eram feitas “em nome de meu Pai” (Jo 10:25); e, em oração, na noite anterior à sua morte, disse que tinha tornado manifesto o nome de seu Pai a seus discípulos, e pediu: “Santo Pai, vigia sobre eles por causa do teu próprio nome” (Jo 17:6, 11, 12, 26). Em vista de tudo isto, quando Jesus citava as Escrituras Hebraicas, ou as lia, certamente empregava o nome divino, Jeová. (Compare Mt 4:4, 7, 10, com De 8:3; 6:16; 6:13; também Mt 22:37 com De 6:5; e Mt 22:44 com Sal 110:1; bem como Lu 4:16-21 com Is 61:1, 2.) Logicamente, os discípulos de Jesus, incluindo os escritores inspirados das Escrituras Gregas Cristãs, seguiriam o exemplo dele nisto.

Por que, então, não consta o nome nos manuscritos agora existentes das Escrituras Gregas Cristãs ou do chamado Novo Testamento? Evidentemente, porque na época em que essas cópias agora existentes foram feitas (a partir do terceiro século EC), o texto original dos escritos dos apóstolos e discípulos já havia sido alterado. De modo que copistas posteriores, sem dúvida, substituíram o nome divino na forma do Tetragrama por Ký·ri·os e The·ós. (FOTO, Vol. 1, p. 228) Isto é precisamente o que os fatos mostram ter sido feito em cópias posteriores da tradução Septuaginta das Escrituras Hebraicas.

O Tetragrama é sagrado e impronunciável
A tradição religiosa dos judeus, especialmente a sua tradição esotérica e mística, a cabala, considera o nome de Deus tão sagrado quanto impronunciável. Não se sabe ao certo a origem de tal tradição, ou como ela se desenvolveu com o tempo. Especula-se que ela tenha se originado do receio de se descumprir o terceiro dos chamados Dez mandamentos da Lei de Moisés ("não pronunciarás em falso o nome de Iahweh teu Deus, porque Iahweh não deixará impune aquele que pronunciar em falso o seu nome", Êxodo capítulo 20, verso 7, Bíblia de Jerusalém). De qualquer maneira, os judeus (como eram então chamados os hebreus), no período pós-exílico, já haviam adotado a palavra hebraica "Adonai" (que significa "meu senhor" ou Senhor) ao pronunciarem o Tetragrama. Assim, o Tetragrama recebeu pontos (que são "acentos" do hebráico) que foram colocados por certos estudiosos judeus chamados massoretas, de forma que fosse pronunciado "Adonai". Os pontos massoréticos fazem o papel de vogais na pronúncia, já que assim como outras linguas semíticas o hebraico não possuia vogais, sendo assim reservado aos estudiosos e sacerdotes a correta pronúncia da Torah.

Ademais, em alguns casos, essa mesma tradição mística dos judeus considerava toda a Torah como o nome de Deus, sendo esta a utilidade dos pontos massoréticos, a de conservar a pronúncia da Torah imutável. Segundo a cabala, a Torah teria sido revelada a Moisés no alto do Monte Sinai, e ele teria registrado de forma escrita aquilo que só poderia ser entendido diretamente de Deus. Assim, explica-se porque a Torah é o nome de Deus, mas de forma incompleta, garantindo assim que ele permaneça impronunciável. Uma das interessantes relações do Tetragrama é com o nome de Adão (Yod) e Eva (Chawah) no Gênesis, já que Yod-Chawah é exatamente YHWH, o Tetragrama, dando a entender uma relação mais profunda ainda entre o "Senhor Deus" e sua obra. Com o decorrer do tempo, os judeus adotaram outros epítetos para se referir ao Tetragrama: "O Nome", "O Bendito" ou "O Céu".

Na cabala judaica, as palavras correspondem a valores que são calculados usando-se uma atribuição de valores às letras do alfabeto hebraico. Isto chama-se gematria, e é um dos mais importantes mecanismos de interpretação das escrituras sagradas usados pelos cabalistas e místicos judeus. Usando gematria, os cabalistas calculam o valor numérico do Tetragrammaton como sendo 26 (Iod=10, He=5, Vav=6, He=5, 10+5+6+5=26), cujo número menor é 8 (2+6). Para os rabinos o número 26 também é sagrado pois identifica-se com o Tetragrammaton.

Na cabala, o Golem (ser mítico, presente no folclore judeu, que é tornado vivo por um processo mágico, a semelhança do moderno Frankenstein) recebe a vida através do uso do Tetragrama "YHWH".

