China: O Gigante Envelhecido e a Fragilidade de um Império Econômico

China: O Gigante Envelhecido e a Fragilidade de um Império Econômico

China: O Gigante Envelhecido e a Fragilidade de um Império Econômico

Nos últimos anos, o mundo tem acompanhado com atenção os sinais de transformação profunda que emergem da China — a segunda maior economia do planeta. O que antes era retratado como uma história de sucesso econômico ininterrupto e de crescimento vertiginoso começa, pouco a pouco, a se revelar como uma estrutura frágil sustentada por pilares que se deterioram silenciosamente.

A população chinesa está envelhecendo. A taxa de natalidade despencou e, em 2022, o país registrou oficialmente sua primeira queda populacional em décadas. A força de trabalho jovem está encolhendo, enquanto os custos com aposentadorias e saúde pública aumentam. Trata-se de um cenário que remete, de forma inquietante, ao que ocorreu com o Japão a partir da década de 1990 — uma estagnação prolongada que comprometeu a dinâmica econômica do país.

Mas há uma diferença essencial: o sistema político chinês é autoritário, e sua estabilidade depende quase exclusivamente do desempenho econômico. A legitimidade do regime não vem do voto popular, mas da promessa de crescimento e prosperidade. Quando a economia desacelera ou entra em colapso, o contrato social informal entre o Partido Comunista e a população é rompido.

Apesar da imagem vendida internacionalmente — de um Estado eficiente, sem corrupção e com pleno controle —, a realidade interna é bem diferente. A corrupção existe, embora ocorra de forma seletiva e muitas vezes seja varrida para debaixo do tapete. A repressão à imprensa, o controle da narrativa oficial e a ausência de transparência impedem que os problemas estruturais sejam debatidos abertamente. Para muitos observadores externos, a China parece ser um paraíso de ordem e progresso; para os que estão dentro do sistema, no entanto, há medo, censura e uma crescente desconfiança silenciosa.

A China não está apenas diante de um problema demográfico, mas também de um modelo econômico esgotado. O crescimento impulsionado por investimentos pesados em infraestrutura e setor imobiliário está saturado. Empresas como a Evergrande simbolizam a bolha que ameaça estourar. Soma-se a isso a tensão geopolítica com o Ocidente e o encolhimento do consumo interno. O resultado é um país que ainda cresce no papel — mas com números cada vez mais questionáveis.

Como muitos regimes autoritários, a China corre o risco de ruir de forma desorganizada em momentos de transição de liderança. Xi Jinping concentrou poder ao remover o limite de mandatos, mas isso apenas adia uma crise inevitável. Quando essa sucessão ocorrer, o país poderá enfrentar disputas internas no Partido, rupturas entre elites e uma sociedade mais insatisfeita, especialmente se houver uma crise econômica grave.

O cenário provável para a China parece, de fato, mais próximo ao do Japão: uma longa estagnação. Mas, diferentemente do Japão — uma democracia consolidada, com imprensa livre e instituições fortes —, a China enfrenta esse mesmo ciclo com um sistema político fechado e rígido, o que aumenta o risco de "barulhos" internos: protestos localizados, repressão intensificada, ou até instabilidade regional.

O mundo, especialmente o Ocidente, precisa refletir se está preparado para lidar com um "Japão barulhento" com 1,4 bilhão de habitantes — um colosso em transição, onde cada tremor interno pode gerar repercussões globais.

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem