Chegada ao Cabo Cod


Chegada ao Cabo Cod

Relato sobre a chegada ao Cabo Cod, escrito entre 1630 e 1648 por William Bradford, eleito governador da Colônia de Plymouth em 1621.
Chegada ao Cabo Cod

depois de passar longo tempo no mar, toparam com a terra chamada Cabo Cod; a qual, tendo sido encontrada e reconhecida com certeza, os encheu de contentamento. Depois de terem deliberado um pouco entre si e com o capitão do navio, viraram de bordo e resolveram rumar para o sul (sendo o vento e o tempo favoráveis) a fim de encontrar algum lugar à beira do rio Hudson para sua habitação.

TENDO assim chegado ao Cabo Cod no dia 11 de novembro, e a necessidade obrigando-os a procurar um local de habitação, (bem como a importunidade dos mestres e marinheiros), e tendo eles trazido uma grande chalupa da Inglaterra, estivada na alheta do navio, tiraram-na dali e puseram seus carpinteiros a trabalhar para arrumá-la; mas estando ela muito avariada e danificada pelos movimentos do navio durante o mau tempo, viram que demorariam muito para repará-la. Diante disso, uns poucos dentre eles se prontificaram a ir por terra e descobrir os sítios mais próximos enquanto a chalupa estivesse sendo consertada; mas porque, quando entraram naquele fundeadouro, parecia existir ali uma abertura de umas 2 ou 3 léguas, que o mestre julgou ser um rio, imaginou-se que pudesse haver algum perigo na tentativa; entretanto, como se mostrassem resolutos, acabaram obtendo permissão para ir, em número de 16, bem armados, sob o comando do Capitão Myles Standish, e com as instruções que se julgou apropriado dar-lhes. Partiram no dia 15 de novembro; e tendo marchado mais ou menos pelo espaço de uma milha ao longo do litoral, avistaram 5 ou 6 pessoas com um cachorro que vinham na direção deles e que eram selvagens; mas estes fugiram à sua aproximação e correram para o mato, seguidos pelos ingleses, que desejavam, em parte, ver se poderiam falar com eles e, em parte, descobrir se não haveria um número maior deles armando uma emboscada. Vendo-se, porém assim perseguidos, os índios tornaram a abandonar o mato e correram pela areia tão depressa quanto puderam, de modo que os ingleses não lograram alcançá-los, mas seguiram-lhes as pegadas por várias milhas e viram que eles tinham vindo pelo mesmo caminho.

Tendo-se passado o mês de novembro nesses assuntos, e tendo-se instalado um tempo muito ruim, no dia 6 de dezembro eles mandaram de novo a chalupa com 10 dos homens principais e alguns marinheiros, em missão de novos reconhecimentos, tencionando contornar a profunda baía do Cabo Cod. O tempo estava muito frio, e quando os borrifos do mar lhes atingiam os casacos, os homens se viam cobertos de gelo, como se tivessem sido vidrados; nessa noite, porém logo chegaram ao fundo da baía e, quando já estavam perto da praia, viram uns 10 ou 12 índios muito atarefados fazendo qualquer coisa.

E como estivessem muito cansados, ordenou-se-lhes que descansassem. Por volta da meia-noite, porém, ouviram um grito grande e medonho, e a sentinela gritou “Às armas, às armas!”; de sorte que se puseram em movimento e ergueram-se com as armas na mão, e deram uns tiros de mosquete, e os barulhos cessaram. Concluíram que se tratava de uma alcateia de lobos, ou de um bando de outras feras do mesmo gênero; pois um dos marinheiros lhes contou que ouvira muitas vezes um barulho parecido na Terra-Nova.

Logo, porém, num súbito, ouviram grande e estranho alarido, que souberam ser as mesmas vozes que tinham ouvido durante a noite, embora variassem suas notas. Um da companhia, que estava fora da barricada, chegou correndo e gritando, “Homens, índios, índios!”; e, além disso, as flechas dos selvagens passaram voando entre eles. Os homens correram com toda a velocidade para recuperar suas armas, o que fizeram graças à boa providência de Deus. Entrementes, dentre os que ali estavam prontos, dois mosquetes foram disparados contra os atacantes, e mais 2 ficaram preparados na entrada da concentração, mas receberam ordens de não atirar enquanto não pudessem fazer pontaria direito; e as outras 2 foram recarregadas à pressa, porque só 4 tinham armas ali, e defenderam a barricada atacada primeiro. O grito dos Índios era medonho, especialmente quando viram os homens correndo para a chalupa a fim de recuperar suas armas, enquanto os índios davam voltas em torno deles.

Mas o mais triste e lamentável foi que, no espaço de 2 ou 3 meses, metade da companhia morreu, especialmente em janeiro e fevereiro, quando o inverno estava no auge e havia falta de casas e outros confortos; estando os homens atacados de escorbuto e outras moléstias, que a longa viagem e sua incômoda situação lhes acarretaram; desse modo, como morriam, às vezes, 2 a 3 por dia,na supradita ocasião; de cento e tantas pessoas, mal sobraram cinquenta.

Durante todo esse tempo, os índios se esgueiravam sorrateiramente por ali e, às vezes, mostravam-se à distância mas, quando alguém se aproximava, punham-se a correr. E, de uma feita, roubaram os instrumentos dos homens, onde estes tinham estado trabalhando e de onde se tinham ausentado para jantar. Mas lá pelo dia 16 de março, surgiu ousadamente entre eles certo índio e falou-lhes num inglês estropiado, mas que eles compreenderam muito bem, embora se maravilhassem disso. Por fim, interrogando-o acabaram compreendendo que ele não era daquelas partes, mas pertencia às partes orientais, visitadas por alguns navios ingleses que lá tinham ido para pescar, e que ele ficara conhecendo, podendo nomear vários pelo nome e com os quais aprendera a língua que falava. Esse índio lhes foi muito útil, familiarizando-os com inúmeras coisas relativas ao estado do país nas partes orientais em que vivia, o que se revelou mais tarde proveitoso para eles; e também com o povo daqui, seus nomes, seu número e sua força; sua situação e distância daquele lugar, e quem era seu chefe. Chamava-se Samaset; falou-lhes também de outro índio chamado Squanto, nativo daquele lugar, que estivera na Inglaterra e falava inglês melhor que do ele.
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