O Absurdo e a Filosofia Existencial

O Absurdo e a Filosofia Existencial

O Absurdo e a Filosofia Existencial

O grande marco do absurdo moderno foi a obra de ficção de Franz Kafka. Nos romances e contos desse autor, que não apontam saídas, a ação dos personagens parece desprovida de significação, pois está condicionada a potências que, além de imprevisíveis, são também invisíveis. Tais personagens ignoram os crimes de que são acusados e suas tentativas de defesa revelam-se assim grotescas e destinadas de antemão ao fracasso.

A noção do absurdo da existência, subjacente em alguns precursores da filosofia existencial (SØren Kierkegaard, Miguel de Unamuno e outros), foi convertida em núcleo básico de importantes expressões filosóficas e artísticas do século XX.

A tese do absurdo existencial foi explicitada por Albert Camus em Le Mythe de Sisyphe, essai sur l`absurde, (1942; O mito de Sísifo, ensaio sobre o absurdo), onde o personagem mitológico Sísifo, rolando montanha acima uma pedra que sempre volta a cair, encarna a inutilidade do esforço humano. Ao lado da expressão filosófica, a obra ficcional e dramática de Jean-Paul Sartre e Camus revelaria também, por meio de situações típicas, a problematização do absurdo. As mais características, nesse sentido, seriam Le Mur (1939; O muro), contos de Sartre em que os personagens decidem sobre seus destinos contra as leis da razão social; e Caligula (1944) e La Peste (1947; A peste), drama e romance de Camus em que os personagens se rebelam contra a própria condição humana, reduzida a sua impotência individual ou coletiva.

Marcados pelo clima de desespero associado às duas guerras em que a Europa mergulhou na primeira metade do século XX, os existencialistas rejeitaram as hipóteses metafísicas e teológicas para a explicação da existência. Em seu lugar, introduziram a noção do fracasso ontológico do homem, cuja vida seria uma "paixão inútil" (Sartre).

Os existencialistas procuram uma saída para o dilema da condição humana, propondo a escolha lúcida do próprio destino (Sartre) ou a revolta (Camus). Esta saída foi negada pelos representantes do teatro do absurdo (Samuel Beckett, Eugène Ionesco), que não admitem sequer a possibilidade de explicação para o real, proclamando a impotência dos atos humanos. Neles, ao contrário dos existencialistas, de expressão quase sempre realista, o absurdo emerge funcionalmente na própria representação cênica, com a mímica grotesca, o nonsense, o humor negro e as expressões parabólicas.
No passado mais remoto, a noção do absurdo esteve latente nas filosofias irracionalistas ou nas que se recusavam a encontrar uma explicação racional para a existência. Paralelamente a essas filosofias, tal noção encontrava-se também subjacente em muitas expressões artísticas, sobretudo nas manifestações do nonsense, do fantástico, da literatura dos sonhos, do humor negro etc. O nonsense, o fantástico e o humor negro são conceitos afins ao de absurdo no sentido moderno, mas distintos.

O nonsense seria o disparate puro e simples, enquanto o absurdo teria sempre um sentido, embora inexplicável e recôndito; o fantástico se situaria numa fronteira indefinida entre a realidade e a irrealidade, ou seria um modo peculiar de ver a existência, por meio de fantasias individuais, enquanto o sentimento do absurdo estaria ligado ao real em si mesmo, independentemente das projeções subjetivas. Já o humor negro se caracterizaria como expressão essencialmente gratuita, não comprometida com a busca de significações para o real.

Apesar dessas diferenças, a afinidade de tais manifestações com o absurdo evidenciou-se em autores do século XX que utilizaram o nonsense e o fantástico como elementos de uma nova indagação sobre a existência. Mesmo o humor negro, caracterizado pela  gratuidade em autores de um passado recente (os surrealistas, por exemplo), revelou-se carregado de novas conotações nas obras de Kafka ou Beckett.

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