Reforma Religiosa e Contrarreforma

Reforma Religiosa e Contrarreforma

Reforma Religiosa e Contrarreforma
As transformações ocorridas na Europa, na passagem da Idade Média para a Moderna, atingiram os princípios e os valores religiosos tradicionais. Os “grandes males” do século XIV revelavam que a vida valia muito pouco, que era preciso pensar mais na alma, na vida após a morte, preparar-se para o dia do Juízo Final. Porém, os princípios da Igreja, como a proibição da usura, que limitava os lucros, não se encaixavam nos ideais e objetivos da burguesia. Além disso, os reis e a nobreza cobiçavam os bens da Igreja, especialmente suas terras.

Agravava a crise o fato de que leitura da Bíblia e dos textos básicos do Cristianismo contradiziam muitas atitudes e condições da Igreja. Observa-se que havia um descompasso entre a doutrina e a realidade. As riquezas oriundas das rendas das terras eclesiásticas, da venda de indulgências, da cobrança do dízimo embelezavam os palácios episcopais e corrompiam o alto clero. Era uma Igreja que pregava a simplicidade, para os outros.

E politicamente havia, dentro dela, uma disputa pela ampliação de poder entre o papado e a Cúria Romana, seu mais alto órgão colegiado. Como a possibilidade da Igreja se reformar de dentro para fora não se concretizou, ela aconteceu de fora para dentro.

O desencadeamento da Reforma na Alemanha
A situação da Alemanha estimulou o movimento reformista. Nela, a Igreja, além de possuir boa parte das terras, possuía um alto clero aristocrático, sem vocação, corrupto e com má formação intelectual, embora o povo fosse profundamente religioso.

A venda das indulgências foi o fator que precipitou a Reforma. Eram títulos comprados para abonar os pecados cometidos ou a ser cometidos. Um “passaporte para o Paraíso”, que beneficiava os ricos Para concluir as obras da basílica de São Pedro, a Igreja escolheu a obediente Alemanha para a venda de indulgências. A casa bancária dos Fuggers foi a encarregada da venda, adiantando o dinheiro à Igreja. Contra essa comercialização da fé, colocou-se o monge agostiniano Lutero, que afixou suas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg, em 1517. Pretendia purificar a religião, e não criar uma divisão dentro da Igreja. Porém, uma das teses afirmava que só a fé assegurava a salvação, negando portanto o livre arbítrio, um dos princípios oficiais da Igreja. Em 1520, o papa Leão X, por meio de uma bula, exigiu sua retratação. Lutero respondeu com a queima da bula papal. Foi excomungado. No ano seguinte, o imperador Carlos V convocou uma assembléia, a Dieta de Worms, para encontrar uma solução. Condenado, Lutero obteve o apoio do duque da Saxônia, que o abrigou em seu castelo.

A ação de Lutero teve o apoio entusiasmado da pequena nobreza, que pretendia se apossar das terras clericais e dos camponeses, que se aproveitaram da anarquia gerada pela nobreza, ata- cando as propriedades feudais. A revolta mais importante foi a dos

anabatistas (contrários à forma batismo realizada pela Igreja); liderados por Tomaz Münzer, criticavam o acúmulo de riquezas e o comportamento do clero. A revolução social estourou na Alemanha. Diante da terrível situação, Lutero se aliou à nobreza que reprimiu com violência a revolta camponesa.

A Reforma permitiu aos príncipes alemães se apoderarem dos bens patrimoniais da Igreja. Outros estenderam essa posse ao domínio espiritual.

Assim, até a consciência religiosa dos súditos ficava submetida aos príncipes. Afinal, o movimento de Lutero se encaixava nos interesses dos governantes, ou seja, a submissão da Igreja ao poder político. A centralização do poder só se completaria com os governantes controlando, também, a hierarquia eclesiástica.

 A Igreja luterana adquiriu características nacionais. O próprio Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, e o latim foi substituído pelo alemão na celebração do culto, estimulando o interesse do povo. O luteranismo manteve a idéia da presença espiritual de Cristo na eucaristia (consubstanciação), mas rejeitou a transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo). Outras mudanças estabelecidas pela Reforma luterana foram:

    a) Salvação da alma apenas pela fé; livre leitura e interpretação da Bíblia.

    b) Conservação apenas do batismo e da eucaristia.

    c)  Aboliçãodocelibatoclerical.

    d)  Rejeição da hierarquia eclesiástica católica e da autoridade papal.

    e)  Rejeição do culto dos santos e da adoração das imagens.
O Imperador ainda tentou controlar a crise, convocando uma assembléia (Dieta de Spira), em 1529. O Imperador respeitaria o luteranismo onde ele já havia sido implantado. As demais regiões do império continuariam católicas. A resposta de muitos príncipes valeu a eles o nome de protestantes. Os príncipes protestantes formaram a Liga de Smalkalde para combater Carlos V. A guerra durou quase vinte anos. No final, as partes concordaram em assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Carlos V abdicou ao trono imperial e seu sucessor, Fernando I, convocou a Dieta de Augsburgo, em 1559, em que determinou que cada príncipe decidiria a religião que queria adotar. Mas a religião do príncipe deveria ser obrigatoriamente seguida pela população. Portanto, não havia tolerância religiosa. Os soberanos impunham ao povo a sua religião.

A Reforma na Suíça: o calvinismo
Na Suíça, a Reforma foi bem mais radical. Ulrich Zwinglio foi o introdutor das idéias da Reforma na região. Apoiado no humanismo de Erasmo de Roterdã, combateu todos os sacramentos e a própria hierarquia clerical. Suas idéias se propagaram por vários cantões (províncias) suíços, mas os católicos reagiram eclodindo a guerra civil, na qual morreu Zwinglio, em 1531.
    
