Metafísica | História da Metafísica

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#Metafísica | História da Metafísica

Metafísica é a divisão da filosofia que se ocupa de tudo o que transcende o mundo físico ou natural. Desde o próprio sistema aristotélico, no entanto, o objeto da metafísica revela, pelo menos, duas vertentes: a que trata do ser em si e suas determinações do ponto de vista formal, e que recebeu o nome de "ontologia", e a que logo se voltou para "algo" superior e absoluto, caminho da teologia. Cultivada com especial interesse na Idade Média, e particularmente pela escolástica, a metafísica sofreu duros golpes a partir do empirismo inglês do século XVII, embora fosse criticamente discutida por Kant.

Para o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, a experiência metafísica é algo que se encontra além do reino da linguagem, já que haveria coisas que podem ser ditas e coisas que só podem ser mostradas. Muitos séculos antes, Aristóteles observara que existe uma ciência "que estuda o ser enquanto ser e aquilo que lhe é próprio"; trata dos "primeiros princípios e das causas mais elevadas", e é a "filosofia primeira", sinônimo, mais tarde, da palavra metafísica.

História da MetafísicaA origem da palavra metafísica deve-se a Andrônico de Rodes, um dos primeiros organizadores das obras de Aristóteles. Em 70 a.C., ao ordenar os tratados aristotélicos, Andrônico colocou uma série de escritos sem título depois dos incluídos na Física, motivo pelo qual receberam o nome de Metafísica, ou seja, "os que estão por trás da Física". Essa designação, cujo primeiro sentido foi apenas classificatório, adquiriu depois significado mais profundo, pois aqueles textos tratavam da "filosofia primeira", isto é, de um saber sobre o que fica além do ser físico enquanto tal.

Como saber que pretende penetrar no que se encontra além do ser físico, o pensamento metafísico surge no século VI a.C., na obra do filósofo grego Anaximandro, discípulo de Tales de Mileto. Ao buscar o princípio gerador (arké) do mundo não nos elementos perceptíveis mas no infinito invisível (apeirón), Anaximandro teria sido o primeiro a realizar a abstração do sensível em benefício do puramente conceitual.

Essa área da filosofia ganhou impulso com Parmênides, para quem o ser ou o ente (de "ente", em grego ontos, surgiu o termo ontologia) é tudo o que existe. Além disso, antecipando-se a Descartes em mais de vinte séculos, Parmênides sustentava que pensar e ser eram a mesma coisa, "porque não encontrarás o pensar fora do ente no qual se expressa".

No século IV a.C., Platão tentou harmonizar a ideia do "devir" (tudo muda) de Heráclito com a ideia da imobilidade do ser, de Parmênides. A partir daí elaborou sua teoria das ideias, segundo a qual a realidade corresponde a formas abstratas (ideias) que carecem de qualidades sensíveis e só são apreensíveis pelo conhecimento habilitado. O perceptível, aquilo que nossos sentidos conseguem captar, é cópia imperfeita e perecível da ideia eterna.

Aristóteles, discípulo de Platão, se rebelou contra a metafísica do mestre. A explicação segundo a qual as ideias representam as coisas e estas são como que cópias daquelas não passa de uma metáfora poética. Para o realista que foi Aristóteles, o ser tem, num sentido originário e autêntico, dois elementos constituintes: a matéria como substrato e a forma determinante. O composto indissolúvel formado por ambos integra a substância que, em sentido mais apropriado, é a essencialidade real e independente, o ser.

O movimento, para Aristóteles, é o passo que leva da possibilidade à realidade. Na análise do movimento existe sempre um fator que pode mover-se e um objeto imóvel. Portanto, se não se quiser postular um processo de regressão infinita, deve existir um motor último que não seja movido, isto é, um motor imóvel e tão eterno como o próprio movimento, cuja essência tem de ser puro ato (enérgeia) e completamente imaterial, ou seja, Deus. A metafísica aristotélica é, por conseguinte, uma síntese da teoria platônica das ideias, fundamentalmente modificada, e de uma concepção empírica do mundo.

É essa a parte mais importante da doutrina aristotélica, por investigar os princípios de tudo o que existe, indispensáveis a todas as ciências, e superiores, inacessíveis à busca tão-somente especulativa. Toda outra filosofia ou conhecimento, como teria de tomá-la por base, deveria receber o nome de filosofia segunda. Por isso os primeiros princípios, não suscetíveis de demonstração, e a que se deu o nome de axiomas, eram considerados proposições intuitivamente evidentes ou autênticas a priori.

Os escolásticos, na Idade Média, ocuparam-se amplamente da metafísica de acordo com o pensamento aristotélico, embora tenham distinguido a metafísica, como estudo do ser enquanto ser, da teologia, enquanto estudo de Deus, esta só conhecida quando e enquanto Deus se dignasse revelá-la. Para os escolásticos, a metafísica, portanto, acabou por se converter em "serva da teologia".

Nos tempos modernos, e sobretudo a partir do século XVII, iniciou-se uma longa revisão crítica da metafísica. Alguns argumentaram que ela não era, nem   jamais poderia ser, uma ciência. Descartes considerou-a, como Aristóteles, a filosofia primeira, embora só fosse possível como saber ao se apoiar em  uma verdade indubitável, conceito que ele identificou com o "eu" pensante. Para os empiristas ingleses, de Locke a Hume, a experiência sensorial era a única fonte do conhecimento e, desse modo, não existia metafísica, uma vez que não havia objeto de que essa pretensa ciência se pudesse ocupar.

Kant, sob a influência do empirismo e ceticismo de Hume, submeteu a metafísica a uma crítica sistemática, baseada nas limitações da razão. Negou a metafísica até então aceita ou discutida, e tentou lançar as bases de outra, fundada na relação entre a pura racionalidade e a moral (diante de um absoluto, ou de Deus). Para o positivista francês Auguste Comte, na "lei dos três estados" do conhecimento humano (teológico ou fictício; metafísico ou abstrato; e científico ou positivo), a metafísica estava fadada a não passar de uma preocupação transitória, logo tornada "sem sentido".

Do final do século XIX a meados do século XX, a polêmica fez-se mais inflamada e a metafísica foi alvo de ataques sucessivos. Com o materialismo vitalista de Nietzsche, o determinismo histórico de Hegel, o existencialismo - de Heidegger a Sartre -,  o pragmatismo, o marxismo e o positivismo lógico, a metafísica foi vista cada vez mais como matéria do conhecimento mágico ou teológico.

Na teoria da práxis marxista, fundada na dialética hegeliana, a unidade e a imobilidade são aparências, enquanto a contradição e a mobilidade são a essência do real. Nada existe isoladamente, tudo se liga a tudo em universal interdependência, e o verdadeiro é a totalidade: nada é definitivo ou eterno, tudo é processo ininterrupto de vir-a-ser e perecer. Os positivistas lógicos, ao empregarem a matemática, a análise da linguagem e outros meios objetivos como instrumentos teóricos, apontaram a metafísica como consequência das ilusões em que a própria linguagem faz o homem cair. Para tal corrente, as proposições metafísicas não são verdadeiras ou falsas: simplesmente carecem de significação.

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