Religião Egípcia

Religião Egípcia

Religião Egípcia


É provável que em nenhuma outra civilização as crenças religiosas tenham determinado de forma tão nítida a organização social como no antigo Egito. Para os egípcios, tidos por Heródoto de os mais religiosos dos homens, a vida cotidiana era regida pelos preceitos de sua fé: o conhecimento científico, os textos literários e os majestosos templos enfatizavam a excelsa eternidade dos deuses diante da fragilidade humana.


Características gerais e evolução. A religião egípcia desenvolveu-se ao longo de cerca de três mil anos, durante os quais só de maneira tardia e tangencial recebeu influências alheias. Seu regime teocrático unia na mesma pessoa o representante dos deuses e o chefe político. Essas circunstâncias bastam para explicar, ao mesmo tempo, por que as transformações advindas com o decorrer do tempo não afetaram as concepções religiosas básicas e a tendência sincretista a unir em harmonia diferentes divindades regionais.


Na concepção dos egípcios, o mundo surgira de um caos oceânico primigênio - reflexo talvez da influência do rio Nilo em suas vidas - que ameaçava voltar a tragá-lo. Eram salvos da catástrofe pela vontade dos deuses, único elemento a garantir o equilíbrio. Assim, a religião tinha caráter marcadamente ritual, o que assegurava para seus praticantes o favor divino e a sobrevivência depois da morte.


Antigo e médio impérios. Antes da unificação do país, por volta de 3100 a.C., existiam no vale do Nilo numerosos cultos. Os deuses locais eram representados, em geral, por figuras de animais, ou combinavam formas antropomórficas e zoomórficas. Os faraós centralizavam todo o poder e eram tidos como encarnação de Hórus, o grande deus, filho de Osíris, senhor dos mortos, e da deusa Ísis. A missão dos reis divinizados era manter a ordem estabelecida pelos deuses, o maat, cujos preceitos fundamentais eram a verdade, a justiça e a paz social.


Os cultos locais, no entanto, não foram suprimidos. Na mitologia de Mênfis, por exemplo, Ptah era o deus criador; na de Heliópolis esse papel era atribuído a Atum, sincretizado com Rá, o deus-Sol. As duas divindades foram associadas e cada uma ganhou traços da outra. Essa proliferação de divindades não parecia surpreendente aos egípcios. Muitos historiadores opinam que eles as consideravam como diversas manifestações ou aspectos da divindade primordial. A predominância de uma ou outra, pois, dependia fundamentalmente de questões políticas. Durante o Médio Império, foi Osíris a figura principal do panteão.


Novo Império. Os reis tebanos da XVIII dinastia, iniciada em 1567 a.C., impuseram seu deus Amon a todo o Egito e identificaram-no com o antigo deus solar Rá. Assim, a divindade passou a ser cultuada como Amon-Rá, "o único criador da vida". Em meados do século XIV a.C., Amenhotep IV adotou o nome de Akenaton, trocou Amon por Aton (o disco solar) e proscreveu as divindades locais. Depois de sua morte, a casta sacerdotal restabeleceu Amon e voltou ao politeísmo oficial.


Após a conquista do Egito por Alexandre o Grande no final do século IV a.C. e da instauração da dinastia ptolomaica, a religião egípcia adotou algumas formas gregas. As civilizações helenística e romana também assimilaram cultos de origem egípcia, como o de Osíris, que, unido a elementos neoplatônicos e gnósticos, foi uma das fontes da difusão das religiões de mistérios no Mediterrâneo.


Ritos funerários. As pirâmides, os hieróglifos com fórmulas mágicas, os corpos mumificados e, sobretudo, o Livro dos mortos -- que ensinava como enfrentar o julgamento de Osíris e, desde a XVIII dinastia, era enterrado com aqueles que podiam adquiri-lo -- dão testemunho da preocupação central da religião egípcia. Nas instruções formuladas pelo rei Merikara lê-se: "O importante é que o homem sobrevive depois da morte e seus feitos o acompanham até o final. A existência ali embaixo é para toda a eternidade."


Durante o Antigo Império, só o rei era iniciado para a vida futura. Ao morrer, convertia-se em Osíris e seu filho passava a encarnar o novo Hórus, como administrador da ordem estabelecida pelos deuses. Posteriormente, os ritos funerais foram estendidos aos dignitários reais, enterrados perto do faraó, e a outras pessoas, cujos restos eram sepultados em covas.


A vida depois da morte era considerada semelhante à terrena; por esse motivo, enterravam-se com o defunto elementos de uso cotidiano, inclusive alimentos, e nas tumbas eram feitas pinturas que documentavam seus costumes. Diante da possibilidade de que sobreviessem os mesmos perigos que espreitavam a existência presente, provia-se o falecido dos amuletos e conjuros que o haviam protegido em vida.

Religião Egípcia


Templos e casta sacerdotal. Considerava-se que os templos eram morada dos deuses e neles se conservavam suas estátuas. Só o rei podia apresentar oferendas ao deus principal, mas delegava essa função aos sacerdotes que cuidavam do templo. Estes, a princípio, eram funcionários que exerciam também outras tarefas administrativas. Provenientes de diferentes regiões, os sacerdotes impuseram aos poucos suas interpretações da mitologia e favoreceram o culto de seus próprios deuses.


As doações dos reis enriqueceram os principais templos com tesouros e terras, que se tornaram propriedades da divindade e se converteram em centros culturais, econômicos e políticos. Era freqüente que em um templo se venerasse um deus, sua esposa e seu filho -- grupo de deidades concebido à semelhança da família egípcia -- e , às vezes, algum deus "hóspede", próprio de outra região. Os rituais eram múltiplos e observados pontualmente. Diariamente, aos primeiros raios de sol, abriam-se as portas dos templos e entoavam-se cânticos e hinos.


No que se refere às ideias cosmogônicas, os templos representavam, em pequena escala, a concepção egípcia do mundo. O santuário situava-se em geral no lugar mais alto do templo, como alusão ao monte primordial a partir do qual fora criado todo o universo; os tetos eram decorados com estrelas e as colunas, com motivos de lotos ou de plantas de papiro, como símbolo dos pântanos do caos primordial. Os rituais litúrgicos reproduziam a criação para atrair o rejuvenescimento sobre a cidade.


Religiosidade popular. Por falta de uma doutrina teológica elaborada e acessível, a religiosidade popular se caracterizava pela preocupação com o além, por temores e superstições sobre a vida presente e a futura e por uma moral orientada para enfrentar o julgamento que sobreviria à morte.


O povo não entrava nos templos, reservados aos sacerdotes previamente purificados; não obstante, abriam-se cavidades em suas paredes para que os súditos acorressem a apresentar suas oferendas e súplicas. Nas solenidades, as estátuas dos deuses saíam em procissão e podiam ser vistas por todos.


Num lugar de destaque nas casas, eram veneradas pequenas estátuas dos antepassados ou de alguma divindade menor. A elas eram acrescentados amuletos e conjuros contra toda sorte de perigos, dos quais permaneceram abundantes restos arqueológicos.


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