O Crime de Lord Arthur Savile | Oscar Wilde

Era o Sr. Podgers, o quiromante! Ninguém poderia enganar-se diante de seu rosto gordo e flácido, os óculos de aro de ouro, o sorriso levemente doentio, a boca sensual. Lorde Arthur deteve-se. Uma idéia brilhante ocorreu-lhe, e ele acercou-se furtivamente por trás. Num momento, havia agarrado o Sr. Podgers pelas pernas e lançara-o ao Tâmisa. Ouviu-se uma rouca praga, um pesado baque na água, e depois tudo ficou em silêncio. Lorde Arthur olhou ansiosamente por sobre a balaustrada, mas não conseguiu ver do quiromante senão uma cartola, fazendo piruetas num redemoinho de água clareado pela lua. Pouco depois, também a cartola afundou, e não restou sinal algum do Sr. Podgers. A certa altura, Lorde Arthur teve a impressão de que vislumbrava a volumosa e deformada figura do quiromante, esforçando-se por chegar à escada da ponte, e uma terrível sensação de fracasso se apoderou dele, mas logo verificou que se tratava apenas de um reflexo, e quando a lua saiu de trás de uma nuvem, o reflexo se desfez. Pareceu-lhe então, finalmente, que cumprira o decreto do Destino. Soltou um profundo suspiro de alívio, e o nome de Sybil lhe veio aos lábios.
- Deixou cair alguma coisa, senhor? - indagou de repente uma voz às suas costas.
Lorde Arthur voltou-se e viu um policial, empunhando uma lanterna.
- Nada de importância, sargento - respondeu sorrindo, e, fazendo sinal a uma carruagem que passava, tomou-a e disse ao cocheiro que o levasse a Belgrave Square."
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