Veterinária ou Medicina Veterinária
Veterinária ou Medicina Veterinária (do latim veterina, "animal de carga") é a ciência que se ocupa da prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças dos animais, bem como do melhoramento das espécies animais úteis e de seus produtos. Entretanto, muitas outras atividades se inserem no campo de interesse da veterinária: (1) as condições sanitárias globais dos rebanhos e dos animais domésticos; (2) seus reflexos no estado de saúde da população humana; (3) os cuidados aplicáveis aos animais em jardins zoológicos e reservas ecológicas; (4) a obtenção, manipulação, industrialização, conservação e higiene dos alimentos de origem animal; (5) as doenças de animais transmissíveis ao homem; (6) e ainda a polícia sanitária animal em portos e fronteiras.
A domesticação de animais gerou não só a necessidade de alimentá-los e curá-los quando doentes, mas também de mantê-los saudáveis. Assim surgiu a veterinária, que, como a medicina, de início limitava-se à aplicação empírica de remédios e só depois tornou-se uma disciplina científica.
História da Medicina Veterinária
Praticamente desde que se domesticaram os animais existem pessoas ocupadas em tratar das doenças que os afetam. Já em 2000 a.C. a veterinária se firmara como especialidade na Babilônia e no Egito, e uma das primeiras referências conhecidas sobre a atividade se encontra no código de Hamurabi, que claramente se refere a médicos de animais, prevendo sanções para os que não fossem corretos no exercício da profissão. Os gregos tinham uma classe de médicos especializados em cavalos, e Hipócrates descreveu doenças articulares em bovinos, epilepsia em carneiros e cabras, além de outros males. Também em Roma houve abundante literatura veterinária.
No começo da Idade Média o tratamento das doenças dos animais era feito por ferreiros, pastores e magarefes, mas, a partir do princípio do século XIII, trabalhavam como veterinários - especialmente em cirurgias - os encarregados das cavalariças e dos estábulos. O mais famoso foi Jordanus Ruffus, no século XIII. No século XVI havia grandes clínicas veterinárias na China, onde também se publicaram tratados sobre doenças animais, embora por essa época persas e árabes já estivessem bem mais avançados no que tange especificamente ao conhecimento da medicina de cavalos. A afirmação da cavalaria como arma fundamental dos exércitos europeus e o interesse econômico por trás das epidemias nos rebanhos (epizootias), causas de grandes prejuízos econômicos, foram as principais razões do avanço da veterinária a partir do final do século XVI, quando se publicou Anatomia do cavalo (1598), do italiano Carlo Ruini.
Malgrado os progressos eventuais, a situação da medicina animal era ainda muito precária em 1762, quando surgiu, em Lyon (França), a primeira escola de veterinária, mais concentrada nos cavalos. Fundada por Claude Bourgelat, inspirou a criação de outras em diversos países, dentre as quais logo se destacou a escola de Alfort, perto de Paris, também de Bourgelat. Na Prússia, Frederico o Grande mandou criar uma escola de nível superior ao das francesas, que iniciou suas atividades em 1786.
O século XIX foi de esplendor para a veterinária, cujos profissionais, na França, estiveram associados de perto aos progressos da incipiente ciência da microbiologia. Na classe veterinária, mais do que na médica, Louis Pasteur encontrou apoio para suas experiências e teorias renovadoras. Foi, aliás, com doenças animais que Pasteur realizou algumas de suas mais famosas descobertas, que levaram à idéia de vacinação pela atenuação dos germes causadores das doenças. O descobrimento, pelos microbiologistas, das causas das infecções e dos mecanismos de contágio, bem como dos procedimentos de esterilização e cultura bacteriana, teve profunda repercussão no tratamento dos animais domésticos.
Ao longo do século XX, avanços em áreas básicas como bioquímica, citologia, farmacologia e genética propiciaram maior rigor na pesquisa e na prática veterinária e maior aproveitamento na prevenção e controle das epizootias, o que resultou em benefícios econômicos para os criadores de gado, possibilitando-lhes rendimentos sem precedentes. Cabe citar a importância de veterinários como o francês Gaston Ramon, descobridor das anatoxinas (toxinas tratadas, em geral com formaldeído, de modo a destruir sua propriedade tóxica, mas preservando sua capacidade de estimular a produção de anticorpos); o americano Daniel Elmer Salmon, primeiro observador da Salmonella (gênero de bactérias patogênicas para o homem e outros animais); e o sueco Bernhard Bang, descobridor do agente do aborto bovino e da brucelose em seres humanos.
Campos de atividade da Medicina Veterinária
O trabalho do veterinário vai além dos cuidados de ordem sanitária e curativa, envolvendo também todos os aspectos da criação e manutenção de cada espécie animal: reprodução, alimentação e controle dos vários fatores que influem no rendimento e na produção pecuária. É evidente a importância da veterinária na criação de gado, na indústria alimentícia e na saúde pública. Nos aspectos científico e curativo, a veterinária estuda basicamente anatomia, fisiologia e patologia animal. Interessa em especial a pesquisa de epizootias como pestes bovinas, suínas e de aves, a raiva etc.
