Seis Personagens à Procura de Um Autor | Luigi Pirandello

" O Porteiro (com o boné na mão)
Com licença, senhor Diretor....
O Diretor (abrupto, de maus modos)
Que é ainda?
O Porteiro (tímido)
Estão aqui umas pessoas, perguntando pelo senhor.
(O Diretor e os atores voltam-se surpresos, a olhar para a sala.)
O Diretor (furioso outra vez)
Mas estou ensaiando. E você bem sabe que, quando ensaio, não deve entrar ninguém. (Olhando para o fundo da platéia) Quem são os senhores? Que desejam?...
O Pai (adiantando-se até uma das escadinhas, seguido pelos outros)
Estamos aqui à procura de um autor.
O Diretor (entre espantado e irritado)
De um autor? Que autor?
O Pai
Qualquer um, senhor.
O Diretor
Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.
A Enteada (com alegre vivacidade, subindo de corrida a escadinha)
Tanto melhor! Tanto melhor, então, meu senhor. Poderemos ser nós a sua nova peça!...
Um Ator (entre os comentários rápidos e as risadas dos outros)
Oh! Escutem, escutem!
O Pai (subindo ao palco, em seguida à Enteada)
Sim... mas se não há nenhum autor... (Ao Diretor)
Salvo se o senhor quiser ser...
(A Mãe, com a Menina pela mão, e o Rapazinho subirão os primeiros degraus da escadinha e ficarão ali, à espera. O Filho permanecerá embaixo, mal-humorado.)
O Diretor
Os senhores querem fazer graça?...
O Pai
Não, em absoluto! Que está dizendo, senhor? Ao contrário, trazemo-lhes um drama doloroso.
A Enteada
E poderemos fazer a sua fortuna!
O Diretor
Façam-me o favor de ir embora! Não temos tempo a perder com loucos.
O Pai (ofendido, mas melífluo)
Oh, senhor, sabe muito bem que a vida é cheia de infinitos absurdos, os quais, descaradamente, nem ao menos têm necessidade de parecer verossímeis. E sabe por que, senhor? Porque esses absurdos são verdadeiros.
O Diretor
Mas que diabo está o senhor dizendo?...
O Pai
Digo que, ao pensarmos nesses absurdos verdadeiros, que nem mesmo verossímeis nos parecem, vemos que a loucura consiste, justamente, no oposto: em criar verossimilhanças que pareçam verdadeiras. E essa loucura, permita-me que lhe observe, é a única razão de ser da profissão dos senhores."
Com licença, senhor Diretor....
O Diretor (abrupto, de maus modos)
Que é ainda?
O Porteiro (tímido)
Estão aqui umas pessoas, perguntando pelo senhor.
(O Diretor e os atores voltam-se surpresos, a olhar para a sala.)
O Diretor (furioso outra vez)
Mas estou ensaiando. E você bem sabe que, quando ensaio, não deve entrar ninguém. (Olhando para o fundo da platéia) Quem são os senhores? Que desejam?...
O Pai (adiantando-se até uma das escadinhas, seguido pelos outros)
Estamos aqui à procura de um autor.
O Diretor (entre espantado e irritado)
De um autor? Que autor?
O Pai
Qualquer um, senhor.
O Diretor
Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.
A Enteada (com alegre vivacidade, subindo de corrida a escadinha)
Tanto melhor! Tanto melhor, então, meu senhor. Poderemos ser nós a sua nova peça!...
Um Ator (entre os comentários rápidos e as risadas dos outros)
Oh! Escutem, escutem!
O Pai (subindo ao palco, em seguida à Enteada)
Sim... mas se não há nenhum autor... (Ao Diretor)
Salvo se o senhor quiser ser...
(A Mãe, com a Menina pela mão, e o Rapazinho subirão os primeiros degraus da escadinha e ficarão ali, à espera. O Filho permanecerá embaixo, mal-humorado.)
O Diretor
Os senhores querem fazer graça?...
O Pai
Não, em absoluto! Que está dizendo, senhor? Ao contrário, trazemo-lhes um drama doloroso.
A Enteada
E poderemos fazer a sua fortuna!
O Diretor
Façam-me o favor de ir embora! Não temos tempo a perder com loucos.
O Pai (ofendido, mas melífluo)
Oh, senhor, sabe muito bem que a vida é cheia de infinitos absurdos, os quais, descaradamente, nem ao menos têm necessidade de parecer verossímeis. E sabe por que, senhor? Porque esses absurdos são verdadeiros.
O Diretor
Mas que diabo está o senhor dizendo?...
O Pai
Digo que, ao pensarmos nesses absurdos verdadeiros, que nem mesmo verossímeis nos parecem, vemos que a loucura consiste, justamente, no oposto: em criar verossimilhanças que pareçam verdadeiras. E essa loucura, permita-me que lhe observe, é a única razão de ser da profissão dos senhores."