Behaviorismo

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No fim do século XIX, os psicólogos começaram a desenvolver novas concepções e novos métodos. A expressão máxima da nova tendência impôs-se na década de 1920, quando se consolidaram diferentes formas de entender a construção da teoria psicológica. A mais ampla e influente, sobretudo no mundo anglo-saxão, foi o behaviorismo.


Behaviorismo radical
Coube ao americano John B. Watson dar o grande impulso à psicologia behaviorista. Num artigo de 1913, "Psychology as the Behaviorist Views It" ("A Psicologia como o behaviorista a vê"), ele já apresentava as linhas fundamentais de seu pensamento. Mas foi em Psychology from the Standpoint of a Behaviorist (1919; A psicologia do ponto de vista de um behaviorista) que as teses de Watson encontraram sua mais nítida formulação. Nessa obra, ele definiu a psicologia como uma "ciência do comportamento" que devia omitir o estudo da consciência e da introspecção e basear-se apenas nos dados fisiológicos observáveis.

O behaviorismo radical watsoniano fundamentou-se em grande parte na escola reflexológica russa, particularmente na teoria do condicionamento de Ivan Pavlov, que explicava a forma como os estímulos se encadeavam com as reações para produzir o comportamento. Os dois conceitos fundamentais do behaviorismo foram, na verdade, a conexão estímulo-reação (reação do organismo diante de um determinado estímulo físico) e o reflexo condicionado. Este último baseou-se na descoberta de que um reflexo não condicionado a um estímulo natural -- por exemplo a secreção de saliva diante de um alimento -- podia ser associado a um estímulo diferente. Assim, em suas experiências com cachorros, Pavlov fazia uma campainha tocar antes de lhes dar comida. Ao cabo de certo tempo, os animais salivavam ao simples soar da campainha. A partir desta base, Watson considerou que todo comportamento humano podia ser explicado como uma sucessão de condicionamentos. Não haveria necessidade de recorrer a conceitos introspectivos como consciência, emoção ou sentimento.

O principal discípulo de Watson foi outro norte-americano, Karl Spencer Lashley, que contribuiu de forma notável para desenvolver a teoria comportamental. Suas experiências apoiavam-se diretamente na tese de Watson segundo a qual a conduta é composta por reações simples, como os reflexos, sejam eles condicionados ou não. Por meio dessas experiências, ele tentava correlacionar o grau de perda de uma habilidade adquirida pelos ratos e a destruição de determinada zona cortical. Essa correlação era estudada com métodos experimentais e quantitativos. Lashley comprovou que as reações perduram após eliminar-se a base fisiológica do reflexo.

Na década de 1930, o americano Edwin R. Guthrie desenvolveu as teses comportamentais de forma radical e afirmou que o complexo comportamento do homem, em última instância, pode ser explicado como resultado de um desenvolvimento evolutivo que o levou a aprender determinados padrões de reação muscular diante de estímulos recebidos em dadas circunstâncias. Caberia aos psicólogos, portanto, estabelecer as regras mais gerais que descrevessem as condições observáveis em que se produzissem comportamentos concretos, selecionando também os estímulos e as reações observáveis. Para Guthrie, um estímulo é "qualquer mudança de energia física que ativa um receptor e cria impulsos condutores no sistema nervoso". Reação, por sua vez, é o movimento de qualquer músculo ou grupo de músculos, ou a secreção de qualquer glândula. Assim, não se descreveriam "ações", mas só movimentos.

Burrhus Frederic Skinner, em suas obras The Behavior of Organisms (1938; Comportamento dos organismos) e Science and Human Behavior (1953; Ciência e comportamento humano), afirmou que o objeto da psicologia era o estudo do comportamento que exerce algum efeito sobre o ambiente onde se acha e, em especial, daquele que produz uma realimentação ou retroalimentação (feedback) capaz de influir sobre o comportamento futuro. Em outras palavras, é preciso estudar a aprendizagem e os mecanismos de adaptação.

Para Skinner, as leis empíricas da psicologia devem descrever da forma mais exata possível as relações que ocorrem com regularidade entre as variáveis dependentes -- controladas pelo cientista -- e as independentes. Devem também mostrar como uma reação concreta é função de um dado tipo de estímulo. Diante de um determinado estímulo, o psicólogo tem que ser capaz de prever a resposta subseqüente do organismo.


