O Livro do Amor | Marsilio Ficino

Da mesma forma, portanto, é Deus, cuja beleza desejam todas as coisas, e em cuja posse todas as coisas repousam. Daí, então, o nosso desejo se inflama. Ali repousa a paixão dos amantes, e não se apaga, mas se completa. E, com razão, Dioníso compara Deus ao sol, porque assim como o sol ilumina e aquece o corpo, assim também Deus dá aos espíritos o brilho da verdade e o ardor da ternura. Em qualquer caso, direi que assim examinamos esta comparação no sexto livro Da República de Platão. Na verdade, gera corpos visíveis e olhos que vêem; introduz um espírito luminoso nos olhos para que vejam, em pinta os corpos de cores para que sejam vistos.
E nem, entretanto, o próprio raio aos olhos e as próprias cores aos corpos são suficientes para conseguir a visão, a não ser que na própria luz, uma sobre muitas, pela qual muitas e próprias luzes são distribuídas aos olhos e aos corpos, não chegue, ilumine, excite e se fortifique. Do mesmo modo, aquele primeiro movimento de todos, que se diz que é Deus, fornece beleza e movimento a cada coisa quando a produz. Sem dúvida, aquele movimento, quando for concebido em alguma coisa criada e num paciente subordinado, é fraco e impotente para a execução da obra, mas uma perpétua e invisível luz do divino sol sempre a todos assiste, favorece, vivifica, estimula, preenche e fortifica. Disto divinamente falou Orfeu: Favorecendo todas as coisas e elevando-se a si mesmo sobretodas as coisas Como é movimento de tudo e fortifica, diz-se que é bem. Visto que vivifica, conforta, acaricia e estimula, é belo. Como nas coisas apresentadas, e que devem ser conhecidas, seduz aquelas três forças da alma conhecida – mente, visão e audição –, é beleza. Conforme se junta à coisa conhecida, na potência que conhece, é verdade. Enfim, visto que é bom, gera, rege e preenche. Visto que é belo, ilumina e introduz a graça."
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