Fedra | Jean-Baptiste Racine


Fedra | Jean-Baptiste Racine

Fedra | Jean-Baptiste Racine
" Enone
Ó, céus! Todo o sangue se gela em minhas veias!
Oh desespero! Oh crime! Que estirpe deplorável!
Viagem infortunada! Rio maldito!
Não era necessário descer naquelas praias!

Fedra
O meu mal vem de mais longe.
Apenas me liguei ao filho de Egeu,
Comprometida por juras no altar de Himeneu,
Felicidade e paz parecendo seguras,
Atenas me apontou meu soberbo inimigo.
Eu o olhei, enrubesci e empalideci ao vê-lo;
A confusão tomou conta da minha alma perdida:
Meus olhos já não viam; não podia falar;
Senti meu corpo tremer de frio e arder em fogo;
Reconheci Vênus, suas chamas terríveis,
Os tormentos que ela tornava inevitáveis
Ao sangue que sempre perseguiu.
Com penitências sem fim pensei evitar minha sorte:
Ergui um templo à Deusa e o adornei.
Ofereci-lhe vítimas e, nas entranhas destas,
Eu procurava aflita minha razão perdida;
Remédios impotentes prum amor incurável!
Em vão eu queimava incensos nos altares.
Quando minha boca invocava o nome da Deusa,
Era o nome de Hipólito que invocava.
Eu o via a toda hora, e mesmo ali, no altar,
O fumo que se erguia — e tudo! — eu oferecia
a esse deus cujo nome não ousava revelar.
Eu o evitava sempre, em toda parte, mas, pra minha miséria,
Eu o encontrava sempre nas feições do pai.
Contra mim mesma enfim me revoltei
E arranjei coragem para persegui-lo.
Para banir o inimigo que eu idolatrava
Fantasiei o ódio de uma madrasta injusta;
E com gritos constantes exigi seu exílio,
Arrancando-o do peito e dos braços do pai.
Eu respirava, enfim; depois que foi embora
Tive dias tranqüilos, voltei à inocência.
Submissa a meu marido, ocultas as minhas penas,
Dediquei-me aos frutos do enlace fatal.
Precauções inúteis!: o destino é cruel!
Conduzida a Tresena por meu próprio esposo,
Revi ali o inimigo que eu tinha expatriado;
Minha ferida, ainda viva, recomeçou a sangrar,
Não é mais só um ardor escondido no peito:
É Vênus, desta vez, Vênus inteira,
Que salta em minhas veias.
Agora o meu crime já me enche de horror,
Sinto ódio da vida e abomino o amor;
Eu queria morrer pra salvar minha honra;
Não revelar nunca essa chama tão negra;
Mas não pude resistir a teus rogos e lágrimas;
Já te confessei tudo — e não me arrependo,
Só peço que respeites minha morte já próxima
E não me aflijas mais com censuras injustas,
Nem tentes reviver com esforços inúteis
Um resto de calor prestes a se extinguir."


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