Neobehaviorismo
Diante das teses radicais dos autores citados, outros behavioristas consideraram que a teoria do reflexo não bastava para explicar o comportamento humano. O primeiro deles foi o americano Edward C. Tolman, que, em Purposive Behavior in Animals and Men (1932; Comportamento proposital nos animais e nos homens), sustentou que o comportamento se volta para um objetivo e, portanto, não é possível reduzi-lo a uma mera conexão entre estímulos e reações.

Coerente com essa tese, Tolman introduziu o conceito das "variáveis intervenientes". Tais variáveis seriam representações, não de algum estado mental, mas de propriedades funcionais que supostamente se encontram no organismo e atuam como mediadoras entre os estímulos e as respostas. Isto não significou o abandono do behaviorismo, pois não se pretendeu definir essas variáveis como conteúdos concretos de consciência, mas sim estudá-las em termos operacionais para modificar o comportamento, o que só pode ser feito a partir de dados objetivos. Outro americano, Clark L. Hull, autor de The Principles of Behavior (1943; Princípios do behaviorismo) também se afastou do behaviorismo radical e ortodoxo e, assim como Tolman, defendeu a ação das variáveis intervenientes. Hull sustentou que o organismo mantém com o meio uma relação dinâmica que a psicologia tem condições de estudar, descobrindo leis do comportamento que, em última análise, remetem à física e à fisiologia. Para Hull, a maior parte da atividade animal e humana volta-se para a satisfação de necessidades básicas. Esses "impulsos" (drives) constituem autênticas variáveis intervenientes, assim como o hábito, que é uma disposição para reagir de um modo específico, fixado mediante uma determinada configuração do sistema nervoso em dadas condições do ambiente externo. Nem os impulsos nem os hábitos podem ser observados, mas é possível inferi-los a partir da ciência física e fisiológica e da observação das conexões estímulo-resposta.

Repercussões do behaviorismo
As teses behavioristas exerceram grande impacto sobre a vida intelectual, especialmente nos países anglo-saxões. Como atitude metodológica e ideológica, ultrapassaram os limites da psicologia e projetaram-se na filosofia, na literatura (Skinner foi autor do romance utópico Walden Two) e, de modo geral, em todos os campos de debate ideológico. Junto com a psicanálise, representam a tendência psicológica mais difundida.

Todos os psicólogos empíricos, bem como especialistas de outras disciplinas, acreditam, em comum com o behaviorismo, em um ponto básico: o único modo científico de estudar o comportamento consiste no estudo objetivo de suas alterações. Assim, negou-se toda teoria especulativa. No entanto, a maior parte das escolas psicológicas abandonou a tentativa de reduzir os conteúdos mentais a meros produtos da reação estímulo-resposta. Nesse sentido, cabe afirmar que o behaviorismo radical foi de certo modo superado pela própria audácia de suas afirmações. Por outro lado, porém, contribuiu de forma decisiva para dar à psicologia o caráter de ciência autêntica, fornecendo-lhe uma metodologia indispensável e um critério de objetividade.

Modificação do comportamento
O behaviorismo constitui um corpo teórico específico da psicologia. As técnicas de modificação de comportamento, derivadas sobretudo da psicologia da aprendizagem e centradas no condicionamento reforçado, pressupõem a aplicação prática desse corpo teórico. Mediante os métodos de modificação de comportamento, o terapeuta tenta reforçar as manifestações comportamentais que deseja fixar e debilitar as não desejadas.

Tanto em tarefas de recuperação como de treinamento comportamental, utilizam-se meios específicos, de modo a reforçar ou inibir certos comportamentos. Como reforços positivos, aplicam-se estímulos agradáveis imediatamente após a obtenção da reação desejada. Como reforços negativos, eliminam-se estímulos desagradáveis tão logo se apresenta o comportamento visado.

O progresso rumo ao comportamento desejado pode partir do exercício dos comportamentos mais elementares (formação passiva do comportamento), ou limitar-se a sua progressiva modelagem. Para tanto, empregam-se por vezes técnicas de autocontrole que implicam por parte do paciente a clara noção de todas as regras e contingências a cumprir para obter o reforço. Quando se pretende suprimir um comportamento, tenta-se eliminar os reforços obtidos pela pessoa com sua realização ou reforçar os comportamentos opostos. Em casos extremos, recorre-se a técnicas de dessensibilização, relaxamento, exclusão, isolamento etc.


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