Relato Sobre Revolta dos Índios em Pernambuco

"Capítulo II. [...] Em 28 de Janeiro enxergamos uma terra, parte de um cabo chamado Santo Agostinho. A oito milhas de lá, chegamos a um porto denominado Pernambuco contavam-se 88 dias que tínhamos estado no mar sem ter avistado a terra. Ali os portugueses tinham estabelecido uma colônia chamada Marim (Olinda). O comandante desta colônia foi chamado Arto Koslio (Duarte Coelho) a quem entregamos os prisioneiros e ali descarregamos algumas mercadorias que lá ficaram. Terminamos os nossos negócios neste porto, desejando seguir viagem, mas esperando cargas.Capítulo III. Aconteceu que os selvagens do lugar se tinham revoltado contra os portugueses, o que nunca antes tinham feito, mas que fizeram agora por terem sido escravizados. Por isso o comandante nos pediu pelo amor de Deus que ocupássemos o lugar chamado Iguaraçu a cinco milhas de distância do porto de Marim onde estávamos ancorados e de que os selvagens se queriam apoderar. Os habitantes da colônia de Marim não podiam vir em auxílio deles, porque suspeitavam que os selvagens os fossem atacar. Fomos, pois, em auxílio da gente de Iguaraçu com quarenta homens do nosso navio, e para lá nos dirigimos numa embarcação pequena. A colônia está situada num braço do mar que avança duas léguas pela terra dentro. Haveria uns 90 cristãos para a defesa. Com eles estavam mais uns 30 mouros (negros?) e escravos brasileiros que pertenciam aos habitantes. Os selvagens que nos sitiavam foram calculados em oito mil. Nós tínhamos em redor da praça apenas uma estacada de madeira.Capítulo IV. Ao redor do lugar onde estávamos sitiados havia uma mata, na qual tinham construído dois redutos de árvores grossas para onde se retiravam de noite; e, quando os atacávamos, para lá voltavam. Ao pé destes redutos tinham feito buracos no chão em que ficavam durante o dia e de onde saíam para guerrear conosco. Quando atirávamos sobre eles, caíam todos, pensando assim evitar o tiro. Estávamos tão sitiados por eles que não podíamos sair nem entrar. Chegavam perto da colônia, atiravam flechas aos ares, supondo que nos alcançariam na queda. Atiravam também flechas em que amarravam algodão com cera a que pegavam fogo para incendiar os tectos das casas, e combinavam já o modo de nos devorar quando nos tivessem apanhado.
Como percebemos que havíamos de sentir falta de mantimentos, saímos em dois barcos para um lugar chamado Tamaracá (Itamaracá) para os trazer. Os selvagens, porém, tinham atravessado grandes árvores no rio e havia muitos deles postados nas duas margens para nos impedirem a passagem. Forçamos, porém, a barreira e ao meio-dia, mais ou menos, voltamos sãos e salvos. Os selvagens nada puderam fazer-nos nas embarcações; arremessavam, porém, grande porção de lenha da margem para os botes e queriam incendiá-los. Juntamente atiravam uma espécie de pimenta que lá cresce, com o fim de nos obrigarem a abandonar as embarcações. Porém, não foram bem sucedidos e enquanto isto durara, cresceu a maré e voltamos. Fomos a Tamaracá onde os habitantes nos deram as vitualhas. Com estas regressamos ao lugar sitiado. Nos mesmos sítios em que anteriormente haviam posto obstáculos, tinham de novo derrubado árvores, como anteriormente. Acima do nível das águas e na margem haviam cortado duas árvores, de modo a aguentarem-se ainda de pé. Nas copas amarraram umas coisas chamadas cipó que crescem como lúpulo, porém mais grossas. Tinham amarrado as pontas em estacadas e queriam puxá-las para fazer cair as árvores sobre as nossas cabeças. Seguimos para lá, forçamos a passagem. A primeira das árvores tombou para o lado da estacada e a outra caiu na água atrás do nosso bote.
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