A obra reformista teve prosseguimento com o teólogo francês Jean Calvino que criticava duramente a ação da Igreja na França. Perseguido, refugiou-se em Genebra, na Suíça, onde conquistou rapidamente o poder e pôs em prática suas idéias. Estabeleceu uma verdadeira ditadura teocrática, com os princípios religiosos confundindo-se com a administração pública. Era até mesmo favorável à pena de morte para quem não fosse adepto de sua religião. Uma das mais famosas vítimas foi o médico espanhol Miguel de Servet que, tendo escapado da Inquisição católica, foi julgado, condenado e queimado vivo em Genebra.
O calvinismo pregava a predestinação e reforçava a rigidez doutrinária e moral. Do catolicismo conservou apenas o batismo e a eucaristia. A salvação se dava pela fé, que é outorgada por Deus às pessoas. O culto foi extremamente simplificado. Suas idéias se difundiram pela França, Inglaterra, Escócia e Holanda.
Os calvinistas franceses, denominados huguenotes, estabele- ceram-se temporariamente no Rio de Janeiro e no Maranhão nos primeiros séculos da colonização.
Os valores éticos do calvinismo foram adotados pela burguesia capitalista. Estimulava a acumulação de capitais e a prática da usura. Segundo o calvinismo, o ser humano deve lutar pelo seu progresso. Assim, o calvinismo valorizava o trabalho, como forma de justificar a obra criadora de Deus. Portanto, das religiões reformadas, o calvinismo era a que mais de ajustava aos interesses da burguesia.

A Reforma na Inglaterra e na Escócia: o anglicanismo e o presbiterianismo
O calvinismo alcançou a Escócia pela obra reformadora de John Knox. Seus seguidores foram chamados de presbiterianos. Na Inglaterra, os calvinistas eram conhecidos como puritanos.
Mas a verdadeira reforma na Inglaterra ocorreu de cima para baixo, por obra do rei Henrique VIII, que se afastou da Igreja por questões políticas, ou seja, pretendia o fortalecimento do poder real. O pretexto foi a não-anulação do seu casamento com Catarina de Aragão. O rei desejava um herdeiro masculino e Catarina já passara da idade fecundável. A Igreja, pressionada pela Espanha, não concordou com a anulação. O rei então rompeu com a Igreja, anulou seu casamento, criou a Igreja Anglicana e casou-se com Ana Bolena, sua amante, já grávida. O filósofo Thomas Morus, por não reconhecer o ato anulatório, foi preso, julgado e condenado por crime de traição ao rei. Foi decapitado, mas manteve-se fiel à Igreja, apesar de todas as suas críticas.

Henrique VIII pretendia construir um Estado nacional absolutista, livre da influência papal e dos impostos cobrados pela Igreja. Apoderou-se dos seus bens, fechou os conventos e editou o Ato de Supremacia, em 1534, pelo qual se nomeava chefe da Igreja na Inglaterra. Assim, era um catolicismo sem o papa. Foram adotados o divórcio, a salvação pela fé, a celebração da liturgia em inglês e o fim do celibato clerical. A nova religião, imposta pela força, desencadeou muitas perseguições. Os filhos de Henrique VIII tentaram impor sua autoridade ao povo: Eduardo VI, o calvinismo; Maria I, o catolicismo; mas foi Elisabeth I quem consolidou o anglicanismo e o poder do Estado sobre a Igreja.

A Reforma católica ou Contra-Reforma
Os avanços do protestantismo ameaçavam seriamente a supremacia da Igreja Católica. Com exceção de Portugal e Espanha, todo o resto da Europa ocidental conhecia movimentos reformistas, o que forçou a Reforma Católica, também conhecida como Contra-Reforma. A Igreja não só se armou contra o protestantismo, como também reformou-se internamente.
O Concílio de Trento iniciou a Reforma Católica. De 1544 a 1563, com intervalos, os conciliares discutiram as medidas a serem adotadas. Decidiram manter o monopólio do clero na interpretação dos dogmas, reforçar a autoridade papal e a disciplina eclesiástica. Outras medidas foram:

        a)  Formação obrigatória e ordenação dos padres em seminários.

        b)  Confirmação do celibato clerical.

        c)  Proibiçãodavendadeindulgênciaserelíquias.

        d)  Manutenção do direito canônico.

        e)  Edição oficial da Bíblia e do catecismo.
O espanhol Inácio de Loiola fundou a Companhia de Jesus, em 1534, ordem religiosa com características militares, exigindo dos seus membros completa obediência. Dirigida contra o espírito de independência do humanismo, combateu a razão com suas próprias armas e organizou sua ação a partir do ensino. Os jesuítas foram bem sucedidos em regiões da Alemanha, Polônia e Suíça. Colaboraram na restauração da disciplina clerical, devolvendo-lhe a pureza. Lutaram pela supremacia da autoridade papal. Participaram ativamente das colonizações portuguesa e espanhola. Desembarcaram na Ásia e na África para difundir o catolicismo. No Brasil, os jesuítas destacaram- se por sua ação catequética.
O Concílio de Trento decidiu pelo fortalecimento dos tribunais de inquisição para combater o protestantismo. Os dogmas católicos foram defendidos pela política do terror e da delação dos suspeitos de heresia. Em 1564, o papa Paulo IV, antigo grande inquisidor, investiu até contra as obras científicas que contrariassem os princípios e dogmas católicos. Foi criada a Congregação do índex, um órgão com a função de elaborar a “relação dos livros proibidos”, ou seja os livros que os católicos não poderiam ler. A Contra-reforma tomava, assim, aspectos de uma verdadeira contra-renascença. Muitos livros e suspeitos de heresia foram condenados à fogueira.

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