Império Árabe (630-1258)

Império Árabe (630-1258)

Império Árabe (630-1258)O Império Árabe tem início em 630, com a unificação de tribos da Arábia por meio da doutrina islâmica e da língua árabe, e se prolonga até 1258, com a destruição de Bagdá pelos mongóis.

Na Arábia pré-islâmica, povos semitas, como os nômades conhecidos por beduínos, vivem dispersos em tribos de diversas etnias, sem unidade política. Cada grupo possui os próprios deuses. Realizam-se peregrinações periódicas ao Templo da Caaba, em Meca, reverenciada como cidade religiosa da Arábia Central (hoje Arábia Saudita) desde o século VI. Além de abrigar o culto de inúmeras divindades, Meca é um importante entreposto comercial, atraindo mercadores da Índia, da África Oriental e do Extremo Oriente. Por volta de 610, Maomé (570-632), influenciado pelo monoteísmo judaico-cristão e pelas crenças pré-islâmicas, prega uma nova religião, o islamismo. Perseguido em Meca, foge para Medina em 622. Esse acontecimento fica conhecido como Hégira. Ao retornar para Meca, em 632, a Arábia já possuía unidade política. Abu Beker (573-634), o sucessor de Maomé, começa a expansão árabe em 634. Com a Guerra Santa (Jihad), combate em nome da difusão do islamismo e da necessidade de unificar o mundo árabe, transformando-o num verdadeiro Estado. O avanço segue, no princípio, rumo à Síria. Seu sucessor, Omar (586-644), conquista o Egito e a Mesopotâmia. O Estado torna-se um Império teocrático militar, em que o rei é o chefe político, religioso e do Exército. Inicia-se então um período de crise, com a formação de muitas seitas religiosas.

Uma nova dinastia, a dos Omíada, toma o poder em 660. Moaviá Omíada, governador da Síria, muda a capital do Império de Medina para Damasco e institui o princípio hereditário dos califas (sucessores de Maomé). No período dos Omíada é conquistado o norte da África (Magreb), onde os árabes se misturam aos nativos, que passam a ser chamados de mouros. Em seguida, é ocupada toda a península Ibérica, com a formação de vários reinos. Rumam para a Gália (França), mas são derrotados em Poitiers no ano de 732, o que interrompe seu avanço em direção ao norte da Europa. A Sicília também é conquistada nesse período. Uma conspiração interna, em 750, destrona o último soberano Omíada, dando início à dinastia Abássida. Bagdá torna-se sede do Império.

Com o surgimento de Estados independentes, como o Emirado de Córdova, criado em 756 pelo Omíada Abder Raman em território espanhol, ocorre a desagregação do Império. A partir do século VIII, tribos turcas incorporam-se aos Exércitos árabes. Islamizados no século X, os turcos tornam-se os homens fortes do Império, apoderando-se do trono dos Abássida, em 1058. O rei recebe então o título de sultão. Mas disputas entre os sunitas e os xiitas, seitas religiosas do Império, provocam sua derrocada. Em 1258, os mongóis dominam Bagdá, pondo fim ao Império Árabe.

Sociedade árabe – Os árabes instituem um sistema de comércio único, que funciona como ligação entre o Ocidente e o Oriente. Surgem assim grandes centros comerciais, como Bagdá, Cairo e Damasco. Essas cidades passam a ser também polos de grande progresso cultural, com a fusão da cultura do mundo oriental e da do mediterrâneo. Os árabes constroem ricas mesquitas espalhadas por todo o território muçulmano e desenvolvem arabescos para ilustração e decoração. Nas ciências, inventam o ácido sulfúrico e o álcool. Produzem vasta literatura, em prosa e verso, da qual se destaca As Mil e Uma Noites.

Dinastia dos Almóadas

Dinastia dos AlmôadasNos séculos XII e XIII, a dinastia muçulmana dos almóadas (em árabe, al-muwahidun, "unitários") estabeleceu um vasto império em todo o norte da África e no sul da Espanha, do Atlântico à Líbia e do Tejo ao Saara.

Por volta do ano 1110, ao voltar de uma viagem pelo Oriente, Abdala ibn Tumart proclamou-se mahdi (guia da comunidade muçulmana) e pregou o dogma da unidade divina, rejeitando a concepção antropomórfica de Deus e a tendência ao politeísmo, características dos almorávidas, e impondo obediência rigorosa aos preceitos do Alcorão. Refugiando-se nos montes Atlas, criou uma confederação de tribos berberes dirigidas pelo Conselho dos Cinquenta, formado por dez colaboradores e quarenta representantes das tribos. Ao morrer em 1130, ibn Tumart foi sucedido por Abd al-Mumin, o verdadeiro artífice do império almóada. Em 1147 al-Mumin ocupou Marrakech, capital do império almorávida e numa série de campanhas, de 1151 a 1160, terminou por ocupar todo o Magreb central e oriental. Após ser proclamado príncipe dos crentes, decidiu intervir na Espanha e na Tunísia, passando a controlar todo o sul da península ibérica, até o rio Tejo.

Seu filho Abu Yaqub Yusuf, que lhe sucedeu em 1163, logrou repetidamente deter a ofensiva cristã, embora não evitasse a perda de Cuenca, e finalmente morreu no sítio de Santarém (1184), Abu Yusuf Yaqub al-Mansur, filho do anterior, derrotou Afonso de Castela na batalha de Alarcos, em 1195. Entretanto, logo os espanhóis empreenderam a reconquista com crescente vigor, obtendo em 1212 a importante vitória de Las Navas de Tolosa, durante o reinado do quarto califa, Mohamed al-Nasir. Os almôadas receberam também sucessivos golpes no norte da África. O império começou a desagregar-se e, na península ibérica, pulverizou-se em pequenos reinos mouriscos. A tomada de Marrakech, em 1269, pôs fim à dinastia.

Os almóadas foram acima de tudo guerreiros religiosos, dominados pela ideia de expansão. Sob sua dominação, a indústria e o comércio prosperaram e surgiu um intenso intercâmbio com cidades cristãs como Gênova, Marselha e Pisa. As artes, sobretudo a arquitetura, conheceram grande florescimento atestado pelos monumentos criados por artistas andaluzes em Rabat, Marrakech e Sevilha. A ciência e a filosofia tiveram notáveis expressões em Ibn Tufail e Averróis.

Dinastia dos Abássidas

Dinastia dos Abássidas

A segunda das duas grandes dinastias do império muçulmano assentou seu poder na assimilação de influências culturais estranhas à tradição árabe, principalmente no que se refere aos costumes políticos persas. A dinastia dos abássidas iniciou-se com o califa Abu al-Abbas al-Safah, descendente de Abbas, tio de Maomé.

