Canudos | A Luta Pela Utopia Real

Canudos | A Luta Pela Utopia Real

Nascido em Quixeramobim, Ceará, em 1828, Antonio Vicente Mendes Maciel teve uma infância privilegiada para uma criança do sertão. Filho de um comerciante estudou latim, francês, aritmética e geografia. Seu destino foi diferente. Com a morte do pai, casou-se e passou a exercer o comércio. Mas não era essa sua vocação. Em breve, cheio de dúvidas, abandonou o negócio e ganhou o sertão. Um novo choque lhe estava reservado. fugindo com um soldado de polícia, sua mulher o abandonou. Casa-se de novo com Joana e quem tem um filho. Deixa ambos em 1865, e passa a vagar pelos sertões acompanhando missionários. Seu prestígio já estava consolidado. Um grupo de fiéis o acompanhava sempre, ajudando-o na reconstrução de igrejas e muros de cemitério. Mas a medida que a forma do beato aumentava, a hierarquia eclesiástica começou a preocupar-se. Não demorou muito para que se multiplicasse as perseguições. O beato foi preso em 1876 e, para ser solto, teve de prometer que abandonaria suas pregações. A promessa não foi cumprida. No ano seguinte, o conselheiro e seus adeptos estavam de volta aos sertões da Bahia. Em 1893, conselheiro desafiou ostensivamente a República. Na praça central do município de Bom Conselho queimou as tábuas onde estavam afixados os editais que anunciavam os novos impostos a serem cobrados pelo Governo. Foi nessa época que, tendo sua prisão decretada e vendo-se obrigado a fugir das volantes, achou que chegara a hora de criar sua própria comunidade. O lugar escolhido foi a fazenda de canudos, à beira do rio Vaza-Barris, que se encontrava abandonada. Sob a autoridade do Conselheiro, os fiéis logo se organizaram. Todos os bens pessoais deveriam ser entregues à comunidade. A forma do arraial sagrado de Belo Monte, como passara a chamar-se a provação, espalhou-se com rapidez. Era uma comunidade ideal, voltada para o bem comum, verdadeira utopia em pleno sertão baiano, à parte e à revelia do Brasil oligárquico e republicano. Isto a condenou à destruição. Em outubro de 1896, quando foram avisados de que na cidade próxima de Uauá estava uma tropa com a missão de aprisionar o Conselheiro e dissolver o arraial, os jagunços de Canudos não se surpreenderam. Havia muito que o beato previra uma guerra que precederia o fim do mundo, com profundas transformações. Assim, guiados pela fé, os jagunços não esperaram pelo ataque, partiram ao encontro da tropa, que apanhada de surpresa, foi totalmente destroçada. Os políticos da República não puderam tolerar uma derrota tão humilhante. Canudos passou a ser retratada como uma “fortaleza monarquista” a ameaçar a estabilidade do regime. Em dezembro de 1896, uma segunda expedição, apoiada pelo Exército, foi enviada contra o arraial. Era comandada por um major, Febrônio de Brito, e dispunha de armas moderas. Novamente as tropas subestimaram a força e a habilidade dos jagunços. Usando táticas de guerrilha, estes surpreenderam a expedição muitas vezes pelo caminho. E de tal forma conseguiram desorganizá-la que, ao chegar a Canudos, a munição já era escassa e os soldados estavam exaustos. Sem condições de combater, o major ordenou a retirada. Foi organizada uma terceira expedição, sob o comando do coronel Moreira César. Com toda munição suficiente e conhecendo as táticas que o inimigo empregara das outras vezes, o coronel confiava numa vitória fácil. O percurso até Canudos não apresentou dificuldades, e a expedição penetrou no arraial de Belo Monte. Era o que os jagunços esperavam. Tocaiados em cada casa, em cada beco, em cada esquina, os homens do Conselheiro combateram, espalhando o pânico entre os soldados, desnorteados naquele labirinto de vielas. Quando Moreira Cessar caiu morto, a tropa debandou, numa retirada vergonhosa. A lenda de Canudos agitava a opinião pública em todo o País. A notícia de mais uma derrota infligida pôr fanático esfarrapados a uma moderna divisão do Exército acirrou o ânimo dos militaristas, que exigiam retaliação. Comandada pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães, a quarta expedição. Pelo caminho, a tropa foi castigada inúmeras vezes pelas guerrilhas dos jagunços; antes de chegar a canudos, já perdera 1200 homens, mas vieram reforços. A luta continuou por muitos meses e durante todo esse tempo novos soldados foram sendo incorporados à força combatente. A última batalha foi travada a 5 de outubro de 1897. Morto pouco antes, o Conselheiro não chegou a ver o aniquilamento de seu povo. Era o fim de um sonho, ou, nas palavras de Euclides da Cunha, de um episódio na série reservada “para as loucuras e os crimes da nacionalidades...”

www.klimanaturali.org
www.megatimes.com.br

www.geografiatotal.com.br

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem