Geopolítica do Brasil | Golbery do Couto e Silva
"Vivemos ainda, para o bem maior ou a maldição irresgatável da humanidade — em que pese as profecias pessimistas ou esperanças redentoras — a era do nacionalismo, isto é, da lealdade máxima do cidadão consagrada à nação. Lealdade que não se traduz apenas no patriotismo — um mero sentimento, nobre e alevantado e inspirador, embora — mas no nacionalismo que é muito mais do que isso, porque é, sobretudo, uma vontade: vontade coletiva, vontade consciente, vontade criadora de engrandecer cada vez mais a nação, realizando plenamente e, sempre que necessário, salvaguardando a qualquer preço os Objetivos Nacionais Permanentes.
Sobrevivência da nação como grupo superiormente integrado, em prosperidade e crescente bem-estar — autodeterminação ou soberania, integração social, prosperidade e prestígio — eis aí, pois, o núcleo fundamental em torno do qual o nacionalismo se condensa e cristaliza. É certo que outros pólos de atração contendem sempre pela supremacia, buscando desviar da nação a lealdade maior do indivíduo e captá-la em seu proveito. Nem menos verdade é que certos grupos mais densos e superiormente equipados em poderio e em cultura — minorias predadoras no âmbito nacional, quando não cosmopolitas — buscam, a cada dia, explorar cinicamente a lealdade sincera e muitas vezes desarmada do cidadão comum, em benefício de seus próprios interesses restritos e quase sempre inconfessáveis. O sugestivo esquema marxista da luta de classes, a despeito de sua rigidez e unilateralidade grosseira — ou justamente por isso — pôs em todo relevo e em toda crueza esse fato incontestável que não escapara, aliás, à observação percuciente dos antigos. Mas, de outras lutas, entre outros grupos diversos — facções, camarilhas, partidos em nada ainda representativos de classes, grupos de pressão de toda espécie — é palco também a sociedade nacional, o prêmio sempre almejado centrando-se no controle, parcial ou total, duradouro ou transitório ou simplesmente esporádico, do poder do Estado, instituição detentora do monopólio legal da coerção pela violência."
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