História
A dinastia dos omíadas governou o império árabe a partir do ano 661. Os últimos califas omíadas, mais preocupados com o poder que com a fé muçulmana, carentes de talento e capacidade de mando, provocaram descontentamento entre a maior parte de seus súditos. Durante o reinado de Marwan II, os xiitas partidários de Ali e os persas de Khorasan, liderados por Abu Muslim, enfrentaram militarmente os omíadas. O objetivo da disputa era substituir os governantes omíadas por um califa pertencente à família de Maomé e criar um estado regido pelas normas islâmicas originais. A insurreição começou em 747 e três anos mais tarde Marwan II foi derrotado na batalha do rio Zab. Abu al-Abbas al-Safah, irmão de Abu Muslim, foi proclamado califa.

Sob o comando da dinastia dos abássidas, o poder central deslocou-se para a região oriental do império. A capital foi instalada em Bagdá, fundada recentemente, e a influência persa determinou profundas modificações. Os soberanos já não tinham como conselheiros os anciãos e chefes tribais, mas funcionários e secretários, que formavam um corpo administrativo cada vez mais amplo e poderoso. Criou-se também o cargo de vizir ou primeiro-ministro, que em pouco tempo tornou-se figura fundamental na política árabe.

Al-Safah foi sucedido por al-Mansur (754-775), que não hesitou em prender e executar parentes e aliados, como Abu Muslim, e combater os xiitas, antigos partidários da dinastia, com o objetivo de consolidar seu poder. Revoltas populares provocadas por reivindicações sociais, étnicas e religiosas multiplicaram-se em seu reinado e nos de seus sucessores. Para combater essa ameaça, foi criado um poderoso serviço de vigilância contra atividades religiosas suspeitas. As penalidades tornaram-se mais severas e aumentaram as perseguições aos opositores do regime. Apesar disso, não foi possível impedir o desmembramento do califado, que se mostrou inevitável no reinado de Harun al-Rashid (786-809). Por volta do ano 813, os abássidas controlavam apenas o território que hoje corresponde ao Iraque. Nesse período, o império árabe experimentou grande desenvolvimento econômico, favorecido por intensas atividades comerciais. A má administração das finanças, o luxo e os gastos exorbitantes da corte, no entanto, impediram a continuação da prosperidade e contribuíram para aumentar o mal-estar da população.

Al-Mamun (813-833) enfrentou inúmeras revoltas e movimentos pela independência durante seu reinado, mas conseguiu manter a autoridade e transformou Bagdá em importante centro cultural e científico. Seu irmão al-Mutasim (833-842) e seus sucessores enfrentaram a decadência política do império, que se acentuou progressivamente durante os séculos X a XIII. Alguns califas, como al-Nasir (1180-1225), tentaram restabelecer o poder dos abássidas, mas seus esforços foram inúteis. Em 1258 o mongol Hulagu, depois de conquistar a Pérsia, entrou em Bagdá e forçou o último califa abássida, al-Mustasim, à rendição. O sultão mameluco do Egito, Baybars, convidou um dos sobreviventes da dinastia, al-Mustansir, para radicar-se no Cairo e restabelecer o califado (1261). Teve início uma sucessão de califas com escasso poder, que durou até a tomada do poder por Selim I, quando os turcos conquistaram a Síria e o Egito (1517).

Cultura
Apesar da decadência política do império árabe ocorrida sob a dinastia dos abássidas, do ponto de vista cultural o período foi dos mais ricos de sua história. Os trabalhos de tradução mereceram especial destaque e graças a eles a cultura árabe teve acesso às obras dos filósofos, médicos, matemáticos e astrônomos gregos, hindus e persas mais importantes. O califa al-Mamun criou em Bagdá a Casa da Sabedoria (Dar al-Hikma), que se tornou um ativo centro de divulgação das tradições helênicas. Na área artística, o mais notável foi o abandono das normas gregas, a recuperação do estilo mesopotâmico antigo e a adoção de elementos arquitetônicos orientais, como se pode ver no plano circular de Bagdá e nos palácios dos abássidas, inspirados em antigas residências dos sassânidas. Na literatura se destaca o predomínio da prosa, até então muito limitada, e a mudança da poesia curta, típica dos séculos anteriores, para longos poemas monorrimos.
Califado de Ali

Califado de Ali


O califado de Ali, primo e genro de Maomé, foi motivo de grave ruptura na comunidade islâmica. Desde então os xiitas, em oposição aos sunitas, consideram Ali o único sucessor legítimo do profeta.
Ali ibn Abi Talib nasceu por volta do ano 600 em Meca. Aos 23 anos casou-se com Fátima, filha de Maomé, com quem colaborou ativamente. Ao morrer o profeta (632), Ali tornou-se conselheiro dos califas Abu Bakr (633-634) e Omar ou Umar (634-644), mas fez oposição ao terceiro califa, Otman ou Osman (644-656), acusando-o de não cumprir as normas canônicas.

Quando, em 656, um grupo de egípcios assassinou Otman, Ali foi nomeado califa por seus seguidores. Isso motivou o descontentamento de seus antigos aliados Talha e al-Zubayr, que, juntamente com Aisha, viúva do profeta, rebelaram-se contra ele. Na batalha do camelo (656), assim chamada em alusão ao camelo que Aisha montava, Ali exterminou seus adversários, assegurando o domínio sobre o território que posteriormente viria a constituir o Iraque. Depois investiu contra Muawiya, governador da Síria, que se negava a reconhecer Ali como califa enquanto este não lhe entregasse os assassinos de Otman. Na batalha de Sifin (657), os partidários de Ali pressionaram-no para que negociasse com Muawiya. Tal fato provocou a separação de um grupo de seguidores de Ali que se opunham ao recuo e que, sob a denominação de "khawarij" (dissidentes), constituíram a primeira seita do Islã. A partir de então, Ali teve que enfrentar dois inimigos. Em Nahrawan, combateu sem êxito os "khawarij", enquanto Muawiya ganhava terreno no Egito e em Hejaz. Em janeiro de 661, Ali foi assassinado em Kufa por um membro da seita.
Almorávidas

Almorávidas

Os almorávidas (em árabe, al-murabit, "os do ribat", isto é, "da fortaleza"), confederação de tribos berberes chefiadas por Yahia ibn Ibrahim, formaram no começo do século IX uma confraria de monges guerreiros que, orientados pelo teólogo Abdala ibn Yasin, pregavam a pureza de costumes e a guerra santa. Os almorávidas ocuparam e islamizaram Gana a partir de 1054. Yahia ibn Ibrahim, morto em 1056, foi substituído por seu irmão, Abu Bakr ibn Umar, que prosseguiu na conquista do Marrocos e chegou a ocupar parte do Sudão. Sucedeu-lhe na chefia o primo Yusuf ibn Tashfin, que dominou de 1062 a 1106; fundou Marrakech, conquistou Argel e, consolidado o império almorávida ao norte da África, invadiu em 1086 a Andaluzia, onde lutou ao lado do príncipe abádida al-Mu Tamid, com quem logo se desentendeu.

A partir de uma pequena fortaleza-mosteiro na costa oriental africana, o movimento político-religioso muçulmano dos almorávidas, após um século de guerras, conseguiu conquistar todo o Marrocos e a metade sul da península ibérica.

Na Espanha os muçulmanos estavam divididos em principados rivais (chamados pelos espanhóis de reyes de taifa, isto é, reis de bando). Apesar de condições desfavoráveis, Yusuf enfrentou os espanhóis, comandados por Afonso VI, que havia tomado Toledo, e derrotou-os em Zalaga (ou Zalaca), ao norte de Badajoz. Ocupou a seguir toda a Espanha muçulmana, desalojando os reyes de taifa e unificando-a, de 1090 a 1094, com exceção de Valência, que se encontrava sob o protetorado de Rodrigo Díaz de Bivar, El Cid. Morto este, porém, Valência também caiu, em 1099.

Ali ibn-Yusuf reinou de 1106 a 1143, conseguindo inicialmente manter as posições conquistadas por seu pai e antecessor. Afonso VI foi derrotado em Veles; Ali ibn-Yusuf ocupou Saragoça em 1110, mas perdeu-a oito anos depois e não conseguiu reconquistar Toledo. A união entre a Espanha e a África estava consolidada. Entretanto, crescia o poder dos emires almorávidas na Espanha, e na África os almóadas mantinham acesa a rebelião nas montanhas do Atlas, desde 1125. Tashfin ibn Ali sucedeu ao pai em 1143 e tentou em vão deter o processo de dissolução de seu império. Foi morto perto de Oran em 1145. Marrakech, a capital, caiu em 1147 e o poder passou às mãos dos almóadas.

Os chefes almorávidas usavam o título de amir al-muslinin (chefe dos muçulmanos), mas reconheciam a autoridade do califado de Bagdá. Foram pouco tolerantes em matéria de crença, impondo tributos aos cristãos, mas não aos judeus. Assimilando muito da cultura e dos métodos administrativos dos espanhóis, deram à Espanha grande contribuição cultural e levaram ao norte da África uma civilização hispano-mourisca. Não passando, porém, de clã berbere, ficavam ilhados como minoria entre os povos ibéricos africanos.

Povos Árabes - Nômades semitas que habitavam a península arábica já na segunda metade do II milênio a.C., os povos árabes tinham por base a língua comum, com variantes dialetais. Hoje o termo abarca todos os povos de fala árabe que habitam a vasta região que vai da Mauritânia, na costa atlântica da África, ao sudoeste do Irã, abrangendo o Maghreb (norte da África), Egito, Sudão, a península arábica, Síria e Iraque.

Célebres por suas contribuições em campos tão diferentes como a matemática e a literatura, os árabes têm grande unidade cultural em sua diversidade e no século XX projetaram-se no cenário econômico internacional pela enorme riqueza alcançada com o petróleo.

Informações dos primeiros contatos árabes na Palestina -- ou seja, já fora da península arábica -- datam dos tempos bíblicos. O período de 1500 a 500 a.C. é uma espécie de etapa proto-histórica das relações entre árabes e judeus. É aí que surge a tradição da ancestralidade comum, semítica, das tribos árabes e hebraicas, as primeiras descendentes de Ismael, filho de Abraão, o patriarca comum, e as segundas de Isaac.

Além dos beduínos nômades e pastores, que manifestam o ideal tradicional da cultura árabe, os povos árabes também abrangiam tribos sedentárias dedicadas ao cultivo de tâmaras e cereais nos oásis. Sendo os oásis as poucas regiões do deserto com água e vegetação, lá se abasteciam e faziam comércio as caravanas de camelos que traziam especiarias, marfim e ouro do sul da Arábia e da África para as civilizações mais ao norte.

Os agricultores e habitantes de aldeias unificaram-se com os nômades pastores de camelos, cabras e ovelhas durante a onda de islamização que varreu a região a partir do século VII. O estado teocrático de Medina foi criado pelo profeta Maomé em 622-632 e em breve dominava o conjunto da península arábica. O Maghreb, até então bizantino e berbere, foi conquistado de 647 a 700, assim como grande parte da península ibérica em 711-713.

Arabização
A expansão árabe apresenta três momentos distintos. O primeiro antecede Maomé e se fez por infiltração, desde muito antes de Cristo, na Mesopotâmia, Síria, Palestina e Egito. No início do século V a.C., Xenofonte já considerava árabe o norte da Mesopotâmia.

Com Maomé, os árabes passam a assimilar grande parte das populações conquistadas, transmitindo-lhes língua, religião e traços culturais. Só na Espanha o processo foi incompleto e levou à Reconquista. Já no Irã, a arabização foi religiosa mas não linguística.

Por fim, o processo de arabização sofreu o desvio oriundo da conquista turca. Os turcos, de escravos e mercenários no fim do século IX, passaram a invasores ao longo dos séculos XI a XV, conquistando Constantinopla e erguendo o império otomano que iria até o fim da primeira guerra mundial. Mas a influência turca só se consolidou no Turquestão e na Anatólia. Nas outras áreas sob seu domínio é a arabização que prossegue e se consolida no Egito, na Mesopotâmia, na Núbia, no Sudão, no Maghreb, com paralela perda da Sicília, da Espanha e de Malta -- onde, porém, até hoje se conservou um dialeto árabe.

Os árabes na atualidade
Tomando-se a língua como traço de unidade, os povos árabes ocupam atualmente uma zona asiática e outra africana. Trata-se de um conjunto territorial contínuo de cerca de 13.000.000km2, se incluído o deserto do Saara e a parte meridional, não arabizada, do Sudão, mas excluído o Estado de Israel, com cerca de 14% apenas de árabes, e os presídios espanhóis de Ceuta e Melilla, com cerca de seis por cento de árabes. No total, aquele contínuo compreende cerca de 188 milhões de arabófonos em uma população de 223 milhões de habitantes, mas não exclusivamente muçulmanos. Contam cerca de cinco por cento de cristãos, drusos, judeus e animistas.

Com exceção do reino da Arábia Saudita, provindo, em 1932, da união do Hedjaz, Nadjid e Asir, os demais estados árabes criados no século XX tornaram-se politicamente independentes a partir de 1946. Além de sua importância territorial, demográfica, linguística e cultural, os estados árabes são economicamente relevantes: o Marrocos é o segundo produtor e primeiro exportador mundial de fosfatos; o Egito, o maior produtor de algodão de fibras longas. Mas a principal riqueza da região provém do petróleo, descoberto no Bahrein em 1932, na Arábia Saudita em 1935, no Kuwait em 1938, e depois de 1945 em várias partes do golfo Pérsico e em diversos países do Maghreb. Hoje Abu-Dhabi e Dubai (que com Ajman, Charja, Fujaira, Umm al-Qaiwain e Ras al-Khaima compõem os Emirados Árabes Unidos) e Qatar também produzem petróleo em grandes quantidades.

