Veneno de Cobra Pode Tratar Hipertensão
'Bothrops jararaca', uma das espécies estudadas (Foto: Felipe Süssekind/Wikicommons)
Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, descobriram 30  moléculas a partir do mapeamento de peptídeos no veneno de três espécies  de cobras - a Bothrops jararaca, a Bothrops cotiara e a Bothrops fonsecai.  Cinco desses peptídeos (compostos formados por aminoácidos e  sintetizados por seres vivos) foram recriados em laboratório, passaram  por testes em ratos e quatro deles apresentaram atividade  anti-hipertensiva, o que dá a eles potencial para, no futuro, serem  usados em medicamentos contra problemas de pressão arterial.
Os quatro peptídeos se somam a outros 13, entre os descobertos, que são  da família dos potenciadores de bradicinina. Segundo a coordenadora do  estudo, a pesquisadora Solange Maria de Toledo Serrano, do Instituto  Butantan, este grupo de moléculas é conhecido há décadas por possuir  efeitos sobre a pressão arterial. Pesquisas anteriores com peptídeos da  mesma família deram origem a remédios contra a hipertensão - o primeiro  deles a ser isolado do veneno da jararaca, nos anos 1960, levou à  criação do remédio Captopril, por exemplo.
Análise profunda
"Fizemos uma análise profunda e extensa dos peptidomas [conjuntos de peptídeos] do veneno das três serpentes. Foi um estudo bioquímico de alto nível, do ponto de vista da complexidade do veneno", diz a pesquisadora. As análises foram realizadas no Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, no Butantan.
"Fizemos uma análise profunda e extensa dos peptidomas [conjuntos de peptídeos] do veneno das três serpentes. Foi um estudo bioquímico de alto nível, do ponto de vista da complexidade do veneno", diz a pesquisadora. As análises foram realizadas no Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, no Butantan.
Solange ressalta que o objetivo do estudo não foi descobrir novas  moléculas, mas descrever a complexidade do conjunto de peptídeos no  veneno das três espécies de animais.
A pesquisa, que foi publicada na edição de novembro da revista "Molecular & Cellular Proteomics",  é a mais profunda já realizada sobre peptidomas de veneno de serpentes,  de acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo  (Fapesp).
No total, foram sequenciados 44 peptídeos, sendo que 30 eram  desconhecidos. O estudo usou técnicas de bioinformática e de  espectrometria de massas, método científico que identifica elementos que  compõem uma substância e ajuda a obter informações sobre a estrutura de  moléculas.
Uma das dificuldades foi fazer o sequenciamento dos peptídeos, já que  faltam informações sobre a genética das serpentes e as cadeias de  aminoácidos que compõem os peptídeos e proteínas destes animais.
"Como não se conhece o genoma completo de nenhuma espécie de serpente  venenosa no mundo, então os bancos de dados não têm muitas informações  sobre os peptídeos destes animais. Não se compara ao que existe em  mamíferos", afirma Solange. A falta de dados dificultou identificar de  forma automática as cadeias de aminoácidos, e muitas vezes foi preciso  fazer o sequenciamento manualmente, ressalta a pesquisadora.
A pesquisadora ressalta que, ainda que venenos de cobras contenham  moléculas com atividades biológicas interessantes, o trabalho não visa  descobrir um novo medicamento, e que a descoberta das moléculas com  características anti-hipertensivas representam apenas um potencial. Para  chegar a um remédio, é preciso tempo e investimento em novos estudos,  pondera.

