As Ilusões Perdidas | Honoré de Balzac

Luciano herdara da mãe preciosos dotes físicos cujos privilégios cintilavam a seus olhos; mas, esse ouro se achava ainda na ganga e não trabalhado. Seus cabelos estavam mal cortados. Em vez de manter o rosto erguido por meio de brandas barbatanas, sentia-se amortalhado num ordinário colarinho; e a gravata, pouco resistente, deixava pender-lhe a cabeça entristecida. Que mulher poderia adivinhar seus bonitos pés metidos nas botas ignóbeis que trouxera de Angoulême? Que rapaz poderia invejar seu lindo talhe deformado por aquele saco azul que até então acreditara a uma casaca? Via lindos botões em camisas cintilantes de alvura, e a sua estava puída! Todos aqueles elegantes gentis-homens estavam maravilhosamente enluvados, e ele usava luvas de polícia! Este brincava com uma bengala deliciosamente encastoada. Vestia, aquele outro, uma camisa com os punhos presos por pequenos botões de ouro.(...) Percebendo essas lindas bagatelas de que, antes, nem suspeitava, Luciano viu diante de si o mundo das superfluidades necessárias, e estremeceu ao pensar que era preciso um capital enorme para chegar às alturas de um rapaz da moda! Quanto mais admirava aqueles jovens de ar feliz e desenvolto, mais tinha consciência de seu ar canhestro, ar de homem que ignora aonde vai dar o caminho que segue, que não sabe onde se situa o Palais-Royal mesmo quando o está tocando, e que pergunta onde fica o Louvre a um transeunte que lhe responde: – "Senhor, é aqui mesmo".
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