Guerra do Líbano (1975-1991)

Guerra do Líbano (1975-1991)

Guerra do Líbano (1975-1991)Guerra civil que opõe os cristãos maronitas, de um lado, e a coalizão de drusos e muçulmanos, de outro, entre 1975 e 1991. O conflito tem reflexos na situação do Líbano até hoje. Em 1948, o Líbano recebe 170 mil refugiados palestinos, depois da derrota dos Exércitos árabes que tentaram impedir a criação do Estado de Israel. A Constituição de 1926 estabelecia, por um acordo tácito, que o presidente seria sempre um cristão maronita e o primeiro-ministro, um muçulmano sunita. À medida que cresce a população muçulmana no país, o pacto estabelecido impede que esse grupo ocupe os cargos mais importantes do governo.

Uma guerra civil eclode em 1958, com insurreições muçulmanas contra o presidente maronita Camille Chamoun (pró-norte-americano), sob inspiração dos regimes nacionalistas pró-soviéticos da Síria e do Egito. Tropas norte-americanas desembarcam no país, provocando imediato protesto soviético. A crise é contornada, depois de negociações, com a substituição de Chamoun e a retirada norte-americana.

Após a saída das tropas dos Estados Unidos (EUA), é encontrada uma solução política, a pedido da ONU (Organização das Nações Unidas). Organiza-se um governo composto de líderes dos vários grupos religiosos do país. O frágil equilíbrio de poder, no entanto, rompe-se na década de 70. Uma nova derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e o massacre dos palestinos na Jordânia durante o Setembro Negro, em 1970, elevam para mais de 300 mil o número de refugiados palestinos no Líbano. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) estabelece seu quartel-general em Beirute e começa a atacar Israel a partir da fronteira libanesa, agindo com independência no interior do país. A OLP é apoiada pelos setores reformistas e pan-arabistas (interessados em reunir todos os países de língua árabe), sendo hostilizada pelos conservadores, que a consideram uma ameaça à soberania do país e responsável pelas represálias israelenses.

Início da guerra
– Os cristãos maronitas acusam o governo de ineficácia e integram-se às milícias do Partido Falangista, de extrema-direita, que defende a expulsão imediata dos palestinos e a manutenção do poder nas mãos dos cristãos. Milhares de jovens drusos, sunitas e xiitas alistam-se nas forças de suas respectivas organizações políticas. Em abril de 1975, as tensões explodem numa guerra civil em larga escala, que opõe a coalizão de esquerda druso-muçulmana, que tem o apoio da OLP, e a aliança maronita de direita. O Exército libanês, comandado por oficiais cristãos, fragmenta-se em facções rivais e o governo praticamente deixa de funcionar. A guerra civil atinge o país com uma violência sem precedentes. Em 1976, diante da iminente vitória do bloco esquerdista, a Síria rompe sua aliança com os muçulmanos e invade o país, apoiando inicialmente as milícias maronitas. No decorrer do conflito, os sírios mudam de aliados várias vezes, passando a dominar cada vez mais o território e as instituições libanesas. A presença de tropas sírias provoca protestos dos árabes e há deslocamento de tropas de França, EUA e União Soviética (URSS) para a região.

O prosseguimento da luta leva à desagregação da sociedade libanesa. Milícias armadas fracionam o país em enclaves étnico-religiosos rivais. Em 1976, realiza-se o Encontro de Riad, que obriga a Síria a reconciliar-se com a OLP e renunciar à intervenção no Líbano. Uma comissão formada por Egito, Arábia Saudita, Síria e Kuwait é encarregada de supervisionar a paz na região. Em 1977, no entanto, o assassinato do líder druso Kamal Jumblatt desencadeia nova onda de violência e os combates são retomados. A situação se agrava com a ação de Israel que, na operação Paz na Galileia, realiza incursões militares no território libanês, com o objetivo de expulsar a OLP.

Em junho de 1982, com o apoio das milícias cristãs, Israel invade o Líbano e chega a Beirute. Após dois meses de intensos bombardeios israelenses, é negociada a retirada da OLP da capital libanesa. No ano seguinte, ela deixa o país. Em 16 de setembro, com permissão israelense, milícias cristãs libanesas invadem os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, na parte oeste de Beirute, e massacram a população civil. A ação é uma represália pelo assassinato, dois dias antes, do presidente eleito Bachir Gemayel. O governo libanês pró-israelense é fortemente combatido, com a ajuda da Síria, e Israel retira suas tropas para uma estreita faixa ao longo da fronteira sul do Líbano.

Os EUA enviam suas tropas ao Líbano após os massacres de Sabra e Chatila e se retiram em fevereiro de 1984, após pressão internacional. A saída das tropas norte-americanas e das de Israel, em seguida, enfraquece os cristãos. Os drusos dominam a região do Chuf, área montanhosa ao sul e leste de Beirute, expulsando as comunidades maronitas que ali viviam há séculos. Os falangistas sofrem uma significativa derrota em 1984 e 1985, quando, sob patrocínio sírio, as três principais facções militares libanesas – a milícia drusa (xiita), a milícia Amal (também xiita, pró-Síria) e a Falange (cristã) – assinam, em Damasco, um acordo para o cessar-fogo. O pacto é boicotado pelo Hezbollah (grupo xiita radical apoiado pelo Irã), pela Murabitun (milícia muçulmana sunita) e por setores da comunidade cristã. A violência prossegue, com o seqüestro de vários estrangeiros, o assassinato do primeiro ministro Rashid Karame, em junho de 1987, e sangrentos combates nos subúrbios de Beirute, opondo o Amal e o Hezbollah. Gemayel encerra seu mandato em setembro de 1988, sem conseguir pacificar o país.

Israel cria uma milícia libanesa aliada, o Exército do Sul do Líbano (ESL), e ocorrem 20 invasões aéreas israelenses durante o ano de 1988. Em 1989, uma nova reunião tripartite propõe uma "carta de reconciliação nacional", que é apoiada por EUA, URSS, França, Reino Unido e principais governos árabes. Em 22 de outubro de 1989, a Assembleia Nacional Libanesa, reunida em at Ta’if, na Arábia Saudita, aprova essa carta. Ela determina a participação, em condições de igualdade, de cristãos e muçulmanos no governo e o desarmamento das milícias. O general cristão Michel Aoun rejeita o acordo de at Ta’if e autoproclama-se presidente da República. Os combates terminam em outubro de 1990, quando bombardeios sírios destroem o quartel-general de Aoun e o forçam ao exílio na França. Uma frágil paz, estabelecida sob a proteção síria, é formalizada por um tratado em maio de 1991.

A Síria consolida seu domínio sobre o Líbano, mantendo 35 mil soldados no país. Todas as milícias são desarmadas, menos aquelas que atuam na região do sul libanês. Ali, a tensão continua, com ataques de guerrilheiros do Hezbollah, apoiados pelo Irã, contra o ESL e o norte de Israel. Os israelenses respondem com ataques aéreos às posições da guerrilha e, em 1996, iniciam maciços ataques aéreos e de artilharia que atingem, pela primeira vez desde 1982, os subúrbios de Beirute. Em abril de 1998, o gabinete israelense anuncia a intenção de cumprir a resolução 425 da ONU, que exige sua retirada da faixa de segurança de 15 quilômetros no sul do Líbano.

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