As Grandes Correntes Ideológicas do Século XIX | Liberalismo e Socialismo

As Grandes Correntes Ideológicas do Século XIX | Liberalismo e Socialismo

O liberalismoOpondo-se ao mercantilismo, surgiu uma corrente liberal, que propunha a liberdade de produção e comercialização, o fisiocracismo. Sua essência era: “Deixai fazer, deixai passar”. Valorizava a agricultura como sendo realmente a atividade produtora de riqueza. A pessoa mais importante dessa escola foi o francês Quesnay (1694-1778).

Já os economistas clássicos, liderados por Adam Smith (1723-1790), estudaram o desenvolvimento do capitalismo industrial e formularam as primeiras teorias da nova ciência, a economia política.

Em sua obra A Riqueza das Nações, Adam Smith considerava que o trabalho é a origem de toda a riqueza, criticando os mercantilistas, que afirmavam ser o comércio o grande gerador de riqueza, e os fisiocratas, que diziam ser a agricultura.

Segundo Smith, a divisão do trabalho implicaria em um aumento da produtividade e produção. Assim, se cada operário fizesse apenas uma operação numa fábrica, especializando-se, haveria aumento da produtividade e, consequentemente, da produção, com a diminuição dos custos. Com preços menores, ocorreria um aumento no consumo. Assim, mais pessoas adquiririam as mercadorias e melhorariam sua qualidade de vida.

Para Smith, sendo as leis econômicas naturais, elas dispensariam a atuação do Estado, que não deveria se intrometer no processo econômico, agindo apenas para evitar que ocorressem abusos. A “lei da oferta e da procura” determinaria os preços e o equilíbrio do mercado. Smith a chamava de “mão invisível”.

Caberia ao Estado garantir a liberdade individual e a propriedade privada.

As ideias de Adam Smith foram ampliadas por David Ricardo (1772-1823), que acreditava ser a renda nacional proveniente dos três principais agentes da produção: terra, trabalho e capital. Sua preocupação fundamental era quanto aos custos da produção. Assim, se os alimentos continuassem aumentando de preço, os donos de empresas seriam obrigados a aumentar os salá- rios dos operários e diminuir os lucros de seus empreendimentos. Portanto, quanto mais barato custassem os alimentos, menor seriam os salários. Os produtos manufaturados, com mão-de-obra mais barata, custariam menos, venderiam mais e proporcionariam maior lucro. Obviamente, eles deveriam ser destinados à exportação.

Ricardo defendia o princípio do livre-câmbio. Defendia que a Inglaterra deveria derrubar todas as tarifas protecionistas que incidiam sobre os produtos que importava, como no caso do trigo. Se caísse a “lei dos cereais” (tributo sobre o trigo importado), eles custariam menos. Os salários dos trabalhadores também seriam menores. Com isso, o custo da produção cairia, e os manufaturados, mais baratos, venderiam mais.

Segundo Ricardo, o excesso de mão-de-obra seria responsável pela miséria dos trabalhadores, e não o sistema econômico. Um salário elástico (que pode aumentar) permitiria ao trabalhador sustentar muitos filhos, que iriam futuramente inflacionar o mercado de mão-de-obra, provocando a baixa dos salários. David Ricardo era favorável à “Lei Férrea dos Salários”, que os manteria em nível bem baixo. Acreditava que remunerar bem o trabalhador era, a longo prazo, prejudicá-lo.

Certamente, o mais polêmico membro da escola clássica liberal foi Thomas Malthus (1766-1834), que escreveu Ensaio Sobre a População, publicado em 1798. Fez previsões sombrias sobre o crescimento da população. Para ele, ela cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção (de alimentos) cresceria em progressão aritmética. Assim, haveria fome, doenças, lançando uns contra outros em guerras. Sua mortalidade causaria o restabelecimento do equilíbrio entre “população e produção”. Seria um fenômeno cíclico.

Um controle populacional seria uma forma de evitar o caos. Propôs, como soluções, salários mais baixos, casamentos tardios, estímulo ao celibatarismo.

Ainda hoje suas ideias são debatidas acirradamente e encontram seguidores, os neomalthusianos.

O socialismo

O socialismo

Se a Revolução Industrial produziu uma enorme riqueza, ela produziu também uma espantosa miséria. Em busca de um lucro cada vez mais maior, muitos empresários pagavam salários mais baixos possíveis. Os governos, dominados pela burguesia, não intervinham, a fim de diminuir os enormes desníveis sociais. Não havia legislação trabalhista nem proteção aos trabalhadores.

Para os socialistas, a igualdade deveria ser, acima de tudo, social e econômica. Os liberais negavam essa afirmação, sustentando a ideia de que os mais capazes tinham o direito natural de acumular maiores riquezas. Alguns pensadores podem ser considerados os precursores do socialismo, como Thomas Morus e Babeuf, que teorizaram sobre uma sociedade ideal. No entanto, só no século XIX as teorias de igualdade se transformaram em doutrina e, em determinados casos, aplicados na prática.

