Conversa na Catedral | Mario Vargas Llosa

– Que mais eu podia fazer, todos já estavam se misturando – disse Ludovico. – O negro sacou sua corrente e foi para o palco dando empurrões. Puxei a pistola e fui atrás dele. Com outros dois sujeitos conseguimos chegar até a primeira fila. Ali nos esperavam os caras com distintivos. Alguns do palco corriam para as saídas, outros olhavam para os sujeitos do serviço de ordem que formavam uma muralha e esperavam, com os cassetetes no ar, o mulataço e os outros que avançavam girando a corrente sobre suas cabeças. Manda brasa, Urondo, gritou Trifúlcio, vamos lá Téllez. Fez estalar a corrente como um domador usa seu chicote, e o do distintivo que estava mais perto soltou o cassetete e caiu no chão segurando a cara. Sobe, negro, gritou Urondo, e Téllez: nós seguramos eles, negro! Trifúlcio viu que eles se atiravam contra o grupinho que defendia a escadinha que conduzia ao palco e, girando sua corrente, atirou-se ele também.
– Fiquei separado de meu par e dos outros – disse Ludovico. – Uma parede de capangas formou-se entre eles e eu. Havia uns dez por ali, e pelo menos cinco me rodeando. Eu os mantinha afastados com a pistola, e gritava Hipólito, Hipólito. E nisso foi o fim do mundo, irmão."
www.klimanaturali.org