Bestiário (Literatura Medieval)

Bestiário (Literatura Medieval)

#Bestiário (Literatura Medieval)

Redigido em prosa ou verso, bestiário foi um gênero literário popular na Idade Média, com intenção moralizante. Com base na ideia de que tudo na natureza é fonte de ensinamentos úteis à salvação do homem, depois de enumerar os caracteres físicos dos animais, muitas vezes fabulosos, acrescentava uma interpretação de que se tira conclusão moral.

Redigidos em sua maioria em latim ou francês, os bestiários constituem documentos preciosos para o estudo da mentalidade medieval. Com sua visão poética do mundo, influenciaram o desenvolvimento da alegoria e do simbolismo na literatura e nas artes.

O mais antigo bestiário medieval conhecido é o de Philippe de Thaon (século XII), escrito em francês, com 38 capítulos e 3.194 versos. Os 22 primeiros capítulos são dedicados a Deus e aos animais terrestres, os 11 seguintes ao homem e aos pássaros, os últimos ao diabo e aos minerais. Do início do século XIII é o Bestiaire, de Gervaise, com um texto breve que eliminava alguns dos animais presentes no original de Thaon. O leão, o antílope e o unicórnio permaneciam como os mais importantes, sendo comparados a Deus, a Jesus e à Virgem.

Mais desenvolvido e da mesma época, Le Bestiaire divin (O bestiário divino), de Guillaume Le Clerc, tem 3.426 versos e retoma os mesmos exemplos de Philippe de Thaon. Entre 1210 e 1218, Pierre de Beauvais compôs dois bestiários em prosa, com animais de nomes diferentes, introduzindo o lobo e o cão.

De todas essas obras, apenas Le Bestiaire d'amour (c.1250; Bestiários de amores), de Richard de Fournival, é puramente profano. Os animais que aí figuram servem para ilustrar os segredos do comportamento amoroso, enquanto nas qualidades que lhes são atribuídas buscam-se comparações e argumentos próprios para cortejar uma dama.

O primeiro bestiário ocidental ilustrado, com desenhos ainda grosseiros, data do século X e encontra-se na Bibliothèque Royale de Belgique, em Bruxelas. Entre os primeiros de origem oriental, destaca-se o da biblioteca de Esmirna (c.1100). Os bestiários ilustrados tornaram-se comuns a partir do século XII. Em geral, seu valor artístico não é grande, mas os bestiários ingleses apresentam execução mais cuidadosa. Apesar de a importância dos bestiários não estar nas ilustrações, estas tiveram influência nas esculturas românicas e góticas com figuras de animais, e nas drôleries (caprichos) das miniaturas medievais.

No século XX, a tradição medieval foi retomada pelo poeta francês Guillaume Apollinaire, cujo Le Bestiaire ou Cortèje d'Orphée (1911; O bestiário ou cortejo de Orfeu) foi ilustrado pelo pintor Raoul Dufy. Certas parábolas de Kafka são bestiários em miniatura. Na literatura hispano-americana, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar também criaram obras de zoologia fantástica.

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