Conversa na Catedral | Mario Vargas Llosa

Conversa na Catedral | Mario Vargas Llosa

Conversa na Catedral | Mario Vargas Llosa"Explodiram outros Viva Odría em diferentes pontos do local, e agora o gordo guinchava: provocadores, provocadores, o rosto vermelho de raiva, enquanto exclamações, empurrões e protestos submergiam sua voz e uma tempestade de desordem revolucionava o teatro. Todos tinham se levantado, no fundo da platéia havia movimentos e empurrões, ouviam-se insultos, e já havia gente brigando. De pé, com o peito subindo e descendo, Trifúlcio tornou a gritar Viva Odría! Alguém da fila de trás o agarrou pelo ombro: provocador! Ele desprendeu-se com uma cotovelada e olhou para o limenho: agora, vamos. Mas Ludovico Pantoja estava duro como uma múmia, olhando-o com os olhos fora das órbitas, Trifúlcio segurou-o pelas lapelas do casaco, e fez com que ele se levantasse: mexa-se, homem.

– Que mais eu podia fazer, todos já estavam se misturando – disse Ludovico. – O negro sacou sua corrente e foi para o palco dando empurrões. Puxei a pistola e fui atrás dele. Com outros dois sujeitos conseguimos chegar até a primeira fila. Ali nos esperavam os caras com distintivos. Alguns do palco corriam para as saídas, outros olhavam para os sujeitos do serviço de ordem que formavam uma muralha e esperavam, com os cassetetes no ar, o mulataço e os outros que avançavam girando a corrente sobre suas cabeças. Manda brasa, Urondo, gritou Trifúlcio, vamos lá Téllez. Fez estalar a corrente como um domador usa seu chicote, e o do distintivo que estava mais perto soltou o cassetete e caiu no chão segurando a cara. Sobe, negro, gritou Urondo, e Téllez: nós seguramos eles, negro! Trifúlcio viu que eles se atiravam contra o grupinho que defendia a escadinha que conduzia ao palco e, girando sua corrente, atirou-se ele também.

– Fiquei separado de meu par e dos outros – disse Ludovico. – Uma parede de capangas formou-se entre eles e eu. Havia uns dez por ali, e pelo menos cinco me rodeando. Eu os mantinha afastados com a pistola, e gritava Hipólito, Hipólito. E nisso foi o fim do mundo, irmão."

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