Também no ocultismo o Tetragrammaton desempenha um papel importante, sendo usado em invocações e talismãs. Os ocultistas interpretam o Tetragrammaton e outros símbolos cabalisticos como signos mágicos poderosos capazes de abrir as portas da consciência humana.

Pronúncia e transliteração
Desconsiderando-se a discussão sobre sua origem e significado, muitos afirmam peremptoriamente que os sons vocálicos originais do Tetragrama YHWH jamais serão conhecidos, estando perdida, assim, a pronúncia original. Tal posição tem levado a debates acalorados sobre o assunto, tanto por parte de estudiosos como de religiosos, o que tem produzido interessantes ilações. Uns argumentam que a pronúncia do Tetragrama com duas sílabas, como "Javé" (ou "Yahweh"), não permitiria a existência do som da vogal "o" como parte do nome de Deus. Mas, nas dezenas de nomes bíblicos que incorporam o nome divino, o som desta vogal do meio aparece tanto nas formas originais como nas abreviadas, como em Jeonatã e em Jonatã. De modo que o Professor Buchanan diz a respeito do nome divino: "Em nenhum caso se omite a vogal oo ou oh. A palavra era às vezes abreviada como 'Ya', mas nunca como 'Ya-weh'. . . . Quando o Tetragrama era pronunciado com uma só sílaba, era 'Yah' ou 'Yo'. Quando era pronunciado com três sílabas, era 'Yahowah' ou 'Yahoowah'. Se fosse alguma vez abreviado a duas sílabas, teria sido como 'Yaho'." - Biblical Archaeology Review. Tais comentários nos ajudam a entender a declaração feita pelo hebraísta Gesenius, no seu Dicionário Hebraico e Caldaico das Escrituras do Velho Testamento (em alemão): "Os que acham que Ye-ho-wah era a pronúncia real do nome de Deus não estão totalmente sem base para defender sua opinião. Assim se podem explicar mais satisfatoriamente as sílabas abreviadas Ye-ho e Yo, com que começam muitos nomes próprios." No entanto, na introdução da sua recente tradução de The Five Books of Moses (Os Cinco Livros de Moisés), Everett Fox salienta: "Tanto as tentativas antigas como as novas para recuperar a pronúncia 'correta' do nome hebraico de Deus não foram bem-sucedidas; não se pode provar conclusivamente o 'Jeová' que se ouve às vezes, nem o padrão erudito 'Javé' ['Iahweh']."

Sem dúvida, o debate erudito continuará. De um lado, os que propõem que os judeus pararam de pronunciar o nome do seu Deus antes de os massoretas terem desenvolvido o sistema de pontos vocálicos, de modo que, não haveria nenhum modo definitivo para se provar que vogais acompanhavam as consoantes YHWH. De outro, os que afirmam que outros nomes próprios de personagens bíblicos - cuja pronúncia correta nunca se perdeu - fornecem indícios tangíveis da antiga pronúncia do nome de Deus, o que tem levado alguns eruditos a concordarem que a pronúncia "Jeová" ou "Javé" são aceitáveis.

Quando a Bíblia foi traduzida para outras línguas, o Tetragrama foi transliterado como "Jeová" pelas versões da Bíblia que haviam adotado os sons vocálicos de Adonai propostos pelos massoretas. A "American Standard Version" (conhecida pela sigla "ASV") notabilizou-se como uma das traduções que popularizaram sobremaneira o uso do nome "Jeová". Na língua portuguesa, a maioria das traduções verte o Tetragrama por "SENHOR" (assim mesmo, com letras maiúsculas). Outras, seguindo o critério do tradutor, vertem-no de várias maneiras (como já indicado): Jeová (Tradução Brasileira e Tradução do Novo Mundo), Iahweh (Bíblia de Jerusalém), Javé (Bíblia Pastoral).

Superstição oculta o nome
Em determinado período, surgiu entre os judeus uma idéia supersticiosa, de que era errado até mesmo pronunciar o nome divino (representado pelo Tetragrama). Não se sabe exatamente em que se baseou originalmente a descontinuidade do uso deste nome. Alguns sustentam que o nome era considerado sagrado demais para ser proferido por lábios imperfeitos. Todavia, as próprias Escrituras Hebraicas não apresentam nenhuma evidência de que quaisquer dos verdadeiros servos de Deus alguma vez hesitassem em proferir o nome Dele. Documentos hebraicos não-bíblicos, tais como as chamadas Cartas de Laquis, mostram que o nome era usado na correspondência comum na Palestina na última parte do sétimo século AEC.

