Guerras de Religião

Guerras de Religião

Guerras de Religião"Paris bem vale uma missa". Com esta frase, segundo a tradição, Henrique de Navarra justificou sua conversão ao catolicismo com o objetivo de ascender ao trono francês. O "bom rei" conseguiu, com seu cinismo religioso, a pacificação da França, dilacerada por mais de trinta anos de lutas civis.

Embora as guerras por motivos religiosos sejam tão antigas como a história, a expressão guerras de religião designa as lutas civis que abalaram a França por mais de quarenta anos, na segunda metade do século XVI. Os conflitos originaram-se pela divisão da sociedade francesa entre católicos e protestantes, estes denominados huguenotes.

Os movimentos da Reforma protestante tiveram pouca ressonância na França no começo do século XVI. Entretanto, a partir da década de 1530 tornou-se intensa a difusão das ideias calvinistas, por pastores enviados de Genebra, e a sociedade católica começou a sentir-se ameaçada. As regiões de Languedoc, Gasconha, Poitou Périgord e Delfinado foram as mais atingidas pelas doutrinas de Calvino. Em 1562, quando começaram as guerras de religião, já se haviam organizado mais de duas mil igrejas calvinistas em todo o país.

Os reis franceses Francisco I, Henrique II e Francisco II executaram uma política de repressão ao protestantismo, mas como expediente destinado a obter o apoio econômico da igreja que por convicções religiosas. Contudo, Catarina de Medici, que governou a França durante a menoridade de seu filho Carlos IX -- o qual reinou entre 1560 e 1574 -- seguiu a política conciliadora do chanceler Michel de L'Hospital. Levando em consideração o crescimento do poder dos huguenotes, abrandou as restrições que sobre eles tinham sido impostas, desde janeiro de 1562, pelo Edito de Saint-Germain.

A casa de Guise, das mais poderosas da França, reagiu à política de tolerância e, em março de 1562, os partidários do duque de Guise deram início à primeira guerra civil, em Wassy, ao assassinarem um grupo de protestantes reunidos nesse local. Os chefes dos dois grupos morreram no decorrer da guerra. Em março de 1563, Catarina de Medici, para pôr fim ao conflito, promulgou o Edito de Amboise, que garantia liberdade de consciência aos huguenotes, mas permitia o culto apenas em âmbito privado. Nesse mesmo ano, a regente fez reconhecer a maioridade de Carlos IX, que deixou à mãe o trato dos negócios públicos.

Uma nova guerra começou em setembro de 1567, porém em março do ano seguinte foi estabelecida a paz de Longjumeau. Este acordo foi rompido em setembro do mesmo ano, quando Catarina de Medici destituiu do cargo o moderado L'Hospital e adotou os Guise como favoritos. Embora triunfassem os católicos, foi firmada a paz de Saint-Germain em agosto de 1570, que concedia liberdade de culto aos huguenotes, exceto em Paris, e lhes garantia quatro praças fortes, La Rochelle, Cognac, Montauban e La Charité. Seu representante mais destacado, almirante Gaspard de Coligny, conquistou o favor real e iniciou uma política externa contrária ao predomínio espanhol.

O partido católico, com a cumplicidade espanhola, preparou um revide. Em 24 de agosto de 1572, na chamada noite de são Bartolomeu, mais de três mil huguenotes, entre eles Coligny, foram assassinados em Paris. Em toda a França, morreram cerca de vinte mil protestantes. Nova guerra foi deflagrada, que findou com a paz de Monsieur, em 1576. O novo rei, Henrique III, era irmão de Carlos IX e exerceu o poder de 1574 a 1589. Sua autoridade foi solapada pelos dois grupos, que empreenderam nova luta até a assinatura da Paz de Bergerac, em 1577. Por esta, limitavam-se as concessões obtidas pelos huguenotes no acordo anterior.

Uma tranqüilidade instável, rompida por incidentes isolados, estendeu-se pela França, mas em 1584, ao morrer o duque de Anjou, o protestante Henrique de Navarra tornou-se herdeiro direto do trono francês. Desencadeou-se, então, a guerra dos três Henriques, durante a qual o católico Henrique de Guise foi assassinado à traição por ordem do rei Henrique III e este, por sua vez, não demorou a ser morto. Henrique de Navarra, herdeiro do trono, teve de confrontar-se com a Santa Liga e com os exércitos de Filipe II da Espanha, o monarca mais poderoso da época. O rei espanhol reivindicava o trono para a filha Isabel, que tivera com Cláudia de França, neta de Henrique II e de Catarina de Medici.

Em 1593, Henrique de Navarra converteu-se ao catolicismo e venceu, pela combinação da força e da diplomacia, a oposição católica. Foi coroado rei da França em fevereiro de 1594, porém o rei da Espanha continuou a guerra. Filipe II, no entanto, enfrentou a forte coalizão da França, da Inglaterra e dos Países Baixos (Holanda). Por fim, o Tratado de Vervins, de 1598, pôs fim à intervenção do monarca espanhol, que reconheceu Henrique IV como rei da França. No mesmo ano o monarca promulgou o Edito de Nantes, que consagrou a tolerância religiosa. Por este meio, estabeleceu bases duradouras para a paz interna.

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