O melhoramento da qualidade e da produção animal cobre campos bem variados, como nutrição, criação e seleção do gado. Na nutrição, o veterinário intervém em todas as questões relacionadas com a prescrição de dietas, a preparação de rações, análise das matérias-primas utilizadas, estudo de processos metabólicos, índices de digestibilidade e assimilação etc.
O capítulo da reprodução envolve desde a inibição ou indução do período de cio até a inseminação artificial e o parto. No que diz respeito à cria, são numerosos os fatores físicos, ambientais etc. cujo controle e conhecimento permitem assegurar qualidade e produtividade ótimas, o que, unido à prática de métodos bem precisos e refinados de seleção e melhoria genética tornou possíveis os enormes progressos na exploração pecuária. Os estudos veterinários encontraram extenso campo de desenvolvimento na criação de várias espécies de peixes e moluscos de mar e de rio.
No setor de tecnologia de alimentos, a veterinária se ocupa sobretudo do controle higiênico-sanitário da produção, manuseio, industrialização e conserva de alimentos de origem animal, como leite e laticínios em geral, ovos, carne e pescado. A atividade inclui a inspeção sanitária de matadouros, mercados, lojas e centros de abastecimento com a finalidade de verificar a qualidade e a higiene dos produtos oferecidos e impedir a transmissão de parasitos, ou a comercialização de artigos em mau estado de conservação.
Constituem campo relevante da veterinária a pesquisa, acompanhamento e controle das zoonoses (enfermidades transmissíveis por animais a seres humanos). A propagação de parasitos é outro capítulo prioritário, sobretudo no que se refere a animais de estimação. O conhecimento mais profundo dos ciclos das espécies parasitárias contribuiu em muito para a redução dos perigos representados por esses agentes.
Além desses campos tradicionais, a veterinária ampliou notavelmente suas áreas de atuação devido ao aumento da população de animais de estimação nas últimas décadas do século XX, particularmente nos países desenvolvidos. Além das espécies tipicamente domésticas como o cão, o gato e algumas aves canoras, muitas outras, desde cobaias a tartarugas, têm sido incorporadas ao grupo dos animais que vivem em residências humanas e requerem assistência veterinária. Cabe mencionar ainda a manutenção de aquários, que contam com numerosos aficionados em muitos países, a criação de animais (tais como visom e chinchila) para a indústria de peles e o surgimento de grandes reservas naturais e jardins zoológicos, que exigem a mobilização de equipes de veterinários para atender a múltiplas necessidades sanitárias.
Ramificações e procedimentos Veterinários
Os campos de interesse da veterinária envolvem grande número de áreas e de materiais. Por isso, são múltiplas as ciências auxiliares que lhe fornecem suporte: biologia, zoologia, parasitologia, medicina, microbiologia, genética, farmácia e agronomia, entre outras. As principais especialidades da veterinária são: clínica (médica e cirúrgica), indústria, defesa sanitária e extensão rural (em geral promovidas pelo governo), além da pesquisa e do ensino. O veterinário pode ainda especializar-se no tratamento de animais de pequeno porte (como animais de estimação) ou de grande porte (como bovinos e equinos). Há veterinários especializados no tratamento de animais selvagens mantidos em zoológicos.
A prática veterinária abrange um conjunto de procedimentos relativos à inspeção periódica e ao acompanhamento sanitário de populações domésticas sob controle, bem como à adoção de medidas higiênicas e preventivas que impeçam a aparição de epizootias. Quando estas se produzirem, o profissional coordenará operações para isolar os animais infectados, desinfetar granjas, estábulos e locais de criação, destruir os cadáveres de animais mortos pela infecção e sacrificar os enfermos.
A seleção de reprodutores, a marcação de animais para identificação posterior, o controle de seu crescimento, desenvolvimento, produtividade etc., assim como as operações de castração, biópsia, aplicação de injeção ou cateterização são algumas das muitas tarefas rotineiras exercidas pelo veterinário. A extirpação dos órgãos reprodutores dos machos ocasiona sua engorda, evita a reprodução de animais considerados inaptos e facilita seu manejo, ao torná-los mais dóceis e mansos.
Formação. No Brasil, a profissão de veterinários é disciplinada por leis que definem suas atribuições e as características dos cursos de formação de profissionais etc.
O curso de medicina veterinária dura em geral cinco anos. Abrange as seguintes matérias básicas, que podem se dividir em disciplinas especializadas: (1) fisiologia, bioquímica, biofísica; (2) anatomia, histologia e embriologia dos animais domésticos; (3) clínicas médica e cirúrgica; (4) higiene e saúde pública; (5) tecnologia de produtos animais.