Outro conceito sustenta que se pretendia impedir que povos não-judaicos conhecessem o nome e possivelmente o usassem mal. Todavia, o próprio Jeová disse que faria com que ‘seu nome fosse declarado em toda a terra’ (Êx 9:16; compare isso com 1Cr 16:23, 24; Sal 113:3; Mal 1:11, 14), para ser conhecido até mesmo aos seus adversários. (Is 64:2) De fato, o nome era conhecido e usado por nações pagãs tanto antes da Era Comum como nos primeiros séculos dela. (The Jewish Encyclopedia [A Enciclopédia Judaica], 1976, Vol. XII, p. 119) Outra alegação é que o objetivo era proteger o nome contra o uso em ritos mágicos. Neste caso, trata-se de raciocínio fraco, pois é óbvio que, quanto mais misterioso se tornasse o nome por falta de uso, tanto mais serviria para os objetivos dos praticantes da magia.

Quando se arraigou essa superstição?
Assim como não se tem certeza do motivo ou motivos originalmente apresentados para se descontinuar a usar o nome divino, assim também há muita incerteza quanto à época em que tal conceito supersticioso realmente se arraigou. Alguns afirmam que começou após o exílio babilônico (607-537 AEC). Esta teoria, porém, baseia-se numa suposta redução do uso do nome por parte de escritores posteriores das Escrituras Hebraicas, conceito este que um exame mais detido mostra inválido. Malaquias, por exemplo, foi evidentemente um dos últimos livros das Escrituras Hebraicas a ser escrito (na última metade do quinto século AEC), e dá grande destaque ao nome divino.

Muitas obras de referência sugerem que o nome deixou de ser usado por volta de 300 AEC. Evidência para esta data foi supostamente encontrada na ausência do Tetragrama (ou de uma transliteração dele) na tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas, iniciada por volta de 280 AEC. É verdade que as cópias mais completas dos manuscritos da Septuaginta agora conhecidas seguem uniformemente o costume de substituir o Tetragrama pelas palavras gregas Ký·rios (Senhor) ou The·ós (Deus). Estes manuscritos principais, porém, remontam apenas ao quarto e ao quinto séculos EC. Descobriram-se recentemente cópias mais antigas, embora em forma fragmentária, que provam que as cópias mais antigas da Septuaginta continham deveras o nome divino.

Uma delas são os restos fragmentários dum rolo de papiro duma parte de Deuteronômio, alistado como P. Fouad Inventário N.° 266. Apresenta regularmente o Tetragrama, escrito em caracteres hebraicos quadrados, em cada ocorrência no texto hebraico traduzido. Os peritos datam este papiro como do primeiro século AEC, e neste caso foi escrito quatro ou cinco séculos antes dos manuscritos já mencionados.

Quando foi que os judeus, em geral, realmente pararam de pronunciar o nome pessoal de Deus?
Assim, pelo menos em forma escrita, não existe evidência sólida de qualquer desaparecimento ou desuso do nome divino no período AEC. No primeiro século EC, surge pela primeira vez alguma evidência duma atitude supersticiosa para com esse nome. Josefo, historiador judeu que descendia duma família sacerdotal, ao narrar a revelação que Deus forneceu a Moisés no local do espinheiro ardente, diz: “Então, Deus lhe revelou Seu nome, que antes disso não tinha chegado aos ouvidos dos homens, e sobre o qual estou proibido de falar.” (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], II, 276 [xii, 4]) No entanto, a declaração de Josefo, além de ser inexata quanto a se conhecer o nome divino antes de Moisés, é vaga e não revela de forma clara exatamente qual era a atitude geral prevalecente no primeiro século quanto a se pronunciar ou empregar o nome divino.

A Míxena judaica, uma coleção de ensinos e de tradições rabínicos, é um tanto mais explícita. Credita-se sua compilação ao rabino Judá, o Príncipe, que viveu no segundo e no terceiro séculos EC. Parte da matéria da Míxena relaciona-se claramente às circunstâncias anteriores à destruição de Jerusalém e do seu templo, em 70 EC. No entanto, certo perito diz a respeito da Míxena: “É extremamente difícil decidir que valor histórico devemos atribuir a qualquer tradição registrada na Míxena. O espaço de tempo, que talvez tenha contribuído para obscurecer ou distorcer as lembranças de épocas tão diferentes; as sublevações políticas, as mudanças e as confusões resultantes de duas rebeliões e de duas conquistas romanas; os padrões prezados pelo partido dos fariseus (cujas opiniões a Míxena registra), que não eram os do partido dos saduceus . . . — estes são fatores a que se deve dar o devido peso na avaliação do caráter das declarações da Míxena. Além disso, há muita coisa no conteúdo da Míxena que se encontra num ambiente de discussão acadêmica travada só pela discussão, (conforme parece) com pouca pretensão de registrar usos históricos.” (The Mishnah [A Míxena], traduzida para o inglês por H. Danby, Londres, 1954, pp. xiv, xv) Algumas das tradições da Míxena referentes à pronúncia do nome divino são como segue:

Relacionado com o anual Dia da Expiação, a tradução da Míxena por Danby declara: “E quando os sacerdotes e o povo, que estavam de pé no Pátio do Templo, ouviam o Nome Expresso sair da boca do Sumo Sacerdote, costumavam ajoelhar-se, e curvar-se, e prostrar-se, e dizer: ‘Bendito seja o nome da glória do seu reino para todo o sempre!’” (Yoma 6:2) A respeito das bênçãos sacerdotais diárias, Sotah 7:6, diz: “No Templo, eles pronunciavam o Nome assim como estava escrito, mas, nas províncias, usavam uma palavra substituta.” Sanhedrin 7:5, declara que o blasfemador não era culpado ‘a menos que tivesse pronunciado o Nome’, e que, num julgamento que envolvesse uma acusação de blasfêmia, usava-se um nome substituto até que toda a evidência tivesse sido ouvida; daí, pedia-se em particular à testemunha principal que ‘dissesse expressamente o que ouvira’, presumivelmente usando o nome divino. Sanhedrin 10:1, ao alistar aqueles “que não têm parte no mundo vindouro”, declara: “Abba Saul diz: Também aquele que pronunciar o Nome com as suas letras corretas.” Todavia, apesar destes conceitos negativos, encontramos também, na primeira seção da Míxena, a injunção positiva de que “o homem deve cumprimentar seu próximo com [o emprego de] o Nome [de Deus]”, citando-se então o exemplo de Boaz (Ru 2:4). — Berakhot, 9:5.

Estes conceitos tradicionais, encarados pelo que possam valer, talvez revelem uma tendência supersticiosa de evitar o uso do nome divino algum tempo antes de o templo de Jerusalém ser destruído em 70 EC. Mesmo então, diz-se explicitamente que eram primariamente os sacerdotes que usavam um nome substituto para o nome divino, e isso apenas nas províncias. Adicionalmente, o valor histórico das tradições da Míxena é questionável, conforme vimos.

Não existe, portanto, nenhuma base genuína para se atribuir a qualquer época anterior ao primeiro e ao segundo séculos EC o desenvolvimento do conceito supersticioso que exigia a descontinuação do uso do nome divino. Chegou deveras a época, contudo, em que, ao fazer a leitura das Escrituras Hebraicas na língua original, o leitor judeu, em vez de pronunciar o nome divino, representado pelo Tetragrama, o substituía por ’Adho·naí (Soberano Senhor) ou por ’Elo·hím (Deus). Nota-se isto no fato de que, quando os sinais vocálicos passaram a ser empregados, na segunda metade do primeiro milênio EC, os copistas judeus inseriram no Tetragrama os sinais vocálicos quer de ’Adho·naí, quer de ’Elo·hím, evidentemente para alertar o leitor a proferir essas palavras, em lugar de pronunciar o nome divino. Caso ele estivesse usando a tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas em cópias posteriores, o leitor, naturalmente, encontraria o Tetragrama já inteiramente substituído por Ký·rios e The·ós.

Traduções para outras línguas, tais como a Vulgata latina, seguiram o exemplo destas cópias posteriores da Septuaginta grega. A versão católica de Antônio Pereira de Figueiredo (originalmente de 1778-1790), baseada na Vulgata latina, por isso, não traz o nome divino no texto principal, ao passo que a Trinitariana e a versão Matos Soares empregam Senhor ou Deus (às vezes todo em maiúsculas) para representar o Tetragrama nas Escrituras Hebraicas.

Qual é a pronúncia correta do nome de Deus?
Na segunda metade do primeiro milênio EC, peritos judeus introduziram um sistema de sinais para representar as vogais ausentes no texto consonantal hebraico. Com referência ao nome de Deus, em vez de inserir os sinais vocálicos corretos dele, colocaram outros sinais vocálicos para lembrar ao leitor que ele devia dizer ´Adho·naí (que significa “Soberano Senhor”) ou ´Elo·hím (que significa “Deus”).