A maioria dos árabes ainda vive em aldeias agrícolas isoladas, onde prevalecem os valores tradicionais. Venera-se o modo de vida nômade do beduíno, que, contudo, foi radicalmente alterado pela receita do petróleo. Os beduínos são hoje apenas cinco por cento da moderna população árabe. Muitos trocaram o pastoreio pela criação de gado, ou foram absorvidos pela indústria do petróleo.

Literatura Árabe Literatura Árabe - A extraordinária riqueza e vivacidade da literatura árabe não foram suficientes para garantir sua difusão no mundo ocidental. Os motivos desse desconhecimento secular são tanto estilísticos -- complexidade de tradução da métrica árabe, cultivo de temas alheios às peculiaridades ocidentais -- como religiosos e políticos, derivados do confronto secular entre cristãos e muçulmanos.

Apesar disso, a importância da cultura árabe, núcleo central do Islã, foi progressivamente reconhecida no transcurso do século XX, durante o qual se produziria também um fértil revivescimento literário em que as técnicas ocidentais se combinaram com os temas tradicionais desenvolvidos pelos autores árabes clássicos.

Origens - Antes do aparecimento de Maomé, com exceção de alguns pequenos porém florescentes centros comerciais como Yathrib (mais tarde Medina) e Meca, a península arábica era povoada por nômades beduínos agrupados em tribos. A literatura desses povos, de tipo oral e que só se conhece por compilações posteriores, constitui a base da produção islâmica subsequente.

Durante o período pré-islâmico desenvolveram-se dois dos gêneros básicos das letras árabes: a prosa rimada, que parece ter sido empregada sobretudo por adivinhos, curandeiros e magos, e a poesia. Esta concentrava-se nos temas caros aos nômades, que se resumiam na estrofe tradicional da gasida, composta por um prólogo descritivo de caráter lírico e amoroso, um canto de elogio ao chefe do grupo tribal e uma terceira parte dedicada à exaltação guerreira e ao escárnio dos inimigos. Esses motivos, juntamente com o louvor às virtudes da caça e à dura vida do deserto, configuravam a lírica primitiva, cujo representante mais celebrado foi Imru al-Qays.

Maomé e o califado omíada - A pregação de Maomé, que faleceu no ano de 632, conseguiu aglutinar as tribos árabes dispersas, conferindo-lhes unidade política e proporcionando-lhes uma fé monoteísta comum: o Islã. O Alcorão ou Corão (al-Quroan), livro sagrado dessa religião, foi composto com os versículos recitados pelo profeta, graças, segundo a tradição muçulmana, a revelações diretas de Alá, ou Deus. Formado por 114 suras, ou capítulos, o Alcorão começava narrando a peregrinação de Maomé pelo deserto e suas convicções religiosas em um estilo de prosa rimada que mais tarde caiu em desuso por considerar-se herético tentar imitar o profeta. As últimas suras abandonavam esse tom inicial para desenvolver uma prosa mais concisa, cujo propósito se destinava principalmente a estabelecer os princípios morais e administrativos que deviam reger a comunidade islâmica.

Em seguida às convulsões internas que sucederam à morte de Maomé, no ano de 661 instaurou-se o califado omíada que, continuador da expansão pelo Oriente e norte da África, estabeleceria sua capital em Damasco. A importância do período omíada na literatura árabe reside não tanto na produção de seus autores como no fato de que, durante esse tempo, fixaram-se as formas e tendências dominantes em séculos posteriores.

No campo da lírica, gênero predominante de expressão artística na cultura árabe, continuaram a prevalecer os motivos tradicionais beduínos por intermédio de autores como Jarir e al-Farazdaq. O auge da vida cortesã, afastada das duras condições da existência no deserto, propiciou o surgimento de uma poesia sensual, centrada na descrição dos prazeres do amor e do vinho. Seus principais expoentes foram Ibn Abi-Rabina e Ibn Yazid.

A literatura popular, inspirada em temas cotidianos e festivos, lendas etc., com emprego de uma métrica menos estrita, começou a se consolidar nesse período. Importante nesse aspecto foi a tradução que Ibn al-Muqafa realizou, por volta de 745, da coleção de fábulas e apólogos Kalila e Dimna, de origem indiana. Esse texto serviu de inspiração a toda uma série de compilações posteriores e exerceu grande influência no Ocidente a partir de suas traduções medievais.

O acontecimento mais destacado da literatura omíada foi a aparição do terceiro gênero clássico, a prosa, que, embora em estado ainda incipiente, foi empregada nos textos referentes ao hadith, ou tradição islâmica, e nos documentos administrativos.

Esplendor e decadência: dos abássidas ao império otomano.  - A instauração, no ano 750, do califado abássida, com sede em Bagdá, significou o autêntico começo da literatura árabe clássica, que alcançou seu auge por volta do século X. Para esse desenvolvimento foi decisivo o trabalho das escolas linguísticas de Kufa e Bassora, cujos avanços constituiriam a base da lexicografia árabe. O progressivo desmembramento do califado, a crescente influência dos turcos seldjúcidas desde o século XI, as invasões mongóis do século XIII e, por último, a consolidação do império otomano nos séculos XIV e XV foram os motivos primordiais do ofuscamento das letras árabes.

Poesia - A poesia árabe do fim do século VIII e primeira metade do século IX foi dominada pelo confronto entre a escola antiga e a moderna. A primeira delas, que teve como mais conhecido representante Abu al-Atahiya, mantinha uma fiel submissão aos preceitos islâmicos e tratava de temas fundamentalmente religiosos.

A escola moderna, ao contrário, inclinava-se para os motivos báquicos e sensuais, iniciados já no período omíada e que eram os preferidos da corte de Bagdá. A crescente influência dos elementos persas na capital foi um dos fatores que impulsionaram a nova tendência. Entre os que a cultivaram destacaram-se Bachchar ibn Burd, Abbas ibn al-Ahnaf e, sobretudo, Abu Nuwas, que em seus últimos anos voltou-se para uma poesia de grande profundidade filosófica.

A reação islâmica ante o abandono das virtudes tradicionais desembocou em fins do século IX na chamada poesia "neoclássica", cuja influência se prolongou durante o século seguinte. Essa era uma lírica extremamente cuidadosa com a forma, que alternava os temas religiosos com os "modernos", de uma perspectiva pouco comprometida. Nomes destacados foram os do príncipe Abu Firas e do califa Ibn al-Mutaz, que combinou a vertente ligeira e nostálgica com a recuperação dos motivos cinegéticos e guerreiros pré-islâmicos. O poeta mais célebre da época -- e talvez de toda a literatura árabe -- foi porém o sírio al-Mutanabi. Dominando todos os estilos, sua obra caracteriza-se pelo vigoroso poder das metáforas e pelas evocadoras descrições da natureza. Ele foi, além disso, o principal representante da chamada "poesia partidarista", de tom satírico e polêmico, cujo objetivo era favorecer as aspirações de determinados grupos políticos.

