Amor por Anexins | Artur de Azevedo

Amor por Anexins | Artur de Azevedo

Amor por Anexins | Artur de Azevedo" Inês (À parte.) Levemos a coisa com jeito (Alto.) O senhor... (Com uma idéia.) Ah!
Isaías — Oh!
Inês — Já viu representar As pragas do Capitão?
Isaías — Não, senhora. De pragas ando eu farto.
Inês — Era um militar que praguejava muito. A senhora que ele amava deu-lhe a mão de esposa, mas depois de estabelecer-lhe a condição de não praguejar durante meia hora.
Isaías — Falo em alhos, e a senhora responde com bugalhos!
Inês — Já lá vamos aos alhos: aceito a sua proposta.
Isaías (Impetuosamente.) — Aceita?
Inês — Sim, senhor.
Isaías (Incrédulo.) — Qual! Quando a esmola é muita, o pobre desconfia...
Inês — Mas imponho também a minha condição...
Isaías — Imponha: manda quem pode.
Inês — Se conseguir levar meia hora sem...
Isaías — Sem praguejar?...
Inês — Não! Sem dizer um anexim! Se o conseguir, é sua a minha mão.
Isaías — Deveras?
Inês (Sentando-se.) — Deveras.
Isaías — Mas eu posso estar calado?
Inês — Como assim?! Era o que faltava! Há de falar pelos cotovelos!
Isaías — Isso é um pouco difícil: o costume faz lei...
Inês — Ai, que escapou-lhe um!
Isaías — Pois o que quer? a continuação do cachimbo...
Inês — Faz a boca torta, já duas vezes.
Isaías — Nas três o diabo as fez.
Inês — Ai, ai, ai! Vamos muito mal!
Isaías — Mas não tínhamos ainda entrado em campo... Aqueles foram ditos de propósito. Agora sim! Agora é que são elas!
Inês — Outro!
Isaías — Protesto! ‘Agora é que são elas’ nunca foi anexim. A César o que é de César!
Inês — O senhor vai perder... Olhe: são duas horas. (Aponta para um relógio que deve estar sobre a mesa.) Aceita o desafio? (Pausa) .
Bem. Quem cala consente...

Isaías — Ah! agora é a senhora quem os diz! Virou-se o feitiço contra o feiticeiro...
Inês — Ai, ai!
Isaías — Foi engano.
Inês — Dos enganos comem os escrivães. (Pausa.) Então? Diga alguma coisa...
Isaías — O que hei de dizer... senão... que gosto muito da senhora... e...
Inês — Pois diga: vai tantas vezes o cântaro à fonte, que lá fica.
Isaías — Não me provoque, senhora, não me provoque!
Inês — Cada qual puxa a brasa para sua sardinha...
Isaías (Agitado.) — Brasa! sardinha! Oh! que suplício!
Inês — O que tem o senhor?
Isaías — Nada... não tenho nada... é que esta proibição me incomoda... Este maldito costume... parece que não estou em mim...
Inês — Sabe o que mais?
Isaías — Vou saber.
Inês — Diga o que quiser! Abra a torneira dos anexins, ditados, rifões, sentenças, adágios e provérbios... Fale, fale para aí!
Isaías — E a condição?
Inês — Caducou. (Dando-lhe a mão.) Aqui tem: sou sua.
Isaías (Contente.) — Minha! (Em outro tom.) E os outros?
Inês — Não existem, nunca existiram!
Isaías — Pois estou acordado? Se estiver dormindo, deixa-me estar: não me acordes.
Inês — Está bem acordado.
Isaías — Estou?! (Pulando de contente.) Então viva Deus! Viva o prazer!... Trá lá lá rá lá! (Quer abraçá-la.)
Inês (Gritando.) — Alto lá! Mais amor e menor confiança!
Isaías — E que o rato nunca comeu mel, quando come... (Outro tom.) Pode-se dizer este ditadozinho?...
Inês — Quantos quiser!
Isaías (Concluindo.) — ... se lambuza! (Tomando-lhe as mãos.) E tu? amas-me, meu bem?
Inês — Sossegue: o amor virá depois. Seja bom marido e deixe o barco andar!
Isaías — Apoiado. Roma não se fez num dia!
Inês — E tenha sempre muita fé nos seus anexins.

Isaías — É verdade: O que tem de ser tem muita força. O homem põe... e a mulher dispõe!...
Inês — Basta! Despeça-se destes senhores, e vá tratar dos papéis...
Isaías — Quem tem boca não manda... cantar. Mas, enfim..."

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