Resenha do Livro “A Aventura da Reportagem”

Resenha do Livro “A Aventura da Reportagem”

Resenha do Livro “A Aventura da Reportagem”Escrito pelos jornalistas Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho, A aventura da reportagem se destaca como sendo um livro que conta os bastidores, por assim dizer, da reportagem. Ou seja, a intenção dos autores é justamente contar o outro lado da reportagem, aquele que o leitor/telespectador não toma conhecimento. O público-alvo do livro são os estudantes de jornalismo e todos aqueles que apreciam o jornalismo. Gilberto Dimenstein deixa claro que a intenção do livro não é ser um manual de instruções para os futuros jornalistas, porque, segundo ele, não existem fórmulas prontas para se fazer reportagens – a boa reportagem dependerá do talento individual do jornalista e das técnicas usadas por ele para chegar à “melhor versão da verdade”.

A abertura de A aventura da reportagem é feita pelo escritor Clóvis Rossi que assevera: repórter é, sim, fundamental, pois as histórias que viram notícias (ou mesmo reportagens) acontecem na “rua”, nunca numa redação de jornal ou TV. Portanto, é o repórter o responsável pela informação. O livro é dividido em duas partes, Armadilha do poder - Gilberto Dimenstein – que desvenda os porões do poder em Brasília e No olho da rua - Ricardo Kotscho – que conta histórias de pessoas anônimas sem aparente interesse, mas que por trás revelam ser ótimas histórias.

Gilberto Dimenstein traz à tona personagens e histórias dos bastidores do poder muitas vezes que não tiveram cobertura jornalística. Essas histórias de Dimenstein são um suporte para aqueles que estão começando, haja vista que traz detalhes de como a maneira de agir do jornalista influenciou no andamento dessas histórias. No texto não restam dúvidas de que os jornalistas políticos, não apenas de Brasília, devem tomar cuidado em dobro em relação aos jornalistas de áreas diferentes, pois os interesses contidos em cada informação dada são influenciados pela busca do poder, em que não existem limites éticos.

Um conselho importante que Gilberto Dimenstein dá aos estudantes de jornalismo diz respeito às fontes, principalmente na questão de informações on e off , já que os políticos (ou aqueles que fazem parte do poder) preferem passar informações em que não identificam-se (off), o que configura muitas vezes somente boatos para prejudicar o adversário político – prejudicando também o próprio jornalista se ele publicar o boato como verdade, pois assumiu inteira responsabilidade ao não citar a fonte. Destaca-se no livro uma frase dita por ACM: “Há dois tipos de jornalistas: os que gostam de dinheiro e os que gostam de informação. Nunca se deve dar dinheiro aos que querem informação. E nem informação aos que querem dinheiro”. Dimenstein diz que essa visão, a despeito de ser exagerada, traz  “ingredientes de verdade”, citando que quando ele chegou em Brasília, no ano de 1983, ficou impressionado com o número de jornalistas que trabalhavam no Congresso. Esse duplo emprego dos jornalistas acabava facilitando o suborno por parte dos congressistas aos jornalistas.

Logo após, Gilberto retoma a ideia de suborno apontada por Antônio Carlos Magalhães e faz inferências acerca do jornalismo independente, isto é, aquele que não depende do dinheiro, em especial de políticos, para dar a informação. Ainda segundo Gilberto, jornalismo independente é sinônimo de credibilidade, e um relacionamento promíscuo entre o repórter e a fonte é denominado de “fontismo”. Nesse sentido, para não se ser um jornalista com credibilidade, mas sem perder a fonte, faz-se necessário um “malabarismo para que não se fique tão distante das fontes a ponto de perder a informação”. É relatado por Gilberto vários governos que passaram e histórias não-publicadas, sempre com um grande aprendizado para jornalistas inexperientes – esse, talvez, seja o ponto crucial da parte que coube a Gilberto Dimenstein em A aventura da reportagem.

O jornalista Ricardo Kotscho começa contando a sua infância e juventude e a dificuldade de sua mãe em aceitar sua escolha de se formar jornalista. Ele narra acontecimentos e episódios pelos quais passou desde o Golpe Militar de 1964 até à primeira campanha presidencial do (até então líder sindical) Luís Inácio Lula da Silva, do qual foi coordenador. Com menos de 18 anos, Ricardo começou a exercer o jornalismo profissionalmente e de uma maneira diferente de seus colegas de profissão: enquanto todos ouviam a versão oficial, ele buscava ao máximo ouvir o lado oposto, os anônimos. A principal característica de seus textos era justamente casos incomuns, de pessoas comuns e com ótimas histórias a serem contadas.

Passando por diversos jornais, ele conta as experiências pelas quais passou em cada meio comunicativo, dando destaque ainda à sua carreira como correspondente internacional que, ainda conforme Ricardo Kotscho foi imprescindível para seu crescimento profissional e pessoal. Mesmo morando em outro país (Alemanha Oriental, mais precisamente em Bern – capital), Ricardo nunca deixou de se interessar por assuntos brasileiros, sempre coletando informações na própria Alemanha que pudesse, de algum modo, contribuir com seus colegas jornalistas no Brasil.

Ricardo Kotscho viveu árduos momentos da ditadura militar no Brasil, como a repressão aos ideais de liberdade de expressão e opinião, tanto como cidadão quanto jornalista, integrante de um órgão de comunicação. Não foram tempos fáceis, segundo sua narrativa, o que o fez valorizar ainda mais todo o processo de redemocratização do país, ainda que a campanha política que organizou para eleger Lula não tenha saído vitoriosa.

Talvez a maior lição que se pode depreender de A aventura da reportagem e das aventuras contadas por seus autores, Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho, seja a de que por mais que se enfrente dificuldades em ser repórter (ou mesmo jornalista), por mais que nós, repórteres, sejamos de fato idiotas – como afirmou Clóvis Rossi na abertura do livro deste presente resumo, as experiências que adquirimos durante essa louca vida de repórter são a maior e melhor escola que podíamos ter e serão inesquecíveis sempre. Ratificando o que disse Clóvis Rossi mais uma vez: é um privilégio ser repórter!

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