A partir do século XI a poesia do Oriente começou a dar mostras de esgotamento. Exceções foram a revitalização da muqama, gênero narrativo em prosa rimada que teve notáveis cultivadores em al-Hamadani e al-Hariri, e a obra de Abu al-Maari. Este autor deu à literatura árabe uma de suas obras mais originais, o poema filosófico Epístola do perdão, em que se descrevia uma viagem pelo céu e pelo inferno com a aparição de escritores já falecidos, o que levou os arabistas do século XX a apontá-lo como um dos precursores da Divina comédia de Dante.

Foram os reinos independentes ocidentais que deram a esse período literário suas obras mais brilhantes, principalmente na Espanha muçulmana. O primeiro grande poeta andaluz foi paradoxalmente um teólogo, Ibn Hazm, cujo tratado sobre o amor O colar da pomba, de corte autobiográfico, introduziu uma série de poemas em que a relação entre homem e mulher era tratada com singular delicadeza expressiva. Al-Mutamid conferiu a sua obra um caráter muito mais sensual, baseado em modelos orientais, enquanto Ibn Zaidun foi o principal cultivador da lírica neoclássica, rica em descrições da vida na Espanha muçulmana e de suas férteis várzeas.

A decadência e a afetação em que desde o século XII caiu a poesia amorosa, com exceções como o andaluz Ibn Sahl, determinou que os criadores mais destacados fossem místicos (sufis) como al-Sustari e principalmente Ibn al-Arabi, teólogo de origem espanhola que desenvolveu sua obra em Damasco. Tughra-i no Oriente e Ibn Guzman na Espanha aproximaram-se de uma incipiente tentativa de crítica social, que não chegou a consolidar-se. O último grande poeta clássico árabe foi provavelmente o egípcio Ibn al-Farid, cuja obra constituiu uma síntese peculiar entre profundidade mística e imagens sensuais, em clara antecipação de autores como são João da Cruz.

Prosa - O trabalho de fixação linguística levado a cabo pelos letrados omíadas começou a dar frutos já nos primeiros decênios da dinastia abássida, com o surgimento do gênero adab, um tipo de literatura erudita em prosa, de origem persa, que tentava combinar a clareza didática e o entretenimento. Seu grande impulsionador no século IX foi al-Djahiz, natural de Bassora, cujos Livros da eloquência e da clara exposição e Livro dos animais, conjunto de agudas reflexões sobre a sociedade islâmica, foram os modelos de outros cultivadores do gênero. Entre eles é preciso destacar, no mesmo século, Ibn Qutaiba, um dos grandes educadores do pensamento árabe.

O período de transição entre os séculos IX e X trouxe consigo a cristalização dos esforços realizados para consolidar a língua árabe por parte das escolas de Kufa e Bassora, cujo expoente máximo foi o iraniano Sibawaihi, e o desenvolvimento da historiografia. Esta achava-se ainda estreitamente vinculada a questões religiosas e sua preocupação principal era a reconstrução dos fatos da vida de Maomé e a expansão posterior do Islã. Tal trabalho, que contou com notáveis representantes em al-Baladuri, autor do Livro das conquistas, e Ibn Abd al-Hakam, alcançou a culminância com os monumentais Anais, de al-Tabari. Nos 15 volumes que compunham essa enorme obra, o autor legou à posteridade uma compilação de documentos tradicionais, com citação precisa das fontes e uma objetividade de que careciam seus predecessores.

Seria no terreno das ciências e da filosofia que o gênio árabe sobressairia com maior pujança. A conquista dos antigos territórios bizantinos permitiu que os pensadores islâmicos se familiarizassem com a obra dos filósofos gregos. As numerosas traduções que deles se fizeram constituiriam mais tarde, em boa medida graças ao papel de intermediário desempenhado pela Espanha muçulmana, uma das fontes básicas do redescobrimento de Platão e Aristóteles na escolástica europeia.

Os grandes filósofos árabes foram antes de tudo eruditos universais, preocupados com todos os ramos do saber. Assim, al-Kindi, al-Farabi e al-Biruni promoveram o estudo das ideias e concepções gregas e escreveram diversos tratados sobre matemática, geografia, astronomia e ciências naturais. O mestre do pensamento árabe, porém, foi sem dúvida Avicena (Ibn Sina), que nasceu em 980 em Bukhara, atualmente parte do Usbequistão. Cientista excepcional, cujo Cânon de medicina exerceu decisiva influência no desenvolvimento dessa disciplina, Avicena tentou em sua obra filosófica conjugar os ensinamentos da doutrina aristotélica com a ortodoxia islâmica. Embora nunca tenha desejado abandonar esta última, seu esforço para harmonizar razão e fé provocou nos séculos seguintes, como reação, o surgimento do sufismo, ou misticismo islâmico, que alguns estudiosos no entanto associam a certas teses do próprio Avicena. O principal representante desse movimento foi al-Gazali, autor de A incoerência dos filósofos.

Igualmente ao que ocorrera na lírica, o centro da especulação filosófica árabe deslocou-se de forma paulatina em direção aos reinos islâmicos da África e Espanha. Durante os séculos XII e XIII, neles surgiram místicos como os anteriormente citados Ibn al-Arabi e Ibn al-Farid, e os filósofos andaluzes Abentofail (Ibn Tufail) e Averroés (Ibn Ruchd). Este último, considerado o principal pensador árabe depois de Avicena, levou a cabo uma interpretação de Aristóteles que, recolhida por estudiosos europeus, se converteria em foco de polêmica da filosofia medieval e renascentista no Ocidente.

O século XIV, dominado pela decadência da cultura árabe, proporcionou paradoxalmente uma de suas maiores contribuições ao saber universal: o desenvolvimento da ciência histórica. Seus primeiros impulsionadores foram o egípcio Ibn al-Atir e o marroquino Ibn Batuta, cujas Viagens permaneceram como preciosa fonte de informação sobre o mundo muçulmano. O gênero alcançaria a culminância com o magrebe de origem andaluza Ibn Khaldun, autor de uma extraordinária História universal inacabada. Destacam-se nela duas partes: o prólogo em três volumes, em que pela primeira vez se efetuava uma profunda reflexão sobre a filosofia da história, e a História dos berberes, em que, com critério inteiramente novo, abordava-se o estudo de uma sociedade concreta a partir de perspectivas científicas e sociológicas. Pouco compreendido em sua época, Ibn Khaldun passou a ser considerado desde o início do século XX um dos grandes nomes do pensamento medieval. Notável continuador da tradição historiográfica foi o egípcio al-Maqari.

