Moralidades (Literatura)

Moralidades (Literatura)

#Moralidades (Literatura)Moralidades são obras dramáticas medievais que se definem pelo maior nível de abstração e elaboração no tratamento das questões religiosas e éticas do que os gêneros precedentes. Enquanto os mistérios e milagres consistem basicamente na encenação fiel de narrativas bíblicas, as moralidades têm como principal marca o enredo original. Foi essa característica a que mais contribuiu para a transformação do teatro medieval, que deixou de ser instrumento de proselitismo religioso para tornar-se uma forma de livre expressão artística.

Diferentes em forma e conteúdo dos mistérios e milagres, gêneros preponderantes na Idade Média, as moralidades abriram caminho para a secularização do drama medieval e da afirmação do teatro como arte independente da igreja.

A maior parte das inovações radicais introduzidas pelas moralidades é de tipo formal, profundamente influenciadas pela literatura homiliar (que prega a moral evangélica) da Idade Média. Nos sermões se inspira o conteúdo de promessa das chamas do inferno para os que não resistem às tentações do diabo. A forma alegórica, que é a própria essência das moralidades, deriva da poesia medieval.

Nas moralidades mais antigas de que se tem notícia, surgidas em York, Inglaterra, no fim do século XIV, a ação era sempre um combate pela posse da alma do homem, travado entre os sete pecados capitais e as sete virtudes teologais. Esse esquema continha todo o espírito e a forma das moralidades. O tema básico era a salvação da alma, mas a variedade de personificações e incidentes atestavam a criatividade teatral de autores, que frequentemente introduziam episódios cômicos em suas lições morais. Muitas vezes os diabos, eternos derrotados, eram desmoralizados e levavam grandes surras em cena. Sob o aspecto da crítica ao erro, muitas vezes a moralidade estava mais próxima da farsa, da sátira e da paródia que dos mistérios e milagres. O tom moralizante, a mistura de gêneros, a investigação introspectiva sobre a natureza do bem e do mal e a figura do diabo presentes nas moralidades tiveram grande significação no desenvolvimento do teatro inglês, que evoluiu para a fórmula elisabetana.

A primeira moralidade inglesa preservada, The Castle of Perseverance (1425; O castelo da perseverança), tem como tema as peripécias do homem que hesita entre os bens terrenos e a salvação de sua alma. A natureza alegórica da peça pode ser constatada pelos nomes de seus 34 personagens, entre eles Humildade, Generosidade, Orgulho e Ira.

O gênero evoluiu até atingir o ápice de rendimento teatral e literário em Everyman (c.1492; Todo mundo). Nessa obra, tida como exemplar entre as moralidades, já são claros os indícios de secularização, pois as próprias figuras alegóricas são mais humanizadas: Boas Companhias, Primo, Parente, Beleza, Boas Ações etc. Tanto Everyman quanto o texto original em que se inspira, atribuído ao clérigo holandês Petrus Diesthemius, tornaram-se conhecidos em toda a Europa pela versão latina, Hecastus (1539), de autoria do humanista holandês Georgius Macropedius.

Depois disso, acentuou-se o processo de secularização do teatro medieval e o debate ético começou a ser encarado independentemente do problema religioso. Exemplo disso é Wyt and Science (1530; Espírito e ciência), moralidade escrita por John Redfern sobre o estudo e o mundo acadêmico, com os seguintes personagens: Espírito, um estudante; Senhora Ciência, com quem ele quer casar; Razão, seu pai; Experiência, sua mãe; Instrução, Estudo, Diligência, Recreação Honesta etc.

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