Uma das correntes em que se dividiu o movimento socialista do século XIX foi a reformista. O empresário britânico Robert Owen (1771-1858) se preocupou em melhorar as condições de vida de seus empregados, por meio do sindicalismo e do cooperativismo. Reduziu a jornada de trabalho para onze horas e não empregou crianças com menos de dez anos em sua fábrica de tecidos. Nos Estados Unidos, criou uma fazenda cooperativa, a New Harmony.

O conde Saint Simon (1760-1825) foi um romântico e aventureiro, que acabou na miséria. Propôs a substituição da exploração do homem pelo homem pela cooperação dos homens associados. Sua frase que permaneceu: “De cada qual segundo sua capacidade, a cada qual segundo os seus méritos”. Propôs o fim do direito de herança.

Charles Fourier (1772-1837), também francês, propôs uma sociedade, em que as pessoas se ajudariam mutuamente, por meio dos falanstérios, pequenas comunidades auto-suficientes.

Luís Blanc (1811-1882), considerado o fundador do socialismo, foi o criador das “Oficinas Nacionais” na França, fábricas pertencentes aos próprios trabalhadores, todos recebendo o mesmo salário. Sua obra também fracassou.

Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) atacou violentamente a propriedade, acusando-a de ser um roubo. Sua hostilidade a todos os tipos de Estado associa-o ao movimento anarquista.

Em oposição ao socialismo reformista, também conhecido como utópico, surgiu o socialismo científico ou revolucionário, que propunha a transformação total da sociedade, por meio de uma revolução. As obras de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820- 1895) foram a base desse movimento. A análise de Marx evoluiu a partir da filosofia dialética idealista do filósofo alemão Engels (a luta entre tese e antítese, resultando numa síntese). Mas Marx materializou a lógica dialética, partindo do princípio de que a própria consciência é manifestação da matéria.

Explicava a História a partir das condições materiais em que vive a humanidade. Acreditava que as contradições inerentes a um sistema geravam sua própria destruição. Quando todas as forças produtivas se esgotam, a sociedade em decomposição dá origem a uma outra nova. Tanto que da crise do feudalismo surgiu o capitalismo, do capitalismo surgiria o socialismo. O motor da História seria a luta de classes.

De acordo com o marxismo, as contradições da sociedade capitalista a levariam à autodestruição. Quando isso ocorresse, o proletariado tomaria o poder, estabelecendo uma ditadura. Os meios de produção seriam socializados e as classes sociais desapareceriam. Este estágio Marx chama de socialismo. Nesse momento, todos os remanescentes do capitalismo seriam eliminados.

O socialismo seria uma etapa intermediária entre o capitalismo e o comunismo, este último seria um estágio superior e final da civilização.

Marx atuou diretamente no movimento socialista, fundando jornais, sindicatos e a I Internacional (1864), movimento de união de todos os trabalhadores. A primeira tentativa de implantar as suas ideias foi a Comuna de Paris, em 1871.

Finalmente, o anarquismo, que propunha a supressão de toda autoridade. Não mais haveria governo, leis ou qualquer força coercitiva. Pequenos grupos autônomos, regidos pela cooperação, se encarregariam da produção, cujo excedente seria trocado com o excedente de outro grupo autônomo. Os anarquistas mais importantes foram os russos Mikhail Bakunin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921). O anarquismo penetrou nos meios sindicais para alcançar uma sociedade sem classes (anarco-sindicalismo). O anarquismo radical passa a se utilizar de atos terroristas para desestruturar o Estado. Algumas vítimas importantes: o czar Alexandre III, o rei italiano Humberto I e o presidente norte-americano McKinley (1901).

O pensamento social da Igreja Católica: Rerum Novarum

O pensamento social da Igreja Católica: Rerum Novarum

Os problemas sociais influenciaram a Igreja Católica, que procurou conciliar os interesses antagônicos entre o capital e o trabalho, as ambições dos patrões e as reivindicações dos empregados.

Segundo a Igreja, a solução dos conflitos poderia ser encontrada nos princípios básicos da solidariedade, justiça e caridade cristã. A volta ao Evangelho proporcionaria o caminho que a sociedade necessitava, em um ambiente de paz e harmonia social. 

Muitas organizações cooperativas operárias católicas se ramificaram por todo o mundo. Mas quem iniciou oficialmente a ação social da Igreja foi Leão XIII, com a Encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), em 1891.

Esse documento reconhecia a gravidade da “Questão Social”, criticava o “capitalismo selvagem”, combatia a expansão do “materialismo histórico” e do “ateísmo”, repudiando a doutrina marxista da “luta de classe”, que estimulava os conflitos e ódios sociais. Reconhecia a propriedade particular como um direito natural, e a diferença como “necessária e conveniente”. Mas a propriedade deve estar voltada ao bem-estar social. Assim, as relações entre o capital e o trabalho devem ser de colaboração, não de luta. Muitas outras encíclicas, promulgadas ao longo do século XX, confirmaram e reforçaram o conteúdo da “Rerum Novarum”.

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