Literatura popular - Junto aos gêneros "cultos" mencionados, a literatura árabe sempre possuiu uma vertente popular de grande riqueza, em forma de relatos escritos em prosa e em prosa rimada, que de certa forma compensaram a inexistência do romance. A culminância e resumo dessas narrativas foram as célebres Mil e uma noites, cujo núcleo original achava-se em uma coleção persa de contos, traduzida por volta do século X. Nos séculos seguintes acrescentaram-se a ela diversas histórias, oriundas de textos indianos e persas ou de caráter nitidamente árabe, como as referentes à corte de Harun al-Rachid em Bagdá. A primeira fixação do texto só ocorreu no século XV, em boa parte devido ao fato de que os estudiosos não consideravam a obra literatura autêntica por seu tom coloquial, distanciado do estilo clássico. O êxito que as diferentes edições da obra alcançaram no Ocidente fez, contudo, com que os autores árabes concedessem às Mil e uma noites um lugar privilegiado em sua literatura, plenamente justificável pela magia e vivo frescor de seus relatos.

Obscuridade e renascimento - A imposição generalizada da língua turca pelo império otomano e a preponderância de outros grupos étnicos foram a causa principal do amplo declínio da literatura árabe, que durante séculos limitou-se a repetir de maneira estereotipada os temas tradicionais.

Alguns eruditos isolados contribuíram, porém, para a manutenção do legado do saber clássico. Assim, no século XVII o otomano Hayi Kalfa escreveu em árabe uma história universal, enquanto o iraquiano al-Bagdadi desenvolvia importante trabalho enciclopédico em seu Celeiro da literatura. Já no século seguinte o iemenita Murtada al-Zabid revitalizou os estudos linguísticos.

A campanha napoleônica no Egito é tradicionalmente considerada o início da abertura árabe para o Ocidente, que determinaria, fosse pela rejeição ou assimilação das novas idéias, o curso da chamada literatura neo-árabe. O palestino Marun al-Naqas, por exemplo, difundiu o teatro nas letras árabes mediante a reelaboração de obras italianas e francesas, e os poetas sírios Francis Marras e Adib Ishaq adotaram a estética romântica, enquanto pensadores como o egípcio Gamal ad-Din al-Afghani propugnavam um "pan-islamismo" que combinava a reivindicação da fé tradicional com a influência do liberalismo ideológico europeu.

Só em fins do século XIX, no entanto, os escritores árabes começariam a expressar-se com voz própria e poderosa, centrada de início na denúncia do colonialismo e posteriormente nos problemas das novas nações independentes.

No campo da lírica, o grande artífice da recuperação foi o egípcio Ahmed Sawqi, que residiu muito tempo na Europa e faleceu em 1932. Cantor por excelência de seu país natal, Sawqi devolveu à poesia árabe o brilho da época neoclássica, matizado pela influência do romantismo e do simbolismo europeus. Seu trabalho foi continuado pelo "grupo libanês", que desenvolveu a maior parte de sua obra como emigrados e cuja figura central seria Gibran Khalil Gibran. Embora desde 1923 tenha começado a escrever em inglês, Gibran foi sempre um autor admirado no mundo árabe e alcançou grande popularidade no Ocidente, ainda que a aguçada sensibilidade de seus poemas e contos nem sempre fosse bem compreendida.

A breve vida do iraquiano Abd al-Wahab al-Bayati não o impediu de desenvolver uma obra fundamental na poesia árabe contemporânea. Cultivador inicial de uma lírica de tipo social e comprometido, com obras como As armas e os meninos, Bayati posteriormente acrescentou a essa temática uma preocupação filosófica e existencial que alcançaria a culminância no extenso canto O hino da chuva e na coletânea A morte na vida. Os outros dois grandes nomes da renovação poética do século XX foram o sírio Ali Ahmad Said, chamado Adonis, que deu ao verso livre um tratamento hermético próximo ao surrealismo, e o egípcio Abas Mahmud al-Aqad, que em sua prolífica obra poética e ensaística soube combinar as preocupações sociais com a exigência da depuração estética.

A eclosão das guerras entre árabes e israelenses e o crescente nacionalismo marcaram de forma decisiva a obra dos poetas surgidos após 1950, entre os quais se destacaram os palestinos Mahmud Darwis e Samih al-Quasim.

A aparição e o desenvolvimento da novela constituíram o traço mais original da nova literatura. A consolidação do gênero teve lugar no Egito, graças à obra de dois autores que foram também, ao lado de seu compatriota Salama Musa, mestres do pensamento árabe: Tawfiq al-Hakim, que em O despertar de um povo, inspirado nas revoltas anticolonialistas de 1919, pesquisou as fontes profundas do nacionalismo árabe, e Taha Husain, escritor cego cuja autobiografia Os dias uniu as ressonâncias clássicas a uma profunda análise psicológica. O próprio al-Hakim proporcionaria seus melhores momentos ao novo gênero teatral, em que também se destacou seu versátil compatriota Yusuf Idris.

Outro egípcio, Nagib Mahfuz, elevou a narrativa a uma altura excepcional com obras como sua célebre Trilogia, publicada na década de 1950, e A taberna do gato preto, tentativa de fusão do teatro e da novela. A Trilogia, considerada por muitos críticos a maior obra da literatura árabe do século XX, constitui uma ambiciosa tentativa de refletir, sob o prisma da vida cotidiana no Cairo, as transformações da sociedade egípcia desde os começos da primeira guerra mundial, com um estilo realista que não renunciava, no entanto, à inclusão de elementos simbólicos e experimentos lingüísticos. Em 1988 Mahfuz tornou-se o primeiro árabe a receber o Prêmio Nobel de literatura.

A marca da obra de Mahfuz se tornaria perceptível em quase todos os romancistas posteriores, entre os quais cabe destacar o sudanês al-Tayib Salih, autor do excelente Época de emigração para o norte, o libanês Suhayl Idris e o sírio Zakariya Tamir. A grave crise surgida com a questão palestina e as contradições entre o pujante nacionalismo e a necessidade de renovar as estruturas tradicionais seriam as preocupações básicas desses autores como, em suma, de toda a literatura árabe da segunda metade do século XX.

Música ÁrabeMúsica Árabe - Dominante na cultura musical do mundo islâmico, a música árabe teve seus princípios assimilados por povos não árabes, como mouros, persas e berberes. Apenas alguns países onde se introduziu o islamismo, como a Índia e a Indonésia, conservaram os estilos nativos.

A música árabe tem uma teoria e um processo de notação que remontam aos gregos, ocorrendo como manifestação aparentemente mais lúdica do que estética, aberta a sugestões e improvisações do momento.

A música árabe caracteriza-se por sutil combinação de melodia e ritmo, a que se sobrepõem a improvisação virtuosística e a rica ornamentação. As melodias constroem-se com base nos maqamat (forma plural de maqam, "modo"), dos quais se conhecem mais de cem. Um maqam é uma entidade musical complexa, cujo caráter específico se define pelo uso de determinada escala; de pequenas unidades melódicas e rítmicas, desenvolvidas segundo fórmulas típicas dentro de limites pré-determinados; e pela fixação de notas predominantes.

