Literatura Anônima

Literatura Anônima

Literatura AnônimaÉ anônima toda a poesia folclórica e popular. Não se conhece nome de autor das grandes epopeias populares da Idade Média, como a que relata as lendas dos Nibelungos. Per Abbat, cujo nome aparece no fim do Cantar de mio Cid, e Turoldo, citado no fim da Chanson de Roland, não são os autores das respectivas obras, mas sim copistas dos manuscritos. Tampouco se conhecem, nas literaturas orientais, os autores dos textos védicos ou de As mil e uma noites e, nas literaturas ocidentais, os de numerosos hinos como Dies irae ou Stabat mater.

O número de obras anônimas, aquelas cujo autor se desconhece, é considerável em todas as literaturas, especialmente as que procedem de tempos muito remotos. Isso se deve ao fato de terem as literaturas mais primitivas um caráter oral e pertencerem culturalmente a toda a comunidade, não se atribuindo importância, por conseguinte, à ideia de uma autoria individual.

Nas literaturas modernas, a partir do século XVI, o anonimato visa ao objetivo de não tornar conhecido o nome do autor, com a intenção deliberada de ocultar a origem da obra. O mesmo objetivo pode ser alcançado pela atribuição da obra a um autor de nome livremente inventado, o que é o caso do pseudônimo.

Um autor prefere o anonimato ou usa pseudônimo quando, principiante, ainda não tem coragem de se expor ao julgamento do público e da crítica, ou quando inicia nova tendência ou novo gênero, de cujo sucesso não está certo. Foi esse o caso de Waverley, publicado anonimamente por Sir Walter Scott, em 1814, como lançamento do gênero, então novo, do romance histórico.

Outro caso, mais frequente, de anonimato em literatura é a pressão da censura, da qual o autor espera medidas prejudiciais. Esse motivo de anonimato ocorre a partir da Reforma e da Contra-Reforma, no tempo das monarquias absolutas e até à época moderna.

Um dos primeiros e mais famosos casos de anonimato por medo de censura são as Epistolae obscurorum virorum (Cartas de homens obscuros), publicadas entre 1515 e 1517, para apoiar Johannes Reuchlin em sua luta contra os dominicanos de Colônia. O autor principal dessa sátira foi Crotus Rubianus, pseudônimo de Johannes Jaeger. Outro famoso caso análogo são as Letters of Junius (Cartas de Junius), que, publicadas entre 1769 e 1772 no jornal londrino The Public Advertiser, atacavam fortemente as tendências absolutistas do rei Jorge III. Tais cartas são uma obra-prima de jornalismo político e um monumento da prosa inglesa em sua fase classicista, do século XVIII.

Anonimato na literatura espanhola. Caso especial é o da literatura espanhola: são anônimas justamente algumas de suas obras mais importantes ou características, isto é, obras em que se manifestam com força invulgar certos traços específicos da mentalidade espanhola, como a frugalidade imposta pela miséria econômica, a paixão religiosa ou a resignação melancólico-estoica.

Famosa obra anônima é o Lazarillo de Tormes, primeiro exemplo de romance picaresco, caracterizado por Benedetto Croce como espécie de epopeia da fome. O soneto "A Cristo crucificado", datado de 1628, já foi atribuído a santa Teresa e a outros santos, mas seu autor mais provável é o monge agostiniano Miguel de Guevara, que morreu no México em 1640. Já a Epístola moral a Fábio, grande elegia sobre o desengano da vida, foi creditada a um "anônimo sevilhano do século XVI". Mas tal hipótese foi depois rejeitada, por ser inconfundível o espírito contra-reformista dos versos. A obra foi a seguir atribuída a Francisco de Rioja y Rodríguez, Francisco de Medrano, Rodrigo Caro e outros, porém a autoria mais provável é a do capitão Andrés Fernández de Andrada, de quem, aliás, pouco se sabe.

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