O Códice Leningrado B 19A, do século 11 EC, tem no Tetragrama os sinais vocálicos para rezar Yehwáh, Yehwíh e Yeho·wáh. A edição de Ginsburg do texto massorético tem no nome divino sinais vocálicos para que reze Yeho·wáh. (Gên 3:14 n) Os hebraístas em geral são a favor de “Yahweh” (Iahweh, ou Javé, em Bíblias católicas) como a pronúncia mais provável. Salientam que a forma abreviada do nome é Yah (Jah, na forma latinizada), como no Salmo 89:8 e na expressão Ha·lelu-Yáh (que significa “Louvai a Jah!”). (Sal 104:35; 150:1, 6) Também as formas Yehóh, Yoh, Yah e Yá·hu, encontradas na grafia hebraica dos nomes Jeosafá, Josafá, Sefatias e outros, podem todas ser derivadas de Yahweh. As transliterações gregas feitas pelos primitivos escritores cristãos indicam uma direção algo similar por usar grafias tais como I·a·bé e I·a·ou·é, as quais, conforme pronunciadas em grego, se assemelham a Yahweh (Iahweh). Ainda assim, de modo algum há unanimidade sobre o assunto entre os peritos, sendo alguns a favor de ainda outras pronúncias, tais como “Yahuwa”, “Yahuah” ou “Yehuah”.

Visto que, atualmente, não se pode ter certeza absoluta da pronúncia, parece não haver nenhum motivo para abandonar, em português, a forma bem conhecida, “Jeová”, em favor de outra pronúncia sugerida. Se tal mudança fosse feita, então, a bem da coerência, deviam ser feitas alterações na grafia e na pronúncia de uma infinidade de outros nomes encontrados nas Escrituras: Jeremias seria mudado para Yir·meyáh, Isaías se tornaria Yesha`·yá·hu, e Jesus seria ou Yehoh·shú·a` (como no hebraico), ou I·e·soús (como no grego). O objetivo das palavras é transmitir idéias; em português, o nome Jeová identifica o verdadeiro Deus, transmitindo esta idéia mais satisfatoriamente, hoje em dia, do que qualquer dos substitutos sugeridos.

Importância do Nome
Muitos peritos e tradutores atuais da Bíblia advogam que se siga a tradição de eliminar o nome distintivo de Deus. Não só alegam que a incerteza a respeito da pronúncia do nome justifica tal proceder, mas também sustentam que a supremacia e a existência ímpar do verdadeiro Deus tornam desnecessário que Ele tenha um nome específico. Tal conceito não encontra respaldo nas Escrituras inspiradas, quer nas dos tempos pré-cristãos, quer nas Escrituras Gregas Cristãs.

O Tetragrama ocorre 6.828 vezes no texto hebraico da Biblia Hebraica e da Biblia Hebraica Stuttgartensia. Nas Escrituras Hebraicas, a Tradução do Novo Mundo contém o nome divino 6.973 vezes, porque os tradutores, entre outras coisas, levaram em conta que, em alguns lugares, os escribas haviam substituído o nome divino com ´Adho·naí ou ´Elo·hím. A própria freqüência do aparecimento do nome atesta sua importância para o Autor da Bíblia, que leva este nome. Seu uso em todas as Escrituras ultrapassa em muito o de quaisquer títulos, tais como “Soberano Senhor” ou “Deus”, aplicados a Ele.

Digno de nota, também, é a importância atribuída aos próprios nomes nas Escrituras Hebraicas e entre os povos semíticos. O professor G. T. Manley indica: “Um estudo da palavra ‘nome’ no V[elho] T[estamento] revela o quanto esta palavra significa em hebraico. O nome não é simples rótulo, mas é representativo da verdadeira personalidade daquele a quem pertence. . . . Quando uma pessoa coloca seu ‘nome’ numa coisa ou em outra pessoa, esta passa a ficar sob sua influência e proteção.” — New Bible Dictionary (Novo Dicionário da Bíblia), editado por J. D. Douglas, 1985, p. 430; compare isso com Everyman’s Talmud (O Talmude de Todos), de A. Cohen, 1949, p. 24; Gên 27:36; 1Sa 25:25; Sal 20:1; Pr 22:1.

Também em algumas denominações religiosas, como por exemplo as Testemunhas de Jeová, o nome do Senhor é considerado muito importante. As Testemunhas de Jeová afirmam que quem não utiliza esse nome será destruído numa guerra que Deus travará com a humanidade chamada Armagedom.

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