O executante improvisa dentro da estrutura de cada maqam, a que se atribui uma conotação emocional ou filosófica específica (tathir). Os ritmos organizam-se em iqaat, padrões cíclicos de tempos fortes e fracos. É uma música sempre monofônica, isto é, consiste numa única linha melódica. A noção de harmonia encontra-se inteiramente ausente, embora às vezes oitavas, quintas e quartas, em geral abaixo da nota melódica, sejam usadas como ornamentação. A música árabe é transmitida oralmente, embora exista notação e teoria, segundo os antigos padrões gregos.

Intimamente ligadas à poesia, as formas musicais alteram solos vocais com interlúdios instrumentais. Há o taqsim, improviso de solista acompanhado por alaúde ou grupo de instrumentos, o bashraf, com quatro partes e refrão, o nawba, espécie de suíte do norte da África. A improvisação é sempre fundamental.

Os instrumentos de corda representam a família mais importante, destacando-se o ud (alaúde), o qanun (saltério), o santur (cítara), o rabab (rabeca). A percussão inclui címbalos (sanuj) e pandeiros (duff). Entre os instrumentos de sopro, destacam-se a zorna, a gayta, o buq (trompa), o nafir (trombeta) e vários tipos de flauta.

Língua Árabe

Língua Árabe - Até o início do século VII, o árabe era um idioma de tribos nômades. A partir daí, por ter sido a língua em que se fez a Revelação consignada por Maomé no Alcorão, expandiu-se notavelmente, em decorrência do avanço do islamismo. As conquistas militares muçulmanas, no fim do século VIII, levaram o islamismo e a língua árabe a dominar vastas regiões, no oeste da Ásia, norte da África e península ibérica.

Falada durante séculos em grande parte da península ibérica, a língua árabe deixou fortes marcas no léxico do português e do espanhol. Hoje a mais importante das línguas semíticas, seu território ocupa uma faixa que vai do Marrocos ao Iraque, estendendo-se ainda a outros países.

Uma das características marcantes do árabe é a dicotomia entre a língua literária clássica, veículo de uma literatura muito rica, e os dialetos falados, que entre si apresentam amplas diferenças. A língua escrita formal, extremamente conservadora, ainda hoje pouco difere da do Alcorão, e é também a língua religiosa do mundo muçulmano. Já o árabe coloquial diversifica-se bastante de uma região para outra. O uso de um complexo alfabeto em que a forma dos caracteres varia segundo a posição inicial, medial ou final dificulta sobremodo o aprendizado da língua escrita, que fica assim fora do alcance da maioria dos falantes do mundo árabe.

O árabe clássico possui um sistema de declinações de três casos (nominativo, acusativo e genitivo), que não correspondem exatamente aos casos de mesmo nome em latim e que desapareceram nos dialetos modernos.

Fonologia - O árabe clássico é uma língua de vocalismo pobre (apenas três vogais: a, i, u) e de consonantismo rico (26 consoantes, entre as quais não figura o p). Duas das características mais notáveis da fonética árabe são a existência de seis consoantes guturais (velares ou pós-velares) e quatro enfáticas.

Morfologia - A estrutura das palavras árabes (típica das línguas semíticas) caracteriza-se pela existência de uma raiz aparente, constituída mais frequentemente por três consoantes, que fornece o sentido lexical básico. As vogais que geralmente seguem cada consoante servem para caracterizar as funções gramaticais, numa flexão interna. Pode-se dar um exemplo com algumas das palavras formadas com a raiz ktb, que tem o sentido nuclear de "escrever": katib, "aquele que escreve", "escrevente"; kitab, "o que está escrito", "livro"; aktubu, "escrevo", "escrevia" ou "escreverei"; maktub, "carta", "o que está escrito" (no destino).

Nome e verbo - O nome, conforme a construção, funciona ora como substantivo, ora como adjetivo. Há dois gêneros, o masculino e o feminino, este caracterizado essencialmente pelo sufixo -at: gazalat, "gazela"; amirat, "princesa". Ao singular se opõem: um dual, marcado pelo sufixo -ani(babun, "uma porta"; babani, "duas portas") e um plural, ora marcado pelo sufixo -una (muslimun, "um muçulmano"; muslimuna, "muçulmanos"), ora por uma alteração do tema (rajulun, "um homem"; rijalun, "homens"). Substantivos e adjetivos apresentam-se ou determinados pelo artigo prefixado al (albabu, "a porta") ou indeterminados, com a desinência -n (babun, "uma porta").

O verbo distingue-se do nome pela presença de um afixo exterior à raiz. O sistema verbal árabe não se baseia na expressão do tempo situado em relação ao momento em que se fala (passado, presente, futuro), mas no "aspecto" do processo, conforme se considere acabado (perfectivo) ou inacabado (imperfectivo), qualquer que seja o momento em que se realize o processo relativamente ao ato da fala. Assim, katabtu (aspecto perfectivo) pode significar, segundo o contexto, "escrevi", "escrevera", "terei escrito" etc., ao passo que o imperfectivo aktubu equivalerá a "escrevo", "escrevia" ou "escreverei". Os verbos distinguem-se também segundo os modos: indicativo, subjuntivo e jussivo.

A duplicação da primeira vogal ou da segunda consoante empresta à forma verbal um valor intensivo. Como exemplo, com a raiz qtl, "matar": qatala, "ele matou"; qaatala, "ele procurou matar" (isto é, "ele combateu"); qattala, "ele massacrou".

Outra peculiaridade da conjugação é indicar o gênero: "tu mataste" assume as formas qatalta para o masculino e qatalti para o feminino. Existe ainda uma flexão verbal de número - singular, dual e plural. A atribuição de um predicativo a um sujeito faz-se sem verbo de ligação: Zaidun alimun = "Zaid (é) sensato".

Filosofia Islâmica Filosofia Islâmica - Filosofia islâmica é o pensamento expresso em língua árabe e intimamente relacionado à religião muçulmana que floresceu entre os séculos VII e XV. Excluem-se dessa denominação as tendências modernas e contemporâneas da filosofia árabe, analisadas apenas como floração do Oriente dentro e fora dos limites da Idade Média latina.

O pensamento árabe representou, em suas mais remotas origens, uma dinâmica projeção dos grandes sistemas filosóficos gregos, ainda que vazado em língua semítica e fundamente modificado sob a influência oriental. A dimensão desse fato torna-se imensa quando se considera que o Ocidente deve aos filósofos árabes quase toda a preservação, já em nível crítico, do platonismo e, sobretudo, do aristotelismo.

Na origem e, a rigor, ao longo de toda a sua evolução, a filosofia árabe transmite ao mundo ocidental os fundamentos de quase todo o pensamento filosófico do Renascimento, em particular na Espanha e na Itália. Sem a contribuição dos comentadores árabes, o Renascimento seria depositário apenas do monólogo cristão da Idade Média. Seria correto dizer que os próprios pensadores medievais, em particular os tomistas, pagaram pesado tributo a esses ousados "heréticos" orientais.

Seitas e escolas teológicasEm seus primórdios, a filosofia árabe foi principalmente uma filosofia de teólogos, que devem tudo às crenças e tradições religiosas muçulmanas. Até o século IX, as especulações filosóficas do mundo árabe restringiam-se às discussões teológicas das primeiras seitas e escolas ascéticas, cuja suprema preocupação residia no exame de questões éticas e morais. O primeiro grande representante dessa época e notável cultor da reflexão moral de índole teórica foi Hasan al-Basri, que integrou o grupo chamado Companheiros do Profeta, responsável pelo início da maioria das discussões teológicas que logo se cristalizariam na constituição de seitas e escolas teológicas, como as de Antioquia (século III), de Nasibim, em comunidade de fala síria, e de Nasibim-Edessa, a principal delas, que floresceu entre os séculos IV e V e reuniu os nestorianos condenados como heréticos pelo Concílio de Éfeso (431). A esses nestorianos somaram-se depois outras seitas igualmente heréticas, como as dos monofisistas (responsáveis pela introdução do misticismo e dos ideais neoplatônicos), dos zoroastrista persas, dos pagãos de Harran e até mesmo dos judeus.

Tais seitas e escolas -- no interior das quais se destacavam os nomes de Alfarabi, Avicena, Avempace, Abubaker e Averroés, os três últimos já na Espanha -- dedicaram-se inicialmente a debates de questões como os atributos divinos e os conflitos entre a predestinação e o livre-arbítrio. Contribuíram consideravelmente para a concretização de uma reflexão filosófica que já se poderia dizer autônoma, cujo expoente supremo foi Alkindi, que viveu no século IX. Toda essa estratificação orgânica da filosofia árabe tornou-se possível, em grande parte, graças à transmissão ao universo muçulmano de consideráveis vertentes dos sistemas gregos, sobretudo o aristotelismo e o neoplatonismo, o que se deve à versão síria do helenismo, à atividade filosófico-religiosa dos nestorianos, ao misticismo dos teólogos monofisistas egípcios, e finalmente, às traduções muçulmanas das versões sírias dos textos gregos.

De Avicena e AlgazaliHerdeiro das tradições aristotélico-platônicas de Alkindi e, principalmente, de Alfarabi, Avicena foi o mais ilustre dentre todos os muçulmanos orientais. Segundo ele, o conhecimento forma-se a partir da realidade dos objetos conhecidos, desde a consciência dos princípios primordiais até a revelação escatológica, passando pelos princípios universais ou ideais. Sua sistematização da especulação interior é de capital importância para a filosofia escolástica, que absorveu de Avicena pelo menos três noções básicas: a da existência enquanto acidente que se associa à essência; a que se relaciona ao conceito da unidade do intelecto agente, constituída à custa da ascensão da potência no ato do entendimento; e a da distinção entre a essência e a existência nos seres criados, equivalente à união destes em Deus. Além da contribuição de ordem metafísica, o avicenismo proporcionou ainda significativas modificações no campo da lógica, em que conciliou diversos aspectos dos modelos aristotélicos e estóicos.

Como os predecessores, Avicena tentou harmonizar, em suas várias obras, as formas abstratas da filosofia com as tradições religiosas do islamismo. Tal pretensão, porém, falhou em muitos pontos, o que deu origem às críticas movidas contra ele por Algazali, cujo ceticismo racionalista, particularmente visível em sua Tahafut al-falasifa (Autodestruição dos filósofos), opõe-se tanto ao aristotelismo avicenista quanto ao neoplatonismo dos demais filósofos árabes. Em outras palavras, Algazali não admite racionalização helenizante das crenças religiosas. Seu Deus é o Deus do homem religioso, e não o do intelectualismo avicenista.

Filosofia árabe na Espanha Paralelamente às doutrinas desenvolvidas por Avicena e Algazali, destacam-se aquelas que, a partir do século XI, foram disseminadas pelos pensadores muçulmanos na Espanha, onde sobressai o nome de Averroés, o maior dentre todos os filósofos árabes. Antes dele, distinguiram-se o filósofo judeu Avicebron, Abubaker (autor de um curioso romance filosófico) e, sobretudo, Avempace, que descreveu o itinerário seguido pelo homem para reunir-se ao intelecto agente, substância una e comum a todos os entendimentos possíveis. É essa, ainda que obscuramente expressa, a doutrina da unidade do intelecto, cujo maior nome foi Averroés.

A obra de Averroés -- que, como seus predecessores, procurou conciliar filosofia e dogma -- representa a maturidade e a culminância da tradição aristotélica no pensamento muçulmano da Idade Média latina. Esse trabalho teve grande influência sobre a escolástica. Em essência, o averroísmo sustentava a eternidade do mundo, que, por haver sido criado por Deus, não tinha na eternidade uma contradição. Esse mundo criado e eterno teria surgido por emanação do primeiro princípio criador, mas sua eternidade exige também a eternidade da matéria, na qual subsistiriam, desde sempre e enquanto possibilidades, as formas extraídas por Deus para formar as coisas, e não introduzidas na matéria. A essa eternidade da matéria reagiram Tomás de Aquino e os antiaverroístas. A doutrina de Averroés, no entanto, iria marcar ainda três outros momentos históricos: no princípio do século XIII (com o averroísmo latino de Siger de Brabante), no final desse mesmo século (por meio de Duns Scotus, Pietro d'Abano, Marsílio de Pádua e outros) e na segunda metade do século XV (com os averroístas da Universidade de Pádua). Ao século XV pertence também o último valor expressivo da filosofia árabe, Aben-jaldun, de tendência neoplatônica.

#Beduínos
Beduínos - Os beduínos representam apenas uma pequena parcela da população do Oriente Médio, mas habitam ou utilizam amplos territórios na região, principalmente na Arábia Saudita, Iraque, Síria e Jordânia. A maior parte deles é de pastores que migram para o deserto na época das chuvas, retornando para as áreas cultivadas nos meses de seca.

Organizados em tribos, os beduínos são nômades e vagam pelos desertos do Oriente Médio, conduzindo rebanhos de oásis a oásis.

Embora tradicionalmente desprezem a agricultura e o trabalho manual, muitos beduínos se tornaram sedentários como resultado de sua evolução política e econômica, sobretudo depois da segunda guerra mundial. Na década de 1950 a Arábia Saudita e a Síria nacionalizaram grandes extensões de terras usadas pelos beduínos e a Jordânia limitou severamente a criação de cabras. Desde então, os conflitos entre beduínos e agricultores tornaram-se mais frequentes.

Os beduínos de maior prestígio são os criadores de camelos, que ocupam áreas importantes dos desertos do Saara, Jordânia e Síria. Seguem-se na hierarquia os criadores de carneiros e cabras. Seus chefes são chamados de xeques.

As tribos beduínas tiveram de se submeter ao controle dos governos dos países onde vivem e, assim, abandonaram as lutas internas e ataques a povoações, adotando hábitos mais pacíficos e civilizados. Sobrevivem, porém, muitos de seus costumes tradicionais: as famílias são numerosas e de estrutura patriarcal.
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